Geral

Vidas dedicadas a Deus

Neste domingo, dia 9, os freis Raimundo Costella, Reynaldo Pasinatto, Edson Cecchin e André Audibert serão jubilados durante a Festa de Nossa Senhora de Lourdes

São 86 anos de vida e 60 de ordenação religiosa, sendo 23 desses em Flores. Para comemorar a data tão especial de Raimundo Costella, todos os freis residentes no município – Reynaldo Pasinatto, Edson Cecchin e André Audibert – serão jubilados neste domingo, dia 9, durante a Festa de Nossa Senhora de Lourdes. Pasinatto comemorará 56 anos de ordenação; Cecchin, 10 anos; e Audibert seis anos. A missa de homenagens ocorre às 10h, na Igreja Matriz e o almoço festivo às 12h, no salão paroquial. O lema escolhido para a festa deste ano é ‘Com Nossa Senhora de Lourdes e a comunidade, celebramos a vocação religiosa e sacerdotal’. “Eu convido todos a participar e celebrar esses 60 anos, porque nós não nascemos sozinhos, nós não vivemos sozinhos e, tão pouco, morremos sozinhos. Então, precisamos agradecer, porque eu não fiz essa caminhada sozinho”, pontua Costella.

Os quatro freis possuem uma longa trajetória de vida. Para comemorar o jubileu, conheça um pouco da trajetória de vida deles, que se dedicam à religiosidade e ao trabalho de amor junto às 34 comunidades da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes.

Raimundo Costella

“Sempre me senti muito realizado como sacerdote”

Com 86 anos de vida e 60 anos de padre, Raimundo Costella vive em Flores há 20 anos. Nascido em 1º de maio de 1933, no município de Tapejara – na época distrito de Passo Fundo –, é filho de David Costella e Maria Rovani. Desta união nasceram 12 filhos: “quatro padres, quatro freiras e quatro casados”.

Com uma memória invejável, Costella lembra de todas as datas e fatos da sua vida religiosa e também como descobriu que gostaria de ingressar nesta carreira. “Quando eu era jovem, missionários capuchinhos foram pregar as missões lá na minha capela e eu gostei”, recorda. Aos 12 anos, Costella deixou a casa da família e foi para o seminário em Veranópolis. “Foram dois dias de estrada. Meio dia de carroça, de Tapejara a Sananduva. Meio dia de cavalo, até chegar em Nova Prata. E o segundo dia de ônibus até Veranópolis”, conta. Na localidade permaneceu por quatro anos.

Em 1949, aos 16 anos, mudou-se para o município de Ipê, onde permaneceu por dois anos. Residiu um ano em Flores, onde fez o noviciado e conviveu com Frei Salvador. “Eu o conheci muito e, por isso, posso afirmar que ele é santo”, diz ele, que fez a profissão religiosa em 25 de fevereiro de 1953.

O frei percorreu diversas cidades. Passou por Ijuí, Marau, Garibaldi e Porto Alegre. Em Porto Alegre foi ordenado sacerdote, no dia 12 de dezembro de 1959. A primeira missa solene rezada pelo frei foi no dia de Natal de 1959, na sua cidade natal.

Após a estada em Porto Alegre, foi enviado a Veranópolis, em 1965, onde ficou por 10 anos e dedicou-se à educação. Costella, com formação em Filosofia, era professor do seminário e orientador espiritual. “Como professor eu gostava muito de biologia, do latim, e também dava aulas de inglês”, comenta. O sacerdote diz que hoje em dia não pratica mais outras línguas, mas que falava fluentemente. Conforme o frei, todos os seus estudos para padre foram em latim. “Todas as missas também eram rezadas em latim. Somente depois de seis anos que virei padre começaram a serem rezadas em português”, conta.

Retornou a Ipê com o objetivo de ajudar no seminário e também na paróquia como vigário. Lá, se passaram mais 10 anos. Em 1985, Flores foi novamente o seu destino. Por três anos, atuou como vigário paroquial. O sacerdote ainda passou por Vila Flores e, novamente, Ipê.

Em 25 de janeiro de 2000 voltou para o município, permanecendo até os dias atuais. “Agora espero que a caminhada termine por aqui. Mas temos um voto de obediência, se me mandarem para outro lugar, preciso ir”, revela.

Em 9 de fevereiro de 2003, durante a comemoração da festa em honra a Nossa Senhora de Lourdes, Costella celebrou o jubileu de ouro de vida consagrada.

Sobre seus 60 anos de padre, Costella diz ser uma vitória. “É uma conquista muito grande, mas foi tudo ao natural. Sempre me senti muito realizado como sacerdote e procurei fazer muito bem minhas obrigações”, declara.

André Audibert

“Quero resgatar a música na igreja”

O mais novo padre de Flores, André Audibert, nasceu em 3 de julho de 1979, em Farroupilha. Filho de Alcir e Irma Audibert, é o único filho que seguiu a vida religiosa – André possui mais um irmão, Alexandre.

Quando jovem, estudou no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Farroupilha, e anualmente participava de uma semana vocacional, onde freis e professores trabalhavam a religião e também e a prospecção para o futuro. Foi aí que, em um questionário, André assinalou que gostaria de ser padre. “Aos 13 anos um padre visitou minha casa fazendo o convite para ingressar no seminário. Mas ainda tinha muitas dúvidas, não sabia direito como funcionava. Então, fiquei quatro anos participando de encontros que trabalhavam muito a questão vocacional”, relembra. Em 1997, Audibert ingressou no seminário na cidade de Ipê. Já em 1999, foi a Ijuí, onde permaneceu mais um ano. Estudou no seminário de Caxias do Sul e fez o noviciado em Pelotas.

O frei adora música e, durante seu período de formação, foi professor. Cursou Filosofia em Santa Maria e concluiu seu estágio pastoral em Lagoa Vermelha. Em 2008 iniciou o curso de Teologia – e também de Música – na cidade de Porto Alegre. No ano seguinte realizou seus votos perpétuos e tornou-se frei. No ano de 2013 foi transferido para Ibiraiaras. Em outubro 2014, ordenou-se padre.

Em 2015 tornou-se pároco de Ibiraiaras e, em 2019, chegou a Flores. “Foram três grandes motivos que eu adorei vir para cá: voltar para a região onde culturalmente é muito parecida com Farroupilha, que é minha cidade natal; morar em uma cidade conhecida por ser muito acolhedora, cheia de hospitalidade e respeito; e residir em um lugar onde já conhecia os três freis e estava bastante familiarizado”, conta. Costella foi professor de Audibert. Pasinatto trabalhou em uma mesma paróquia quando o jovem ainda estudava. E Cecchin foi colega de estudos.

Aqui, ele é vigário pastoral, o braço direito de todos os freis. Adora trabalhar a música dentro da igreja. “É um desafio muito grande. Quero resgatar a música na igreja”. Nesses 23 anos de caminhada religiosa e seis anos de ordenação, o frei diz que o futuro a Deus pertence. “Até uma nova ordem permanecerei aqui convivendo ao máximo com as pessoas e com a comunidade”, ressalta.

Edson Gilberto Cecchin

“Aqui faz acontecer”

O atual pároco, frei Edson Gilberto Cecchin, nasceu em 12 de setembro de 1972, em Lagoa Vermelha. Mais novo de sete irmãos, é o único da família que seguiu a carreira religiosa. Desde adolescente, foi muito envolvido com a igreja e com a comunidade. Foi catequista, participava das liturgias e de grupo de jovens. Mas só com 24 anos, em 1996, Edson ingressou no seminário, na cidade de Ijuí. “Fui para o seminário bem maduro e resolvido. E sempre contei com o apoio da minha família nesta escolha”, conta Cecchin.

Após Ijuí, estudou no seminário de Caxias do Sul por um ano e fez o noviciado em Pelotas.  Em seguida, mudou-se para Ipê. Cursou Filosofia na Universidade de Caxias do Sul e Teologia na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Estef) de Porto Alegre. Atuou por cinco anos como vigário em Canoas, onde também foi diretor dos estudantes de Teologia da Estef. Cecchin atuou por um ano e meio no Serviço de Animação Vocacional, em Caxias do Sul, e integrou por cinco anos a equipe missionária volante dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Em 14 de janeiro de 2018 chegou a Flores com o desafio de administrar a primeira paróquia na vida religiosa. E neste ano, comemora 10 anos de ordenação.

Frei Edson destaca quatro momentos de sua vida: formação, animação, missão e pároco. “A formação é um dos setores mais desafiantes hoje na sociedade. Porque a formação trabalha com o jovem e trabalha com o novo. Já a animação é o contato com os jovens que se sentem chamados para ser frei ou padre, onde visitávamos as famílias e realizávamos o convite. É uma ajuda de decisão espiritual e humana”, destaca. Já nas Missões Populares Capuchinhas, Edson viajou por diversas cidades do Brasil. “Ali percebi que as pessoas têm muita fé, e uma fé verdadeira”, pontua.

Como pároco, Edson diz ser um dos seus maiores desafios. “Aqui são 34 comunidades. Tive o desafio de chegar, conhecer melhor a paróquia, procurar entender a cultura local e definir prioridades pastorais para o desenvolvimento continuado do trabalho”, garante ele, que salienta que os florenses têm muita fé. “Aqui faz acontecer”. Num futuro próximo, o frei quer realizar o mestrado na área de teologia ou música. “Em relação ao tempo de permanência, é uma questão de província. Mas como já é de praxe, no máximo ficamos seis anos no local. Mas esse é um aspecto importante: a renovação é fundamental”, finaliza.

Reynaldo Pasinatto

“Os primeiros dias foram tristes”

Conhecido por celebrar as missas nas Irmãs Clarissas Capuchinhas e também trabalhar junto ao Hospital Nossa Senhora de Fátima, Reynaldo Pasinatto, 84 anos, reside em Flores há quatro anos.

Nascido em Ipê, no dia 8 de maio de 1935, é filho de Davi Pasinatto e Helena Michelon. Da união, nasceram 10 filhos – dois deles seguiram pela vida religiosa.  Pasinatto conta que estudava em uma escola rural quando, durante uma visita da equipe vocacional da Diocese, mostrou interesse em se dedicar a religiosidade. Com 13 anos, em 1948, ingressou no seminário em Veranópolis, onde permaneceu por quatro anos. “Os primeiros dias foram tristes. Eu chorava, tinha saudade da família”, relembra.

Em 1952, frequentou o seminário de Ipê e em 1954 veio a Flores fazer o noviciado – Pasinatto também viveu ao lado de frei Salvador. No ano seguinte, estudou Filosofia na cidade de Ijuí e, em fevereiro de 1960, Teologia, em Porto Alegre.  No dia 28 de julho de 1963 ordenou-se sacerdote no município de Ipê.

Durante sua caminhada pastoral foi designado para as cidades de Belém Novo (por duas vezes), Garibaldi (duas vezes), Ijuí, Rio de Janeiro e Soledade. Em 1978 realizou uma atualização teológica em Medelin, na Colômbia, e, em 1979, foi encaminhado para Porto Alegre. Ali permaneceu por nove anos. 

Em 1989, voltou ao Rio de Janeiro; em 1993 foi para Rondônia; em 1995 para União da Vitória, no Paraná; e em 1996 para Lagoa Vermelha. Passou também por São José do Herval e, em 1999, fez a Romaria à Terra Santa. Em 2001, retornou para a Pastoral da Saúde em Porto Alegre. Lá ficou por 15 anos, até, em 2016, vir ao município. “Flores da Cunha é uma cidade limpa, rica e religiosa, embora estejam crescendo outras religiões”, destaca Pasinatto.

O frei diz estar vivendo um dia após o outro. “Quando eu completei 40 anos tive a consciência de ter dito e rezado que metade da minha vida já tinha passado. Faltava a outra metade. Agora, aos 84, tudo o que vem é lucro”, declara. Pasinatto passou por algumas cirurgias, entre elas a colocação de um marca-passo. “Hoje em dias as pernas já estão cansadas, mas cada dia é um dia”, finaliza.

Os quatro freis possuem uma longa trajetória de vida e se dedicam à religiosidade e ao trabalho de amor junto às 34 comunidades da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. - Gabriela Fiorio
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário