Versos de quem homenageia
Daniele Cavalheiro - redacao4@jornaloflorense.com.br
Mais de 1,8 mil páginas lidas com um objetivo: valorizar a imigração italiana e fazer jus ao centenário de Flores da Cunha. O esforço é do poeta Alessandro Dornelles, 40 anos, que conta com um nome de peso para o seu projeto: Lucio Yanel.
Como o próprio Dornelles define, Yanel é uma das maiores referências no violão do estado do Rio Grande do Sul e leva a produção artística para outro nível.
— Entrei em contato com o Lucio explicando sobre o meu projeto, que leva o nome de Terra do Galo, um compilado de quatro poemas que conta toda a história da imigração italiana no munícipio, do início até os dias atuais. E o Lucio mesmo referendou que é um trabalho inédito, porque nunca nenhum poeta parou para sentar e estudar tanto para escrever sobre um determinado povo — conta o escritor.
Natural de São Borja, Dornelles é morador de Flores da Cunha há uma década e também trabalha como motorista na Secretaria Municipal de Obras. O fato de não ser um "florense legítimo" aumenta a responsabilidade e, por isso, Dornelles se dedicou tanto a ler e entender a história.
— Eu não sou daqui, então precisei me inteirar sobre os assuntos da região, o que requer muito estudo por se tratar de poemas de cunho histórico. Por isso, li de (Floriano) Molon a Claudino Boscatto, afinal quero que meus poemas possam ser apreciados tanto por pessoas comuns quanto por historiadores, pessoas que tem entendimento profundo sobre o tema — explica.
O compilado de poemas gravados ao lado do violonista Lucio Yanel serão divididos em quatro partes: A Partida e a Chegada; A Nova Pátria; Capitão Joaquim e Terra do Galo. O projeto artístico foi viabilizado com incentivo da Lei Paulo Gustavo.
Para gravação das poesias cantadas, Dornelles contou com apoio do CTG Galpão Serrano e atuação técnica do videomaker Juliano Carpeggiani e masterização de Rodrigo Marcon e estúdio Sona, além do roteiro e revisão de Nata Francisconi.
Os vídeos, já em fase final, ainda não tem data para lançamento devido a calamidade pública que atingiu o Rio Grande do Sul e afetou o cronograma dos envolvidos.
Inspirações e valorização da nossa cultura
Dornelles conta que carrega consigo 40 anos de muitas histórias autorais e que sempre buscou este cunho histórico e intimista. Apesar de não carregar de forma hereditária a descendência italiana, a homenagem aos imigrantes é um tema comum aos seus poemas, que trazem a tradicional linguagem campeira e uma luta diária pela preservação da cultura local.
Sobre o trabalho como motorista municipal e este equilíbrio com a carreira de poeta, Dornelles destaca ser natural, pois a arte esteve presente desde o seu berço.
— Esse cunho artístico sempre esteve comigo, desde a minha infância. Quando morava no interior de São Borja com meu irmão em uma casa de ‘pau a pique’ e utilizava a própria pá do fogão à lenha para simular o violão e cantar. Deveria ter uns 5 anos e já tocava alguma coisa ali — relembra.
Ele lembra que a carreira artística, propriamente dita, começou a se consolidar em 2005 quando saiu de São Borja em direção à Novo Hamburgo. Foi lá que conheceu artistas emblemáticos, como o cantor e compositor gaúcho Telmo de Lima Freitas, que revisou diversas de suas obras.
— A partir desse momento da minha trajetória, onde conheci o pessoal dos Fagundes e o saudoso Telmo, as coisas começaram a ter fundamento como poeta e como autor — salienta.
À respeito de influências no mundo da arte, Dornelles conta que escreve seus poemas em décima com rimas fechadas no formato “Espinela”. Ele destaca o renomado payador e poeta missioneiro Jaime Caetano Braun e o também missioneiro Noel Guarany. Infelizmente, não teve a oportunidade de conhecer os dois artistas.
— Eu não escrevo com o intuito de ser visto, mas sim de defender a nossa arte, a nossa cultura. É daqui que eu tiro o sustento da minha família, é minha obrigação fazer algo em prol da comunidade. Essas histórias pertencem à comunidade, se não fosse essas raízes italianas eu não teria essas histórias para contar — conclui.
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