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Uvas para comprar, locais para contemplar

Em tempo de vindima, produtores comercializam a fruta diretamente em suas propriedades

O aroma que se espalha pelo ar indica que a safra da uva começou. E, aos apreciadores da fruta, é época de degustar as diversas variedades cultivadas nos parreirais do município. Flores da Cunha conta com cerca de 1,5 mil propriedades cadastradas para a produção de uva. Em muitas delas, é possível comprar a fruta diretamente. Dessa forma, o simples ato de adquirir alguns quilos de uva pode se tornar uma experiência. É o que geralmente acontece com quem visita a família Slaviero, no Travessão Carvalho, em Otávio Rocha. Lá é possível conhecer de perto como é a vida na colônia, apreciar a vista do local e, claro, colher a sua própria uva. Os irmãos Pedro Slaviero, 70 anos, e Nelso Slaviero, 62 anos, junto com as esposas Graciema Salete e Carme, respectivamente, comandam a propriedade rural ao lado da família. E é no porão da casa dos pais Raimundo e Armelinda Slaviero, já falecidos, que eles comercializam uvas, vinhos, sucos, produtos coloniais, frutas da estação, entre outros itens. “Nós queremos manter o que o pai fazia”, declara Nelso. A ideia da família é continuar o que começou com Raimundo há cerca de 50 anos. “É uma tradição”, define. E o legado deixado pelo pai já chegou na terceira geração. Isso porque os filhos de Pedro e Nelso também estão envolvidos com a lida na propriedade. Entre os filhos de Nelso, Renan, juntamente com a esposa Cimara Daiane Stoquero, dá continuidade ao trabalho da família. A filha Luana auxilia nos finais de semana e o filho Rafael está trabalhando em outro Estado. Entre os filhos de Pedro, Jaime atua na propriedade e Jair é enólogo – mas também ajuda os familiares.

Conforme os proprietários, receber os visitantes ‘em casa’ acaba agregando valor ao produto. “É um capricho deles (dos visitantes) colherem um cacho de uva. Eles se divertem”, conta Nelso. A propriedade oferece o sistema colhe e pague. Mas, se preferir, também é possível comprar a fruta colhida por eles. Devido ao movimento, muitas vezes intenso, o abastecimento das cestas e caixas é instantâneo. De acordo com Nelso, o período de venda de uvas vai, em média, do Natal até a Páscoa. São mais de 30 variedades entre uvas de mesa e comum. Uma delas – e a que mais chama atenção de quem passa por lá – é a BRS Bananinha, uma uva exótica e com formato que lembra uma banana. Outra variedade diferente é a BRS Isis, esta, por sua vez, não possui sementes. O movimento em época de safra da uva é maior do que nos outros períodos do ano. “Cerca de 70% das pessoas que vêm aqui são de outros locais. Mas, na safra, 50% são de Flores, Caxias do Sul e Nova Pádua”, afirma Nelso.

Segundo Pedro, o que fortalece ainda mais o trabalho da família é a conversa com os visitantes e o laço de amizade que se cria. “Eles acabam voltando e indicando para outras pessoas”, diz Pedro. A nora de Nelso, Cimara, relata que o negócio funciona bastante por meio do famoso boca a boca. Mas a propriedade também conta com página no Facebook e perfil no Instagram. Além disso, integra o roteiro Otávio Rocha Vila Colonial, criado em 2019, e que auxilia na divulgação dos pontos turísticos localizados no distrito florense.

Nelso destaca que um dos diferenciais da propriedade é o atendimento realizado o ano inteiro. “A porta está sempre aberta”, relata. Segundo o agricultor, além disso, o visitante se sente em casa. “Eles perguntam como eram as coisas antigamente e alguns até se lembram da vida na colônia. Eu já vi gente chorar embaixo do parreiral”, conta Nelso.

Moradores de Dois Irmãos, Max Utzig, 54 anos, motorista, e Andréia Piovesan, 47 anos, técnica em enfermagem, estiveram na casa da família Slaviero para comprar uvas na última terça-feira, dia 28. O motorista já frequenta o local e trouxe a companheira para conhecer. “Passa um filme na cabeça, me fez lembrar da minha infância”, declara Andréia, ao descrever a visita. Utzig revela que sempre volta para a propriedade porque sabe que vai encontrar coisas boas. “O visitante é valorizado e todos recebem o mesmo tratamento”, diz o motorista.

O engenheiro mecânico aposentado e morador de Portão, Hugo Washington Mascarello Barcellos, 65 anos, já é de casa. Filho de mãe florense, ele frequenta o local há 45 anos. “Todos os anos eu venho visitar os Slaviero”, diz o engenheiro, que é chamado pelo nome na propriedade. Acompanhado da esposa, Tânia Schneider, 65 anos, e, desta vez, do amigo Juliano Hubner, 38 anos, Barcellos buscava por uvas de mesa, vinho, suco e chimias.

“Começou como um hobby e acabou virando negócio”

Há cerca de 15 anos a família Cavalli apostou em um novo ramo: o cultivo de uvas de mesa. Segundo o gerente Júnior Cavalli, 27 anos, as primeiras mudas de parreira vieram da Itália. “Foi ideia do meu pai, Roque, e dos meus tios, Diamão e Damião. Eles sempre gostaram de lidar com o público e queriam investir em algo diferente. Começou como um hobby e acabou virando negócio”, conta. Na propriedade, localizada em São Gotardo, é possível adquirir uvas de mesa das variedades Itália, Rubi e Moscato Rosado, além da comum Niágara Rosada. Cavalli explica que, apesar de contar com o auxílio dos empregados, a venda é feita pelos familiares. “Nós criamos um laço de fidelidade com o público”, declara. O período de comercialização da fruta tem duração de um mês. Conforme o gerente, 80% dos compradores são de Flores e Caxias do Sul. “Nosso maior público é o pessoal daqui. Eles querem uva fresca e acabam vindo buscar toda a semana”, diz. Cavalli relata que o movimento é grande aos fins de semana, mas muitas pessoas visitam a propriedade nos finais de tarde, após às 17h30min. Para facilitar, algumas caixas já ficam prontas, mas também é possível escolher a própria uva. “Já teve gente que veio aqui e nunca tinha visto um parreiral”, conta Cavalli. A propriedade também recebe turistas dos mais diversos lugares, como Nordeste e Itália. Neste ano, de acordo com Cavalli, a uva de mesa ainda não está madura. “Elas estarão boas na metade de fevereiro, vai coincidir com a Fenavindima”, pontua. Além de uvas, a família também comercializa tomate, pêssego, caqui e ameixa.

 

 - Bruna Marini
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