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Unidade da Seara fecha em Caxias e prejudica a economia florense e paduense

Produção de frangos encerrará em 20 de junho. Empresa estima que 80% dos 120 produtores integrados serão realocados

Nesta semana a Seara Alimentos, empresa do grupo Marfrig, anunciou oficialmente que fechará o Complexo Agroindustrial de Caxias do Sul a partir de 20 de junho. Além da unidade, localizada no bairro Cruzeiro, as granjas de matrizes, incubatórios, fábrica de ração e unidades de processamento e armazenagem que fazem parte do sistema de produção de frangos na região serão fechados. No total, 540 funcionários serão demitidos e outros 150 remanejados para a planta de produção de perus, do bairro Desvio Rizzo, que seguirá operando normalmente. O anúncio pode afetar a economia de Flores da Cunha e Nova Pádua.

Quanto à rede de produtores integrados, ou seja, os criadores de frango, a Seara afirma que vem promovendo a migração deles para a operação de perus e para outras empresas do setor que atuam na região. “Estimamos que 80% dos cerca de 120 produtores integrados de frangos serão realocados em curto espaço de tempo”, diz o diretor de Agropecuária da Seara, Vilnei Milanesi. “Além disso, é importante reiterar que todos os produtores integrados da Seara têm seus direitos assegurados em contratos com cláusulas de rescisão que vem sendo cumpridas integralmente”, complementa.

A direção da Seara afirma que a descontinuação do sistema de produção de frangos de Caxias do Sul não irá afetar clientes e consumidores, pois os itens produzidos serão fabricados em outras unidades.

Motivos
Conforme a empresa divulgou em nota oficial, o encerramento da produção de frangos em Caxias do Sul seria resultado de um plano de melhoria da eficiência da plataforma produtiva da Seara Foods no Brasil, anunciado pelo grupo Marfrig em 14 de maio deste ano. O diretor financeiro da Seara, Ivo Dreher, explica que o estudo identificou que não seria viável economicamente manter a unidade caxiense em funcionamento em virtude do alto custo dos grãos, dos insumos, da logística e da mão de obra. O plano prevê, ainda, o fim das atividades de quatro plantas no país e a realocação dos volumes em outras plataformas, com a intenção de otimizar a ocupação do parque fabril e aumentar a rentabilidade das operações.
A Seara analisa propostas para a venda e transferência das plantas que serão desativadas. A unidade de Roca Sales, que utiliza matérias-primas oriundas de Caxias do Sul, passará a ser abastecida por outras plantas. A empresa também estuda a venda desta unidade.

Preocupação no setor público e entre os criadores
A notícia do fechamento do Complexo da Seara em Caxias do Sul não surpreendeu os criadores de frango. O medo que isso pudesse ocorrer era eminente entre os produtores, Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e poderes públicos de Flores da Cunha e Nova Pádua. Embora até o momento nenhuma das partes envolvidas tenha sido notificada oficialmente do encerramento das atividades, a situação preocupa devido à importância que a atividade tem para os dois municípios.

De acordo com dados do Perfil Socioeconômico 2012, Flores da Cunha registrou no ano de 2011 uma produção superior a 20 mil toneladas de frango, o que rendeu R$ 33.007 milhões, 4,1% do total do Valor Adicionado florense, que foi de R$ 792.375 milhões naquele ano. Analisando os dados, verifica-se que a avicultura representa 26% da arrecadação do setor primário, ou seja, um quarto dos R$ 127 milhões gerados em 2011 é oriundo da criação de aves.

m Nova Pádua, a representatividade do segmento avícola é ainda maior. A atividade ocupa o primeiro lugar no ranking de participação no município e corresponde a 39,8% da arrecadação. Conforme dados municipais, em 2011 foram criadas 12,7 mil toneladas de aves, o que significou uma arrecadação de R$ 20,6 milhões. O prefeito paduense Itamar Bernardi (PMDB), o Kiko, diz que a administração já fez um levantamento para saber qual é quantidade de produtores que estavam integrados à Seara com a intenção de ajudar na realocação dos mesmos junto a outras empresas da região. Atualmente, 40 criadores de frango estão cadastrados junto à prefeitura. Destes, 29 estariam distribuindo sua produção à empresa.

Segundo Bernardi, a intenção agora é contatar a direção da Seara, pois muitos criadores investiram grandes quantias para melhorar os aviários, inclusive recebendo incentivos municipais. “Alguns deles já se anteciparam e estão em negociação com outros frigoríficos. Porém, eles exigem que os contratos com a Seara sejam concluídos antes de tomar qualquer decisão”, revela o prefeito. Outra preocupação de Bernardi está relacionada ao cumprimento da tabela de preços praticados. “Devido à grande quantidade de criadores disponíveis, temos receio que as empresas ofereçam preços menores”, constata.

Conforme o secretário de Agricultura e Abastecimento de Flores da Cunha, Jones Piroli, na próxima quarta-feira, dia 5 de junho, o prefeito florense Lídio Scortegagna (PMDB) realizará uma reunião emergencial com o STR e outras entidades do setor para debater a questão. Piroli não sabe precisar quantos produtores florenses estão ligados à Seara. O presidente do STR, Olir Schiavenin, informa que a entidade está em contato com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), pois toda a região foi afetada com o encerramento do sistema de produção. “Nós temos uma Comissão de Integrados ligada à Fetag e iremos nos encontrar na próxima semana para idealizar uma ação conjunta”, cita Schiavenin.

Conforme o líder sindical, os contratos precisam ser analisados juridicamente para saber se cabe alguma indenização para os criadores, considerando as quantias investidas para adequação dos aviários. “Não está certo a empresa rescindir os contratos de uma hora para outra e tudo ficar por isso mesmo. Buscaremos uma audiência com o governo estadual para expor a situação e tentar uma solução viável para ambas as partes”, expõe o presidente, que estima que, em média, 1,4 milhão de aves deixarão de ser produzidas a cada lote se não houver realocação dos 120 produtores da região.

Em Nova Pádua, em 2011, foram criadas mais de 12,7 mil toneladas de aves. - Arquivo O Florense
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