Geral

Uma visita às origens do ilustre Shakespeare

Stratfordupon-Avon, distante duas horas de Londres, preserva a moradia onde o ícone da literatura mundial nasceu, no Século 16

John e Mary eram um casal de ingleses de classe média que viveu em Stratfordupon-Avon no Século 16. Ele, negociante e artesão, fazia luvas de couro, comprava e vendia lã. Ela, filha de agricultores. Se não fosse pelo filho William, provavelmente ninguém hoje saberia sobre a vida de John e Mary Shakespeare. Passeando pelo centro da pequena Stratfordupon, que fica a apenas duas horas de Londres, na Inglaterra, não há como esquecer a família mais ilustre que o lugar já teve. Principalmente nos fins de semana, quando grupos de turistas disputam um lugar para fotografar em frente à casa de John e Mary. Foi lá que, em abril de 1564, nasceu um dos maiores gênios da literatura universal: William Shakespeare.

Não é de hoje que a casa da família Shakespeare é um museu. Já faz 250 anos que o prédio onde Shakespeare passou a infância e a juventude recebe visitantes. Ao lado da casa medieval há um prédio moderno onde a vida de Shakespeare é esmiuçada numa exposição de objetos pessoais e mostras interativas. Um prato cheio para os fãs do bardo. Infelizmente, a casa onde Shakespeare morreu, em 1616, não existe mais.

Hoje, o lugar abriga um jardim.
Próximo ao lugar, Thomas Nash, marido de uma das netas de Shakespeare, construiu uma casa que também pode ser visitada. William casou-se aos 18 anos com Anne Hathaway, 26 anos. Alguns historiadores acreditam que, pelo fato da noiva ser mais velha e estar grávida, o casamento possa ter acontecido sob pressão. Após o matrimônio, Shakespeare mudou-se para Londres, onde seguiu a carreira de ator e dramaturgo. O casal teve três filhos, mas Anne continuou morando em Stratfordupon.

A lista de casas históricas de Stratford, abertas à visitação, inclui a Hall’s Croft, a residência luxuosa do doutor Hall e Suzanna, uma das filhas de Shakespeare. Muitos dos aparelhos e livros usados pelo médico estão expostos no lugar. Outro ponto de visitação obrigatória para os fãs de Shakespeare é a igreja onde ele foi batizado e está enterrado. A Holy Trinity Church fica às margens do Rio Avon, próxima ao Royal Shakespeare Theatre. A estátua de Shakespeare, próxima ao túmulo, foi acrescentada ao altar sete anos depois da morte do poeta.

Costwolds
No coração da Inglaterra, a meio caminho entre Stratfordupon e Londres, a região de Cotswolds é mais que uma área de beleza incomum: é uma verdadeira relíquia arquitetônica, que parece não ter visto a Revolução Industrial acontecer. Entre as colinas calcárias de Gloucestershire e Oxfordshire, esse museu a céu aberto é formado por mais de 15 vilas: Burford, Bibury, Northleach, Stow-on-the-Wold, Burton-on-the-Water, Woodstock e Chipping Candem são algumas delas.

O nome da região vem do inglês arcaico codesuualt, e faz referência às colinas de calcário amarelo (wolds), típicas daquela área. Durante a Idade Média, com o próspero comércio da lã, muitas igrejas foram construídas naquela região sem aparente economia de recursos. Em Burford, a igreja de São João Batista é cercada por túmulos do Século 17, que não escondem a classe social de seus ocupantes. Construídos em estilo barroco, muitos deles têm o topo no formato arredondado de um fardo de lã, talvez como referência ao poder e riqueza dos mercadores da época.

Outro detalhe interessante sobre a igreja de Burford pode ser observado no memorial a Edward Harman, barbeiro do rei Henrique VIII. Além das homenagens à esposa e aos 16 filhos, o memorial esculpido em pedra, encomendado pelo barbeiro poucos anos antes de sua morte, traz as figuras de quatro índios de uma provável tribo amazônica. Tal conclusão se baseia na semelhança com desenhos publicados na Holanda em 1540, relatando a descoberta de uma tribo próxima às margens do Rio Amazonas. No entanto, a relação entre os índios e o barbeiro ainda é um mistério, embora muitos acreditem ser uma referência à família da esposa, composta de mercadores e aventureiros.

Interior britânico preserva beleza bucólica
Ainda na rota das igrejas medievais, outra parada obrigatória é o povoado de Northleach. A igreja de São Pedro e São Paulo é considerada a catedral das Cotswolds e tem no seu interior homenagem a muitos dos mercadores de lã que patrocinaram sua construção. O templo também serviu de escola, depois de 1640. Alguns muros ainda preservam rabiscos e palavras de alunos não tão bem educados.
Além de histórias e igrejas, as vilas de Cotswolds simbolizam a beleza bucólica do interior inglês. Não surpreende o fato de que há inúmeras trilhas a serem percorridas a pé e de bicicleta. Para quem tem preparo físico, os 164 quilômetros da Cotswold Way pode ser uma boa pedida. Mas, para aqueles que preferem armazenar energia, não vão faltar oportunidades para saborear um cream tea completo, com bolos recheados, sanduíches e canapés. No entanto, evite a alta temporada (julho a agosto), quando a invasão de turistas acaba com a tranquilidade típica das Cotswolds. A pequena Bibury é uma das mais procuradas, graças a Arlington Row, uma ruela com uma dúzia de casas de pedras que serviu como depósito de lã e moradia de tecelões. Hoje, muitas dessas casas de aparência intacta desde o Século 14 ainda são habitadas.
* Reportagem originalmente publicada na edição 145 da revista Bon Vivant)

Casa onde Shakespeare nasceu é hoje um museu. - Giovana Zilli/Divulgação
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário