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Uma vindima considerada na medida

Período de colheita da uva no Rio Grande do Sul inicia neste mês e a expectativa é de uma produção de qualidade

Nesta época do ano é comum passar por estradas do interior e sentir o aroma das primeiras uvas da safra 2013/2014. Isso porque as frutas estão amadurecendo e dentro de algumas semanas serão colhidas. O clima, que até agora está colaborando, deve definir quando os cachos serão retirados das videiras e em qual patamar de qualidade as uvas gaúchas devem ficar. De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Comissão Interestadual da Uva, o Estado deve colher 700 milhões de quilos, sendo entre 80 e 100 milhões de Flores da Cunha.

A movimentação da safra da uva já é característica desta época do ano. Os produtores se preparam para um período de trabalho mais intenso e as vinícolas deixam a estrutura pronta para receber as frutas. De acordo com o coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, as videiras apresentam uma produção mais tardia neste ano em função dos últimos períodos de frio de 2013. A produção deve ser colhida de 10 a 15 dias mais tarde. “Essa é a condição que temos, mas dependendo do clima de agora em diante esse período pode diminuir. Estamos tendo temperaturas altas que se mantêm durante a noite e isso pode mudar a situação”, explica Schiavenin. A variedade Bordô deve ser a primeira a ser colhida no final de janeiro ou início de fevereiro, seguida pela Isabel.

As condições vistas nas propriedades são de plantas com boa sanidade e bom aspecto, assim como as uvas. Por isso a safra está sendo esperada com bastante qualidade e um pouco menos quantidade em relação ao ano passado. Segundo Schiavenin, o Estado deve colher de 600 a 700 milhões de quilos de uva (a safra 2013 teve 611,3 milhões de quilos). “É de agora em diante, na fase da maturação, que o clima define a qualidade da uva. Claro que tudo é um conjunto, mas o clima tem grande peso neste período”, acrescenta Schiavenin.

Produtor deve negociar
Com a expectativa de uma safra dentro da média em quantidade, Schiavenin incentiva que o produtor valorize seus produtos e busque negociar bem. “Teremos uma média um pouco inferior de produção, com uvas de qualidade e com isso o produtor pode negociar bem, além de cuidar dos prazos da uva para colher no ponto certo da maturação e prestar bastante atenção na contratação da mão de obra”, orienta o presidente do STR.

Além de colher a uva no momento certo, o produtor deve dar atenção ao transporte, sempre com Talão de Produtor e nota acompanhando a carga.
De acordo com a Comissão Interestadual da Uva, neste ano mais da metade da safra deve ser destinada à produção de suco. O produto está ganhando espaço na mesa dos consumidores e, consequentemente, nas cantinas. Os números indicam que mais de 50% da uva comum, como Bordô e Isabel, devem chegar até o consumidor em forma de suco. Até novembro de 2013 o produto apresentou crescimento de 41% nas vendas em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso empresas ampliaram investimentos no suco, como é o caso da Cooperativa Nova Aliança, que deve vinificar em Flores da Cunha sua primeira safra. A estrutura está preparada para processar sucos, mas também envasar vinhos e espumantes.

Segundo o presidente da Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, as expectativas para a safra são boas, embora a qualidade ainda dependa do clima. Dalle Molle atuou como presidente do Conselho Deliberativo do Ibravin até dezembro do ano passado e acompanhou o aumento no consumo das bebidas derivadas da uva. “O principal crescimento foi no suco, seguindo pelo espumante e, neste ano, depois de muito tempo, conseguimos ter um aumento também dos vinhos finos e de mesa engarrafados. Embora ainda não seja um grande crescimento foi um avanço para o setor”, aponta Dalle Molle, que passará o cargo do Ibravin ao agricultor Moacir Mazzarollo, presidente do STR de Veranópolis, Vila Flores e Fagundes Varela.

Crescimento na comercialização
O avanço que Dalle Molle aponta marcou o ano de 2013. De acordo com dados do Ibravin, de janeiro a novembro a comercialização de vinhos de mesa teve um acréscimo de 2,6% em relação a 2012, fechando em quase 195 milhões de litros. Nos vinhos finos o aumento foi maior, com 6,4% e uma comercialização que atingiu os 19 milhões de litros. Os espumantes atingiram um acréscimo de 7% em relação ao mesmo período do ano passado, com uma comercialização de 33 milhões. Os vinagres também tiveram um crescimento significativo com 14,7%, que resultou em 12 milhões de litros vendidos em 2013. Mas foram os sucos de uva que representaram o maior crescimento, com um aumento de 41%, ou mais de 71 milhões de litros.


Clima deverá ser favorável
Se o clima é um dos principais fatores que influenciam na qualidade da safra de uva, neste ano o tempo deve estar ao lado dos produtores. Sem a influência de qualquer fenômeno, o verão deve manter-se dentro de um período de normalidade, com chuvas irregulares – que são características desta estação, e dentro de uma média de 140mm a 160mm mensais.

De acordo com o meteorologista Flávio Varone, do Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS), essas condições devem valer de janeiro a março, quando as chuvas irão diminuir (uma média de 110mm e 130mm). “Como o verão é conhecido pelas chuvas irregulares, será natural que alguns locais tenham excesso de precipitação e, ao mesmo tempo, outros tenham uma chuva um pouco abaixo da média. É com essa irregularidade que estamos trabalhando para o nosso verão”, explica Varone.

O clima quente é considerado favorável para a cultura da uva e outras frutíferas. No geral a chuva não deve ser em excesso e a ocorrência de temporais e queda de granizo não está prevista. “Podemos ter algumas chuvas mais fortes, mas sem temporais agressivos. Claro que as condições atmosféricas mudam bastante, mas não se esperam problemas neste sentido na região da Serra Gaúcha”, complementa o meteorologista.

Quanto às temperaturas, naturalmente são mais altas durante o verão e, como as chuvas não deverão ser persistentes, o Estado deve registrar bons períodos de tempo mais seco e temperaturas elevadas.



Uvas sadias depois de dois anos

Fazia tempo que o agricultor Vani Molon, 49 anos, do distrito de Otávio Rocha, não via as parreiras da família com tanta uva. Isso porque a propriedade foi arrasada pela chuva de granizo ocorrida no final de dezembro de 2011. Naquela data o agricultor teve perda total dos 3,5 hectares de parreiras. Hoje, após dois anos, ele percebe nas videiras a gradual melhora e recuperação, já contando com cachos e uma produção estimada em 80% da capacidade total dos vinhedos. Para a família, a safra de 2014 deve chegar mais especial: será a primeira representativa depois das perdas.

Um dia para esquecer. Assim resume Molon lembrando-se do dia 14 de dezembro de 2011. A forte chuva de pedra levou para o chão toda a produção, assim como de outras tantas propriedades da região. O jornal O Florense acompanhou parte do desenvolvimento das parreiras após o temporal. No primeiro ano (2012) Molon não colheu frutas. No ano seguinte (2013) o agricultor registrou a produção de 3 mil litros de vinho, número quase 20 vezes menor que os 50 mil litros que costumava produzir. Agora as parreiras estão mais recuperadas e contam com uvas com boa sanidade. “Neste ano quem sabe vamos conseguir cobrir as despesas com a produção”, complementa Molon.

Depois do granizo o agricultor tratou as videiras de forma diferenciada e até ‘inventou’ para tentar recuperar as plantas. A família utilizou produtos para a cicatrização dos galhos, além de adubos. Outra fase que exigiu atenção foi a poda. Com galhos ‘cegos’, ou seja, sem brotos que pudessem produzir, Molon precisou mudar a maneira de podar e, agora, após a terceira brotação, os resultados foram percebidos. “Para garantir uma mínima produção procurei deixar os galhos mais compridos. A parreira brotou em lugares diferentes já que os galhos certos ainda estão danificados pelas pedras de gelo. Tive que inventar um pouco para poder ter alguma produção”, conta Molon.

Na época do temporal a família não contava com o seguro agrícola. Hoje os vinhedos estão segurados e a ocasião serviu até para crescimento. Molon está investindo na produção de uvas ecológicas. Por enquanto a área plantada é pequena, mas representa uma nova fonte de renda. “Precisamos buscar coisas novas. Estou aprendendo e deve ser mais uma alternativa”, revela Molon, que espera colher uvas de qualidade nesta safra – com a colaboração do clima, é claro.

Preço mínimo da uva sobe para R$ 0,63/quilo

Aprovado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no dia 30 de dezembro, o preço mínimo da uva foi anunciado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, no último dia de 2013. O valor referente à safra de 2014 teve um acréscimo de 10,53% e será de R$ 0,63 ao quilo. O aumento, porém, ainda não foi oficializado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Segundo a legislação federal vigente, o valor mínimo da uva comum (variedade Isabel com 15º graus Babo) deve ser definido e divulgado até 30 de novembro de cada ano. Há dois anos o preço não tinha alteração – era de R$ 0,57. Antes do valor mínimo é calculado o custo de produção, que na safra 2013/2014 foi definido em R$ 0,71 o quilo da fruta, ou seja, houve 7% de acréscimo em relação à última safra (R$ 0,67). O valor do custo é definido após dados fornecidos pela Comissão Interestadual da Uva.

O coordenador da Comissão, Olir Schiavenin, complementa que embora o preço tenha aumentado, ainda não cobre o custo de produção da uva, que é de R$ 0,71. “Este ano prevaleceu o argumento dos produtores sobre o da indústria e o governo nos atendeu em parte, pois o custo de produção ainda é superior ao preço”, acrescenta Schiavenin. O preço mínimo de R$ 0,63 ao quilo representa 87% do custo de produção.

Agricultor Vani Molon espera colher 80% da produção que tinha antes do granizo de 2011. - Camila Baggio
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