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Uma vida em constante movimento

Conheça a história da florense Erica Ravizzoni Carpeggiani e a motivação de quem está sempre pronta para fazer o bem

Uma mulher atuante na comunidade florense, apaixonada pela família e pelo conhecimento, amante do canto e das notas musicais, que há anos é voluntária da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e organizadora do bazar da entidade. Estas são apenas algumas das características que descrevem Erica Ravizzoni Carpeggiani, de 76 anos. A primeira dos nove filhos de Amália Fontana Ravizzoni e Armogine Ravizzoni é natural da Linha 60, no interior de Flores da Cunha. Sua motivação para seguir o caminho da educação veio, sobretudo, do pai, que queria que seus filhos estudassem; e assim ela fez. Mesmo em uma época onde o acesso ao ensino não era tão simples, Erica cursou a 1ª série do Ginásio na Escola São Rafael, em 1958. A 2ª e a 3ª séries foram no colégio das Irmãs Bernardinas, em Camaquã; enquanto a 4ª série e o Ensino Normal, no Colégio São Carlos, em Caxias do Sul. Na época, a florense conciliava sua rotina de estudos com o trabalho, no Hotel Santa Rita, onde permaneceu por cerca de seis anos. Em 1971 passou a atuar como professora e casou-se com Alcides Carpeggiani (In memoriam), com o qual teve três filhos: Taís Elena, Elias e Shamila Carpeggiani. Em 2016, Erica recebeu o Troféu Grazie do Jornal O Florense, um reconhecimento por seu trabalho voluntário junto à Apae. Hoje, ela divide seus dias entre organizar o bazar da entidade, ajudar a comunidade de São Cristóvão, participar de ensaios e apresentações do Coral Nova Trento e do Coro Municipal, (re)aprender a tocar gaita e, claro, encher de afagos os três netos: Breno, Emanuel e Margot. Conheça a história dessa florense que vive em constante movimento. 

O Florense: Atuou na área da educação por mais de 30 anos. Quando surgiu essa paixão?
Erica Ravizzoni Carpeggiani: Essa paixão, essa motivação veio da nona Clementina e do meu pai, que queria que os filhos estudassem. Como eu era a filha mais velha, tive a chance de sair de casa cedo e estudar. Pouco antes dos 20 anos comecei a dar aulas para o supletivo, à noite, na Escola Dante Marcucci, em Caxias do Sul, onde lecionei de 1968 a 1970. Mas, nesse período, eu continuava trabalhando durante o dia no Hotel Santa Rita, isso até abril de 1971. Em 1972 veio a nomeação e eu passei a ministrar aulas na Linha 60, até 1978, quando pedi remoção e fui transferida para a Escola Cel. Pena de Moraes, em Caxias. Nessa época a diretora tinha me oferecido a 4ª série de tarde, mas como eu estava cursando a faculdade de Pedagogia ela me direcionou para a disciplina de Ciências, 5ª e 6ª série, de manhã e à noite; e de tarde eu tinha faculdade, a Taís era pequena. Um tempo depois engravidei do Elias e quando ele já tinha nascido, em 1981, nós viemos morar em Flores da Cunha e eu pedi remoção para o São Rafael, mas São Gotardo precisava de uma professora, então fui para a Escola Pedro Cecconello e acabei respondendo pela direção, isso porque a então diretora estava de licença maternidade. Em 1982 eu tive a oportunidade de dar aulas no São Rafael, para 2ª e 3ª séries. Trabalhava sempre com dedicação, com amor, porque pelo salário não valia muito a pena; hoje mesmo o salário do professor é defasado.

OF: Também foi diretora da Escola Horácio Borghetti. Como avalia essa experiência? 
Erica: Fiquei no São Rafael até julho de 1993, quando veio o convite para a direção da Escola Horácio Borghetti, onde fiquei até me aposentar. Lá foi algo diferente da sala de aula, um grande aprendizado. É uma situação que abrange o todo, os professores, os pais, os alunos, mas não me arrependo da profissão que escolhi. Me aposentei em 1997, no entanto, em 2000 voltei a lecionar no São Rafael, desta vez Ensino Religioso para o 2º Grau. No ano seguinte me afastei para assistir minha mãe, que ficou comigo seis meses, ela estava doente e faleceu em 2003. Dois anos depois retomei as aulas de Ensino Religioso, mas nas escolas municipais. Nós tínhamos um grupo de professoras e atendíamos todas as escolas municipais. Foi um serviço remunerado e algo muito bom, mais um aprendizado. 

OF: Outra paixão, também seguida pelos filhos, é a música. Qual sua relação com essa arte? 
Erica: Eu gosto de cantar, herdei isso da minha mãe e dos meus tios, Tere, Hélio e Pedro, que cantavam. Quando morávamos em Caxias, a gente vinha seguido para São Cristóvão. Meu esposo participava do futebol e dos jogos de bocha e juntos atuávamos nas festas e promoções da comunidade. Acho que essa convivência com a tia Tere (Terezinha Fontana Nissola) e o tio Hélio (Hélio Fontana) nos induziu para esse lado, porque de todos os meus irmãos só eu estou no grupo de canto. No colégio também, com a Irmã Rosela eu comecei a aprender gaita, depois entrei no grupo dela e tocava um pouco. Hoje, quero aprender de novo, mas é difícil. Estou com um professor que vem em casa para dar aulas, eu estou gostando só que tem que parar, se dedicar e eu não sou muito de parar, gosto de atividade, movimento, mas graças a Deus, porque se não tem movimento eu fico doente.

OF: Você segue sendo uma das vozes do Coral Nova Trento e do Coro Municipal? 
Erica: Sempre tive uma vontade louca de cantar, mas tinha aquele receio de chegar e não ter conhecimento. Até que, em setembro de 2003, eu estava no CTG e tinha o maestro com o Coral Nova Trento, o Félix Slaviero, cantando a música Céu, Sol, Sul, Terra e Cor, eu ‘encaixei’ com eles e comecei a cantar. Foi aí que me convidaram para ir para o Coral, eu fiquei com aquela dúvida, mas resolvi aceitar. Naquela época surgiu a oportunidade de ir para Nova York cantar nos 100 anos de Imigração Italiana, eu imaginava que por ter recém entrado no grupo eu não iria, mas o maestro disse para eu fazer o visto e ir também. Era um sonho, algo nunca imaginado, mas realizado, eu só acreditei quando coloquei o pé no avião (eu nunca tinha voado de avião antes). Foi muito bom, ficamos 10 dias, mas aproveitamos poucas visitas porque estávamos ali para cantar. Hoje continuo no Coral Nova Trento e também no Coro Municipal.

OF: Você sempre foi uma pessoa engajada com sua comunidade, São Cristóvão. De que forma já colaborou com ela? 
Erica: Nós morávamos em Caxias e vínhamos para cá trabalhar nos bailes e festas. A gente sempre participou e quando eu não podia o Alcides vinha sozinho, tinha vezes que se voltava para casa às 6h da manhã. Fomos presidentes da comunidade, então toda a parte de caixa, de financeiro era só com o Alcides, que ficou cerca de 15 anos.  Depois que saiu desse cargo ele seguiu participando das festas, dos jogos de futebol, das bochas; quando foi necessário a gente sempre ajudou. Também nos incluímos no grupo de liturgia, fui ministra da Eucaristia e fomos festeiros. Atualmente continuo ajudando como posso.

OF: Também atua como voluntária na Apae, há quanto tempo ajuda a entidade? 
Erica: Colaboramos com a Apae desde antes de 2005. O Alcides foi vice-presidente por um período e na gestão 2006-2007, a diretora da época iniciou o bazar e nós damos continuidade até hoje, juntamente com o grupo de colaboradoras voluntárias. Então, desde aqueles anos, estou à frente desse trabalho. Recebemos roupas, selecionamos, realizamos o bazar e eu vou toda a segunda-feira de manhã na sala que temos na Apae para fazer a seleção das doações. A primeira vez que colaborei com a entidade, quando ela estava na antiga sede, foi como madrinha por um dia do Nicolas Zim, eu me emocionei tanto em ver aquelas crianças, e foi ali que comecei a ajudar. Depois, logo que construíram o prédio novo, o Alcides foi presidente, então a gente teve mais contato. Hoje, somos um grupo de voluntárias que se reveza, algumas vem na sexta, outras no sábado, já que uma vez por mês é realizado o Bazar da Apae, na sede da entidade, cujo recurso é destinado às ações promovias pela Apae. O espaço também atende nas segundas-feiras pela manhã, quando nós estamos selecionando as doações, que podem chegar em qualquer dia e horário.

OF: O que despertou seu interesse em colaborar com essa entidade? 
Erica: A vontade de estar junto com as pessoas, de ajudar, o contato que tive com o Nick, depois veio a presidência e ali foi o momento mais forte de estar presente, porque foram realizados os primeiros bazares. Durante a pandemia eu sofri porque eles não podiam ser realizados, mas, ao mesmo tempo, eu tinha que acreditar que iríamos voltar, porque é algo que me fez falta. 

OF: Qual conselho gostaria de deixar?
Erica: O trabalho voluntário é muito gratificante, é muito bom para a gente porque nos sentimos bem e é importante fazer o bem. A gente tem que agradecer por aquilo que nós temos, não pelo que queremos, porque o querer é uma coisa, mas eu tenho isso, tenho que agradecer pelo que eu tenho, eu tenho saúde, eu tenho dor, mas tudo bem, a dor passa, tudo passa. Então até que Deus me der forças e condições, eu vou continuar fazendo os trabalhos, não vou me desligar tão fácil, só mesmo no dia que eu ficar em uma cama ou não puder mais me mexer. Eu acho que isso vai até o fim da minha vida e eu quero viver mais 21 anos fazendo o que eu estou fazendo, até que Deus me der condições. Gratidão por tudo. 

Aos 76 anos, Erica Ravizzoni Carpeggiani tem uma rotina de muito trabalho e amor ao próximo. - Karine Bergozza A organizadora do Bazar da Apae frisa que faz bem fazer o bem. - Karine Bergozza
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