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Uma tradição mantida dentro e fora das canchas

A bocha é o tema de nova reportagem sobre o ano das comemorações da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul

Quem não lembra de um dia ter visto um grupo de pessoas ao redor de uma mesa num bar que não fosse para comer e beber, ou ao lado de uma cancha assistindo a uma partida de bocha. Os jogos de cartas, especialmente as modalidades de bisca, trissete, escopa, quatrilho ou a mora, além da bocha são algumas das atividades trazidas pelos imigrantes italianos há quase um século e meio e que fazem parte dos costumes e das tradições, principalmente dos habitantes da Serra Gaúcha. Estes são os temas da reportagem especial deste mês no jornal O Florense sobre o ano das comemorações da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul.

O jogo da bocha, ou boccie, é mais conhecido e popular entre os italianos e seus descendentes. O jogo surgiu na época do Império Romano e é disputado entre duas equipes, sendo seis bochas para cada equipe na modalidade trio; quatro bochas na modalidade dupla, duas para cada atleta; e quatro na modalidade individual, na qual dois jogadores, um de cada equipe, se enfrentam individualmente. Na Serra a maioria das disputas ocorre entre duas equipes formadas por duplas e praticadas em canchas de piso sintético (plástico), denominada bocha pontobol, ou em canchas de areia. Em ambas, a prática consiste em lançar as bolas e situá-las o mais perto possível do bolim, que é lançado previamente. O adversário tentará situar as suas bochas mais perto ainda do bolim, ou remover as bochas dos seus adversários.

A prática evolui a cada dia, pois é um atrativo que envolve desde crianças até idosos. O esporte foi trazido para a América pelos imigrantes italianos, primeiro para a Argentina e mais tarde para outros países. Os Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que receberam grandes concentrações de italianos, foram os primeiros a registrar jogos, que depois se espalharam por Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. O primeiro Campeonato Brasileiro de Bocha foi realizado em 1964 em São Paulo com a participação de equipes gaúchas, paulistas, cariocas e mineiras (os gaúchos foram campeões).

Em Flores da Cunha a prática é desenvolvida há pelo menos cinco décadas, tendo iniciado nas canchas de chão batido. Antes, grupos de pessoas se reuniam nas comunidades ou em canchas particulares para praticar o jogo em canchas de areia. Um dos principais incentivadores e responsável pela organização de dezenas de campeonatos municipais e regionais, Moacyr Antônio Pradella conhece mais do que ninguém as regras do jogo. Prestes a completar 80 anos, Pradella foi um dos primeiros dirigentes do Conselho Municipal de Desporto no início da década de 1970, e comanda a Liga Florense de Bochas Pontobol há 25 anos. “Não é porque eu quero, são os outros que não querem assumir”, define o dirigente, que divide as horas de lazer entre organizar os torneios e jogar.

Pradella também comandou por três vezes, durante oito anos, a Associação Riograndense de Bochas Pontobol, entidade que promove torneios regionais. No município, o Sete de Setembro é o time que acumula o maior número de títulos de bocha pontobol, com 13 conquistas municipais e quatro regionais. Na modalidade de areia, há maior rodízio entre os campeões.

Em Nova Pádua, onde só há a modalidade em areia, o Cerro Largo é o maior vencedor das 23 edições do municipal, tendo vencido 13 das 16 finais que participou. Além da bocha, os paduenses mantêm os costumes de jogar cartas, especialmente na disputa do Campeonato Municipal de Bisca Trio (Briscolão).

O quatrilho
Outra modalidade trazida pelos imigrantes no Século 19, e que inspirou a literatura e continua sendo passada de geração a geração é o quatrilho. Jogado em quatro pessoas, com um quinto participante que distribui as cartas de baralho do tipo espanhol, o jogo chama a atenção por um detalhe: a obrigatoriedade da troca de parceiro a cada jogada. O objetivo é dar mais dinâmica à disputa, que terá apenas um ganhador. Por ter muitas regras, alguns especialistas do quatrilho o definem como o xadrez do baralho. Mas, antes de tudo, é um jogo de amigos. As regras são complexas para iniciantes, o que só desperta mais curiosidade. Durante o jogo, os participantes não podem falar, a sinalização das cartas é feita somente com toques na mesa, o que exige muita atenção. Mas, ao final da rodada, o silêncio cede lugar para a algazarra, com espaço para acaloradas discussões sempre em tom de brincadeira.



Moacyr Pradella comanda a Liga Florense de Bochas há 25 anos e conhece como poucos as regras da modalidade. - Antonio Coloda
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