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Uma tradição colorida

Nos últimos 30 anos as celebrações ocorreram ininterruptamente, mas essa não é a primeira vez que o evento é cancelado.

Ruas enfeitadas com tapetes coloridos, centenas de fiéis reunidos e os acordes sonoros dos sinos do campanário anunciam todos os anos as celebrações de Corpus Christi. Neste ano, quando são comemorados 56 anos da tradição, as ruas estarão diferentes e o número de fieis reduzidos. Apesar de pelo menos nos últimos 30 anos as celebrações terem ocorrido ininterruptamente, essa não é a primeira vez que o evento é cancelado. Inúmeras vezes ao longo das décadas a confecção de tapetes não ocorreu.

Segundo constam os registros do livro tombo da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, a tradição dos tapetes de serragem iniciou em 1964.  “No dia 28 de maio realizou-se com raro brilho a Procissão do Corpus Christi. As irmãs da Escola São José, coadjuvadas por alunos, membros da juventude florense e pelos Filhos de Maria, com serragem pintada em diversas cores, estendiam verdadeiros tapetes nas ruas por onde passava a procissão”, registra o livro.

A ideia de realizar uma procissão com tapetes coloridos em Flores partiu do então prefeito Raymundo Paviani, que durante uma visita a Santa Catarina, no ano de 1963, conheceu a cidade de Indaial, onde a população produzia tapetes para a procissão. Extasiado com a beleza, Paviani, juntamente com a irmã Joana Gasparin, sugeriu a realização do feito em Flores. Foi assim que em 1964, as ruas foram enfeitadas. Nos anos seguintes, os adornos foram tomando forma. A comunidade guardava durante todo o ano itens que poderiam ser usados na confecção. Pó de café, folhagem verde, flores da estação e tampinhas de alumínio eram coletadas entre as famílias e utilizadas na produção dos tapetes. A serragem era colorida na casa dos próprios voluntários.  “Lembro que guardávamos durante todo o ano material como pó de café, tampinhas, farinha de mandioca e até cascas de ovo. Enfim, tudo o que podia ser utilizado”, conta a voluntária Geni Fontana.

Naqueles primeiros anos, eram atapetadas seis quadras. Os tapetes percorriam as ruas: Avenida 25 de Julho, John Kennedy, Borges de Medeiros, Maria Dal Conte, Dr. Montaury e Frei Eugênio (circulavam não somente a quadra da praça, mas também as quadras laterais). A celebração com tapetes coloridos aconteceu até 1968, quando por motivos diversos foi suspensa. De acordo com artigo do frei Lori Vergani, “os adornos foram se tornando um aspecto simplesmente turístico, perdendo o sentido religioso da festa. A imprensa de todo o estado divulgava o evento”. Por sete anos, os florenses deixaram de produzir os tapetes, mas em 1975, as ruas foram novamente atapetadas. Foi o ponto alto em termos de visitantes. Mais de sete mil pessoas, segundo informações do jornal O Vindimeiro, visitaram a cidade. Durante mais três anos as ruas foram atapetadas e atraiam cada vez mais turistas. Em 1978, chegaram a ser registrados dez mil fiéis. Em junho de 1979, a ornamentação foi novamente suspensa. Segundo o jornal O Vindimeiro, uma reunião entre os voluntários e a paróquia definiu pela não realização do evento. Os motivos eram muitos: o frio era intenso para se trabalhar à noite; muito dinheiro era gasto no evento; as chuvas em junho eram frequentes e se corria o risco de um gasto inútil; várias pessoas não podiam trabalhar, o que dificultava a mão de obra.

Mais uma vez Flores desistia de produzir suas obras de arte. Até 1982, não ocorreram enfeites e a celebração de Corpus Christi se resumia a uma missa. Entre os anos de 1983 a 1985, o município voltou a confeccionar os quadros. Porém, em 1986, o mesmo motivo turístico – que hoje é símbolo de orgulho – voltou a incomodar e a celebração foi suspensa. Frei Lori escreveu no O Florense de 1987: “Sou a favor de algo que nos torna mais dignos não apenas mais famosos. Poderíamos dizer até que nesta crise, talvez tornar-se-ia absurda fazer tapetes de serragem, quando tantas pessoas não têm casa”.

Em 1989, com as bênçãos de Frei Salvador (foi realizada pela primeira vez a procissão do religioso concomitantemente ao Corpus Christi), os florenses voltaram a se ajoelhar nas principais avenidas de Flores e ornamentá-las. Nessa época, os tapetes eram feitos apenas na quadra central. De lá para cá, os trilhos se consolidaram como uma atração turística e religiosa. E nunca mais deixaram de serem feitos.

 - Prefeitura FC/Divulgação
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