Uma longa espera
Correios voltam a funcionar após mais de 30 dias de paralisação, mas demora nas entregas ainda irrita clientes
Depois de 35 dias de paralisação, funcionários dos Correios de todo o Brasil retornaram às atividades na quarta-feira, dia 23. A greve iniciada em 17 de agosto teve fim depois da decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que ordenou a volta dos trabalhadores sob pena de uma multa diária de R$ 100 mil à categoria.
Nesta semana, a reportagem do Jornal O Florense esteve presente na Agência dos Correios de Flores da Cunha, situada na Rua John Kennedy, para acompanhar de perto a situação do retorno. O atraso na entrega das encomendas é a realidade exposta pela maioria dos clientes, agravada pela paralisação, que deixou a demanda ainda maior.
O empreendedor Édson Molardi Schiavenin, 29 anos, tem uma loja virtual de equipamentos eletrônicos e depende exclusivamente dos serviços de envio para manter o negócio, que foi prejudicado pela demora. “Eu já estou esperando para receber uns produtos há mais de 40 dias. Encomendas que eu enviei levam 50 dias para chegar ao destino. Fica difícil trabalhar assim”, comenta Schiavenin.
De fato, para as empresas que trabalham com o e-commerce, a situação é particularmente complicada. O comércio digital ganhou 5,7 milhões de novos consumidores em todo o Brasil no segundo trimestre de 2020, conforme dados da empresa de inteligência de mercado Neotrust/Compre&Confie. Em julho, os Correios, principal plataforma logística do comércio eletrônico, tiveram uma demanda 25% maior do que no mesmo período do ano passado, com forte estímulo do setor. As compras online viraram um hábito comum entre os brasileiros durante a pandemia, mas os serviços de entrega não têm conseguido dar conta da nova realidade.
Abrelino Zampieri, 62, que trabalha no ramo de confecções, chegou aos Correios na última segunda-feira, dia 28, com um pacote pronto para envio – e saiu da Agência com a mesma embalagem em mãos, pois decidiu não usar o serviço. “Eu precisava que ela chegasse em Santa Catarina no dia 1º de outubro, mas vai demorar três, quatro vezes mais para ser entregue. Vou ter de recorrer a uma transportadora privada”, argumenta Zampieri.
Mas não é só para as empresas que os atrasos geram embaraços. Cláudio Machado, empresário de 36 anos, comprou um bambolê como presente de aniversário para a filha, que não recebeu o brinquedo na data esperada. “Faz dois meses que eu estava aguardando a entrega no meu endereço. Tive que vir aqui na Agência e ainda encontrei a embalagem rasgada. Esse é só um dos muitos casos que já me aconteceram”, afirma Machado.
O que diz a empresa
Em nota oficial, os Correios afirmam que estão realizando mutirões de entrega, inclusive em finais de semana, para suprir a demanda. “Com o retorno dos trabalhadores que estavam paralisados e a compensação das horas não trabalhadas, medida determinada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), a empresa pretende ampliar a capacidade operacional e normalizar o mais rápido possível o fluxo de entregas de cartas e encomendas em todo país”, diz o texto.
A recomendação para o cliente que esteja com mercadorias atrasadas é que ele aguarde a entrega em sua residência, caso não seja informado de que a correspondência precisa ser retirada nas unidades, através do sistema de rastreamento ou por aviso entregue em seu endereço. A empresa também destaca que serviços como o SEDEX e o PAC permanecem ativos – a única exceção são as postagens com hora marcada, suspensas desde o início da pandemia.
Os Correios informam que estão à disposição para prestar informações e receber solicitações através de sua Central de Atendimento, com diversos canais para contato – sempre que necessário, a população pode se dirigir a eles pelos telefones 3003 0100 e 0800 725 0100 ou pelo endereço http://www.correios.com.br/fale-com-os-correios.
O que dizem os funcionários
De acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (Fentect), a entidade vai recorrer do reajuste salarial de 2,6% concedido pelo TST, pois não contempla os desejos da categoria – os trabalhadores queriam uma reposição de 5%. A decisão do Tribunal também considerou a greve não abusiva – com isso, metade dos dias será compensada no salário dos empregados.
A categoria alega que foi surpreendida em agosto pela revogação do Acordo Coletivo dos Trabalhadores dos Correios, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que retirou 70 cláusulas de direitos como vale alimentação, plano de saúde e licença maternidade. A suspensão foi um pedido da estatal que, com a ação, estimava uma economia na ordem de R$ 800 milhões.
Depois da negociação, a decisão do TST manteve nove das cláusulas oferecidas pelos Correios e 20 cláusulas sociais, cancelando outras 50 do antigo acordo. Com a revisão, a economia estimada pelos Correios passou para cerca de R$ 600 milhões.
A Fentect também se posiciona contra a privatização da estatal que, segundo o presidente Floriano Peixoto, “já está em andamento”. Ele diz que há pelo menos cinco grandes empresas interessadas em adquirir a companhia nacional. Os Correios são a empresa mais antiga do país, com 357 anos de história, e a única presente em todos os seus 5.571 municípios. Além da entrega de cartas e correspondências, a companhia também é responsável pela logística de distribuição de medicamentos, vacinas, alimentos, doações, documentos e provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
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