Geral

Uma estrada à espera de asfalto

Via que liga os distritos de Otávio Rocha e Mato Perso aguarda por pavimentação desde a sua construção, mas em época de safra da uva a falta de melhorias faz com que a população precise percorrer muitos quilômetros a mais para escoar a produção

Estamos em plena colheita da uva e as estradas do município precisam estar em boas condições para que os caminhões possam transitar com segurança e levar os produtos para seus destinos. Mas uma demanda antiga da comunidade ainda aguarda por uma solução. A pavimentação nos 12 km da estrada que liga os distritos florenses de Otávio Rocha a Mato Perso ainda é um percalço para quem precisa se deslocar até a área central de Flores da Cunha.

A estrada, de chão batido, estreita, sem iluminação e sinalização é, até os dias atuais, a única via de ligação entre Flores da Cunha e o quarto distrito. Pelas suas condições, poucos moradores de Mato Perso a utilizam, preferem usar a VRS-864, inaugurada em 2010, e que liga Mato Perso a Forqueta, em Caxias do Sul. A via de 16,4 quilômetros é toda asfaltada.

O agricultor Jones Marchet, 50 anos, é um dos que utiliza a estrada para entregar sua produção de uva em uma indústria florense. “Este ano, por causa da chuva de granizo, estou indo entregar em Flores da Cunha duas vezes por semana, mas sempre vou por Caxias do Sul. Os caminhões carregados não aguentam na estrada de chão”, afirma Marchet, que neste ano deve colher em torno de 80 mil quilos de uvas – ano passado ele produziu 240 mil quilos e fazia o trajeto Mato Perso-Caxias do Sul-Flores da Cunha duas vezes por dia. “Com o asfalto iríamos poupar tempo e dinheiro”, enfatiza.

O comerciante de produtos agrícolas e morador da localidade, Jair Balbinot, 48 anos, raramente utiliza a via de chão batido. “As vezes, quando não estou carregado, uso a via porque fica bem mais perto. Levo em torno de 500 quilos na caminhonete e não consigo subir os morros íngremes da estrada, principalmente aquele próximo da ponte”, explica. Até o Centro de Flores da Cunha a estrada por Otávio Rocha possui 25 km e demora em torno de 40 minutos para ser percorrida. Já por Forqueta, em Caxias do Sul, são 46 km, ou seja 21km a mais, mas o tempo é praticamente o mesmo, em torno de 50 minutos.

O deslocamento se torna um desafio para as cerca de 200 famílias que moram no quarto distrito. A vereadora Claudete Gaio Conte (PTD), moradora da localidade, é uma das moradoras que está sempre solicitando melhorias para o local. Ela já fez diversas indicações para que um possível asfaltamento seja realizado. “A pavimentação só vem a somar para Flores da Cunha. Os moradores começarão a investir no município, já que pelas condições de trafegabilidade eles se deslocam até cidades vizinhas para fazer suas compras, além de ajudar no escoamento de produção. Em Mato Perso não há mercado, farmácia, posto de combustível e todos os dias as pessoas precisam procurar o comércio”, salienta Claudete. Segundo ela, a área educacional de Flores também perde.  “Os alunos acabam procurando Caxias do Sul ou Farroupilha para realizarem seus estudos, principalmente no ensino médio, o que acaba afastando os jovens do nosso município”, ressalta.

Em 2017, a vereadora indicou ao prefeito municipal Lídio Scortegagna a inclusão de 12 km de pavimentação asfáltica da via no Sistema de Convênio (Sincov), coordenado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com intuito de possibilitar a destinação de recursos do Governo Federal, por meio de emendas parlamentares.

Via importante

Para o prefeito Lídio Scortegagna, a pavimentação é uma demanda urgente, porém necessita de muito investimento. “Consideramos a estrada muito importante e gostaríamos, e muito, de fazer o asfalto em toda a via. Nós já iniciamos a abertura dela em alguns trechos de Mato Perso sentido Otávio Rocha e de Otávio Rocha sentido Mato Perso. Fizemos uma extensão de asfalto, que sai da subprefeitura de Otávio Rocha e vai até o início da estrada, e que já está em processo de licitação. São mais de 860 metros, que ligam a sede de Otávio Rocha até o Parque da Gruta”, diz Scortegagna. A verba de R$ 304 mil é oriunda de uma emenda parlamentar do deputado Mauro Pereira (MDB). “Embora não apareça, a contrapartida dos moradores e do município com os equipamentos e funcionários é muito maior que a verba recebida na emenda. Se for contado drenagem, compactação e base, o valor de 1 km de asfalto chega a R$ 1 milhão”, afirma.

A administração pública trabalha na busca por mais recursos e emendas parlamentares para conseguir realizar o asfaltamento. “Evidentemente a expectativa é grande e a vontade de nós executarmos é ainda maior. Nossa ida a Brasília (nessa semana o prefeito viajou à capital) teve como um dos objetivos conseguir mais verbas para a via”, destaca. Para o prefeito, o asfalto aproximará mais os moradores de Mato Perso ao município. “Além de importante, ele é fundamental, porque é a principal ligação que temos entre o município e a sede do distrito. E se nós tivéssemos a possibilidade, seria uma das primeiras obras a serem executadas. E a gente tem certeza que, trabalhando em conjunto com a comunidade e as lideranças, vamos conseguir fazer o máximo de pavimentação possível”, enfatiza.

A pavimentação da estrada é a necessidade número um da localidade. Pelo menos é que acredita o subprefeito de Mato Perso, Gelson Dalla Rosa. “Vejo que é preciso fazer o asfalto, pelo menos começar. Mas sempre que necessário estamos dando atenção a estrada, realizando manutenções e deixando ela em bom estado de trafegabilidade”, pontua. Na primeira quinzena de janeiro, os trabalhos foram intensificados na via para colaborar no escoamento da produção.

O distrito de Mato Perso tem uma participação na indústria e na produção primária de aproximadamente 5% sobre o valor adicionado total do município florense. O distrito possui seis vinícolas com uma produção estimada de 15 milhões de litros por ano e uma produção de mais de 800 milhões de quilos de frutas – são mais de 30 câmaras frias. Existem sete aviários, que criam 660 mil frangos, além de agroindústrias e criação de ovelhas. “Somos em torno de 800 moradores que lutam, constantemente, para se desenvolver, principalmente economicamente. Por isso, o distrito merece a pavimentação da estrada por tudo que ele representa para Flores da Cunha”, destaca a vereadora Claudete Gaio Conte.

Um pouco de história

Os primeiros caminhos no meio da mata que cobria o território de Mato Perso foram abertos pelos agrimensores que traçaram as terras para a colonização em 1885. Apesar dos intensos progressos que a localidade desempenhava, somente em 1934 foi construída uma ponte que passaria a interligar as capelas de Santa Juliana, São Victor e Corona e São Tiago à cidade de Flores da Cunha. A ponte coberta, como ficou conhecida, permitiu a travessia do Arroio Herval – por meio do distrito de Otávio Rocha. A ponte de madeira, já em mau estado de conservação, foi demolida em 1976 para dar lugar a uma nova feita em alvenaria. Entretanto, mesmo após a inauguração da ponte, os moradores não costumavam utilizar a estrada devido as suas condições. Conforme consta no livro Mato Perso: uma história a ser preservada, os esforços para integrar a comunidade ao município mãe não deram certo e os moradores quase nunca vinham a Flores da Cunha. Somente em 1977 foi concluída definitivamente a estrada de Mato Perso a Otávio Rocha.

Como o deslocamento para o município sede era complicado e a estrada não prospectava por melhorias, a necessidade de escoamento da produção para outros centros econômicos do Estado levou a comunidade de Mato Perso a lutar pelo asfalto por outra via. Iniciava uma maratona para pavimentação da VRS-864 em direção ao distrito caxiense de Forqueta. Os trâmites iniciaram ainda em 1957, quando a Prefeitura de Flores da Cunha enviou um ofício ao município de Farroupilha informando que poderia colaborar na abertura de um trecho de estrada entre a divisa daquele município e a capela de Santa Juliana. Quase 10 anos depois, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) foi autorizado a elaborar o traçado da estrada que passaria a ligar Mato Perso a Forqueta. Entre muitas idas e vindas, incluindo a votação em assembleias do Orçamento Participativo e da Consulta Popular, em 29 de janeiro de 2010 a estrada foi inaugurada, se tornando a principal via entre a comunidade e outros municípios.

O asfalto nos 12 km de estrada que liga Otávio Rocha a Mato Peso é a principal demanda da comunidade. - Gabriela Fiorio
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário