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Um trabalho em família

Na propriedade de Ricardo e Janice Molon, o amor pela colônia é passado de geração para geração

A permanência dos jovens no interior é um problema em muitas cidades que têm sua economia voltada para a produção agrícola. Mas não na propriedade da família Molon, em Sete de Setembro, na comunidade Nossa Senhora das Dores: lá, são os filhos Adriano, 19 anos, e Alessandra, 15, os responsáveis pelo presente e pelo futuro do trabalho no campo – e que, apesar de serem adotados, carregam no sangue o amor pela agricultura.
Gosto herdado do pai, Ricardo Molon, que também ama o trabalho na colônia: “Se pudesse, eu não iria para a cidade nem para arrumar os dentes. Aqui temos liberdade, trabalhamos a hora que a gente quer, não estamos trancados em um prédio com um chefe todo a hora nos cobrando. Aqui a gente faz o que quer”, afirma Ricardo, que costumava apostar apenas na produção de uvas, leite e milho até pouco tempo atrás.
Foi há três anos, quando o filho passou a se dedicar exclusivamente à agricultura, que a família motivou-se a diversificar as culturas. Hoje, na propriedade de mais de 15 hectares, se cultiva de tudo: alho, brócolis, beterraba, leite, uva, pimentão, milho e feijão. “Nós começamos com isso depois que o filho começou. É a melhor coisa do mundo vê-lo dando continuidade ao nosso trabalho”, diz o pai, orgulhoso.
Ele conta que, nesses três anos, muita coisa mudou na propriedade: houve um vasto investimento em equipamentos, com a aquisição de máquina rotativa, colheitadeira, ensiladeira e tratores. “Nós já éramos de idade, íamos nos acomodar com as nossas parreiras e as nossas vacas. Só que quando o filho disse que queria ficar na agricultura, colocou como condição fazer coisas diferentes. Então pensamos em modificar, buscar melhorias”, conta Ricardo.
O filho Adriano confirma a versão do pai: ele está sempre em busca de novidades. “Eu falava: vou plantar beterraba, vou plantar isso, vou plantar aquilo. Eu chego em casa e falo: vai atrás de tal coisa e ela vai”, diz, apontando para a mãe, Janice Leoni Tichz Molon, que também é uma grande incentivadora do futuro dos filhos na colônia: “É um orgulho muito grande para nós pais. Não é fácil ver isso hoje em dia”.
Apesar do incentivo, ela não esconde deles as dificuldades desse mundo: além dos fenômenos naturais, como a seca, as geadas e as chuvas de pedra, os impostos altos também comprometem o trabalho do agricultor. “Nós gostaríamos que o governo olhasse mais para o produtor, porque a gente tem poucos incentivos, baixasse os impostos, porque os custos são muito grandes”, protesta Janice. 
Segundo ela, esses são alguns dos pontos que não incentivam, mas pelo contrário, desestimulam a permanência dos jovens no interior. “O preço do adubo dobrou, o preço do diesel dobrou, mas o da uva continua o mesmo. Dizem ser culpa do dólar, mas agora ele deu uma parada e por que os insumos continuam subindo?”, questiona a produtora rural, que complementa: “Se a agricultura parar, tudo para”. 
O marido faz coro ao discurso de Janice: “o agricultor fica na colônia porque é teimoso”, afirma. Pelo visto, tal teimosia contaminou a adolescente Alessandra, que tem planos de estudar na Escola Agrícola. “Ela já está puxando para o lado da Agronomia também. A partir do ano que vem, ela pretende estudar na Escola Agrícola, fazer os três anos lá, se formar agrônoma e tocar a propriedade no futuro”, revela a mãe.
Por falar em teimosa, não se pode esquecer da nona Eva que, mesmo com dor nas costas, insiste em rachar a lenha todos os dias: “Se ela pudesse, passava o dia todo fazendo isso”, contam os netos, aos risos, sobre o gosto da avó pela lenha. Mais uma prova de que, na propriedade dos Molon, sempre haverá combustível para manter aceso o amor pela colônia, sobrevivendo qual seja a geração da família. 

Três gerações da família: a avó Eva, os pais Janice e Ricardo e os filhos Alessandra e Adriano. - Pedro Henrique dos Santos
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