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Um 'terroir' de surpresas agradáveis

Os motivos que fazem de Encruzilhada do Sul ser uma das regiões destaque na vitivinicultura

Beneficiado por solos franco-arenosos e bem drenados, temperaturas médias anuais em torno de 17°C e amplitude térmica superior a 10°C entre o dia e a noite, o município de Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste do Rio Grande, que até bem pouco tempo obtinha destaque na economia com a criação de animais e reflorestamento, desponta como um dos polos mais promissores da vitivinicultura no país. Isso porque nessas condições a videira tem um clima naturalmente favorável à produção de uvas com altos teores de açúcar, baixa acidez e excelente concentração de matérias corantes (uvas tintas) e aromas. Além disso, as uvas de Encruzilhada apresentam um elevado grau de sanidade, devido aos fatores climáticos favoráveis, aspecto essencial para elaboração de grandes vinhos. É nesta região com relevo de leves ondulações e insolação marcante - 1.500 horas de sol durante o período de setembro a março, superando com folga o limite mínimo para a videira para este período que é considerado de 1.250 horas - que vinícolas importantes da Serra Gaúcha já implantaram seus vinhedos, como a Casa Valduga, Lidio Carraro e Chandon. Por lá são cultivadas variedades brancas, principalmente destinadas para a elaboração de espumantes, e tintas, com destaque para algumas cepas, entre elas a Teroldego.

O professor de viticultura Eduardo Giovannini foi uma das primeiras pessoas a estudar as potencialidades desta região e a perceber que por lá poderiam ser feitos investimentos em vitivinicultura de alto padrão. Ele conta que tudo começou em 1974, quando o governo do Rio Grande do Sul publicou um estudo chamado ‘Zoneamento Agroclimático’. O levantamento apresentava as regiões de maior potencial para as diversas culturas agrícolas. “Para a cultura da videira foi feito um estudo pelo falecido professor Sérgio Westphalen, que atuava na Agrometeorologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no Ipagro (atual Fepagro). Este pesquisador recolheu dados climáticos de todas as estações existentes no Rio Grande do Sul onde houvesse, no mínimo, 30 anos de observações. Paralelamente a isso utilizou os dados sobre as composições da uva obtidos na estação do Ipagro de Caxias do Sul (onde atualmente é o campus sede da Universidade de Caxias do Sul)”, relata Giovannini.

Juntando as informações sobre produtividade das videiras, teor de açúcar e sanidade da uva, cruzando-as com as observações meteorológicas, Westphalen verificou que nos anos em que a relação entre as horas de sol e os milímetros de chuva (dividindo os valores) fosse superior a 2, a uva Cabernet Franc apresentava estado sanitário ótimo e graduação superior a 20 graus brix. “Ele chamou a este índice de Quociente Heliopluviométrico de Maturação. Eu parti destas informações e apliquei também esta técnica às regiões onde haveria a possibilidade de se produzir uva e, entre as cidades, estava Encruzilhada do Sul, município que apresentou o valor médio de 2,5. Bagé apresentou 2,7 e Caxias do Sul 1,6 (abaixo do ideal)”, explica o professor de viticultura. Diante da informação de que Encruzilhada teria excelente clima para a maturação das uvas, Giovannini agregou a este estudo pesquisas sobre solo. “A partir de mapas de solo do Estado, elaborados ainda em 1977 pelo Ministério da Agricultura, consegui delimitar, ainda que com pouca precisão e grosseiramente, sub-regiões dentro deste município, que apresentassem onde o clima e o solo seriam mais propícios à viticultura de qualidade. Após várias peregrinações encontrei uma área no local chamado Corredor do Meio, onde adquiri uma propriedade junto com dois sócios, constituindo a primeira empresa vitícola da região em 1986, a Vinhedo Santa Bárbara Ltda. Iniciamos a produção em 1989, tendo, inclusive, formado um viveiro de viníferas, o qual forneceu mudas para a Almadén, em Livramento, e para a Adega Medieval, em Viamão”, conta.

Depois de um tempo a sociedade foi desfeita e Giovannini foi lecionar na escola de enologia em Bento Gonçalves (atual Campus do IFRS). “Lá tive contato com Idalêncio Angheben (à época meu colega de trabalho e também funcionário da Chandon) a quem, informalmente, contei sobre estes estudos e sobre o potencial fabuloso da região de Encruzilhada do Sul para a produção de uva fina. Naquele período a Chandon adquiriu por lá uma área para vinhedos. Foi a partir de então que houve uma explosão de investimentos de empresas e pessoas físicas da Serra Gaúcha naquela região.

Atualmente, em Encruzilhada do Sul estão instaladas as empresas (vinhedos) Casa Valduga, Lídio Carraro, Torre do Meio, Vinhedos da Quinta, Aliança, Chandon e Bodega Copetti & Czarnobay (vinhedos e vinícola). O município possui cerca de 15 produtores de uvas. As mais cultivadas são: Cabernet Sauvignon, Merlot, Arinarnoa, Malbec, Moscato, Chardonnay, Tannat, Gewurztraminer, Piriquita, Alicante, Marselam e Pinot Noir.

Reportagem originalmente publicada na revista Bon Vivant.


Região possui solos franco-arenosos e bem drenados. - Casa Valduga / Divulgação
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