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Um raio-x da cultura florense

Flores conta com, pelo menos, seis estabelecimentos que comercializam livros, além da Biblioteca Pública. Durante o ano, diversos eventos são promovidos

Em 2001, as livrarias estavam presentes em 42,7% dos municípios brasileiros. O percentual caiu para 17,7% em 2018. Esse é um dos dados do setor cultural que integra o Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC) 2007-2018, um estudo que consolida informações de diferentes pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste âmbito. Outro dado indica que videolocadoras tinham a maior participação em 2006 (82% dos municípios). Já em 2018, o número atingiu o mínimo histórico de 23%. As lojas de discos, fitas, CDs e DVDs seguiram o mesmo caminho. A análise também apontou que, em 2018, 32,2% da população morava em cidades sem museu, 30,9% sem teatro ou sala de espetáculo, 39,9% sem cinema, 18,8% sem rádio AM ou FM local e 14,8% sem provedor de internet. 
No que diz respeito ao número de livrarias, Flores pode comemorar. O município com 30,7 mil habitantes, conta com, pelo menos, seis estabelecimentos que comercializam livros. Além disso, os estudantes têm acesso a biblioteca nas escolas e a população pode encontrar obras na Biblioteca Pública Municipal Érico Veríssimo, junto ao Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi. O acervo possui cerca de 22 mil livros, entre títulos e exemplares, o que representa 1,39 habitante por livro. Porém, conforme a bibliotecária Vivian Salazar, o número de retiradas tem diminuído. No mês de outubro, a biblioteca contabilizou, em média, 4,8 empréstimos ao dia. “Tem um público que é fiel. Geralmente são mulheres adultas as que mais retiram”, conta. A bibliotecária relata que os mais procurados são títulos da literatura espírita e de autoajuda. O espaço também dispõe de uma sala destinada aos pequenos com um cantinho da leitura. 
A agricultora Lucimara Resende, 32 anos, é uma das leitoras fiéis citadas por Vivian. A biblioteca é tão habitual para a agricultora que ela nem lembra há quanto tempo frequenta o lugar. “Eu sempre gostei de ler. É uma forma de aprender, escrever melhor, ampliar o vocabulário e o conhecimento”, diz. Os gêneros de suspense e terror estão entre as suas preferências. Nesta semana, ela levou para casa os livros Em Busca de Um Novo Amanhã e Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado. Além do hábito pela leitura, Lucimara gosta do exemplar físico. “É outra sensação poder tocar no livro”. Para ela, o acesso à cultura é uma forma de distração. “Precisamos nos divertir. Poder ler um livro, ter uma opção de teatro, é uma maneira de desestressar”, afirma. 
Além da Biblioteca Pública e das bibliotecas existentes nas escolas, Flores e Nova Pádua contam com a Associação Assistencial Odisseia do Conhecimento. A entidade atua em prol do desenvolvimento da leitura e no incentivo à busca do conhecimento junto às escolas dos dois municípios. Atualmente, a ONG dispõe da colaboração de 16 voluntários administrativos, além de alunos que exercem a função de ‘guardiões’ das estantes de livros em suas escolas. Recentemente, visando o aprimoramento e ampliação das atividades prestadas à comunidade escolar, a entidade inaugurou sua sede – em um espaço concedido de forma não onerosa pela prefeitura municipal junto ao Estádio Municipal Homero Soldatelli. Desse modo, a Odisseia, que possui estantes de livros em 15 escolas do município e uma em Nova Pádua, e mais de três mil títulos de diversas áreas para inúmeras faixas etárias, tem um lugar para abrigar o acervo de livros e realizar reuniões e futuros eventos. “Nós acreditamos que a Odisseia do Conhecimento contribui com a cultura da sociedade pelo fato de trazer conhecimento através dos livros e das atividades que desenvolvemos. A partir dessas experiências, a gente imagina que as pessoas passam a agir e pensar de uma nova forma. Então, consequentemente, isso as influencia na maneira em como se movimentam, encaram a vida e se comunicam com as demais”, destaca o presidente da entidade, Maico Vinícius Ferraz de Lima.
Para o voluntário Elias Carpeggiani, o objetivo da Odisseia é fazer com que o livro se torne cotidiano, parte do dia a dia. “Lá no poema grego Ilíada de Homero, Odisseu demorou 10 anos para regressar à sua terra natal. Então, como o próprio nome já diz, embarcamos todos em uma odisseia. Talvez leve 10 anos, ou talvez 20, mas sabemos que plantamos uma semente, a semente da busca pelo conhecimento. A semente da autocrítica, a semente do questionamento. Queremos que as pessoas leiam com a consciência de que nem tudo que está nos livros é a verdade absoluta. Queremos que o livro não seja somente um presente de amigo-secreto. Queremos que a leitura seja intrínseca ao ser, seja um hábito natural”, explana Carpeggiani.
Conforme Lima, a ideia da ONG é abranger toda a população e não somente os alunos da rede municipal, estadual e particular. 
 “Estamos organizando nosso acervo e cadastrando os livros para a futura instalação de uma plataforma online. Vamos nos organizar no próximo ano para planejar como iremos alcançar a comunidade”, declara.  
Outro local que visa disseminar cultura é o Instituto Flávio Luis Ferrarini. O espaço tem como objetivos promover e estimular ações, encontros, oficinas, projetos e eventos socioculturais de cunho literário e artístico para integrar pessoas e inspirar boas ações como forma de solidariedade. “O Instituto nasceu com o intuito de prestigiar a vida e obra do Flávio e incentivar a cultura e a arte, mas acabou se tornando muito mais do que isso. Tornou-se um lugar onde conhecemos pessoas e aprendemos muito. Tivemos momentos inesquecíveis, e o mais importante, é um lugar que nos deu esperança de que unidos podemos melhorar o mundo ao nosso redor”, revela a diretora do Instituto, Madeleine Ferrarini. 
O Instituto promove palestras, lançamentos de livros, exposições, filós filosóficos (saraus), cursos e workshops; visitas de escolas a fim de incentivar a leitura e a realização de sonhos; entre vários outros projetos. Além disso, o espaço conta com uma minibiblioteca.

Ao alcance de todos

O Departamento de Cultura, que integra a Secretaria de Educação, Cultura e Desporto, é o responsável por elaborar projetos que visam o desenvolvimento cultural do município e a valorização da arte produzida pelos florenses. 
Segundo o diretor do Departamento, Michael Molon, a batalha é diária, principalmente contra os aparelhos tecnológicos, mas é preciso fazer com que as pessoas contemplem a cultura. Ao longo do ano, são promovidos diversos eventos que envolvem música, dança, teatro e outras manifestações culturais. Entre eles estão a comemoração do aniversário de Flores da Cunha, Desfile Cívico, Semana Farroupilha e Feira do Livro. O Departamento de Cultura também mantém atividades como o Coro dos Canarinhos, Coro Municipal, bandas marciais e musicais e o grupo Il Passeto – que está em restruturação para voltar em 2020. Além de administrar o Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, a Biblioteca Pública Municipal Érico Veríssimo e o Casarão dos Veronese – bem como os projetos oriundos destes espaços. 
Futuramente, a cidade passará a contar com a Casa da Cultura Flávio Luis Ferrarini. O local também irá abrigar a Biblioteca Pública. De acordo com o diretor dde Cultura, no início de 2020 será lançada a próxima etapa das obras, que serão realizadas via Sistema Pró-Cultura RS/LIC.

Leitora voraz, a agricultora Lucimara Resende é frequentadora assídua da Biblioteca Municipal. - Bruna Marini
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