Um presépio feito por muitas mãos
Comunidade Nossa Senhora Aparecida inclui alunos da catequese na elaboração de enfeites de Natal e montagem do cenário do nascimento de Jesus
Ao entrarmos na Igreja da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, em Flores da Cunha, somos recepcionados por um presépio e uma imponente árvore de Natal que, neste ano, foram decorados próximo à porta, logo à esquerda.
Concluídas no início do mês, as montagens demoraram cerca de uma semana para ficarem prontas e, pelo segundo ano consecutivo, foram feitas por dezenas de mãos.
Para dar vida ao palco do nascimento de Jesus, 47 alunos das quatro etapas da catequese – pré-Eucaristia, Eucaristia, pré-Crisma e Crisma – e mais 20 voluntários que integram as equipes administrativa, litúrgica, grupos de canto e pessoas da comunidade, colocaram a ‘mão na massa’. Entre elas está a coordenadora de catequese, Silvana Arcaro Mannrich, de 34 anos, que há quase quatro se propõe a colaborar com a Igreja: “Acredito muito que a comunidade precisa se manter viva e também acredito na catequese. Eu penso que se envolvermos as crianças em um projeto que elas se sintam acolhidas e parte da comunidade, isso vai contribuir muito para uma formação de lideranças, e é isso que me motiva, é fazer a diferença; não fazer apenas por fazer, mas sim o que se pode fazer para contribuir, para melhorar e para que toda a comunidade se sinta parte disso”, emociona-se, acrescentado que os moradores sempre acolhem os projetos e são bastante participativos.
Conforme a florense, tanto a disposição das imagens no presépio, quanto a colocação de itens decorativos no pinheirinho, foram realizadas pelas turmas de catequese, sendo assim, poucos artigos precisaram ser adquiridos: “Tem a mão deles aqui. A gente faz isso e traz todas as turmas para a Igreja, porque é importante que eles venham aqui, que sintam, façam parte; e eles adoram”, revela a gerente financeira, ao mesmo tempo em que esclarece que cada item foi feito por uma turma diferente e a proposta repassada aos alunos foi de confeccionar dois enfeites iguais, um para a árvore da Igreja e outro para levarem para suas casas.
“O que eles escreveram na mensagem que colocaram no pinheirinho é o que eles gostariam de pedir para o menino Jesus nesse Natal. Eu achei legal que poucos pediram para si, mas para amigos, família e comunidade. E esse espírito é o que a gente fala na catequese, que é a questão da preparação e de nós entrarmos no Advento, afinal, buscamos fazer esse trabalho, primeiro, porque acreditamos nele e, segundo, porque achamos que a catequese é a continuação da comunidade, não só aqui, mas em todas as outras”, destaca Silvana, completando que é gratificante ver as pessoas circulando a árvore de Natal e lendo as singelas mensagens escritas pelos alunos.
Dizeres que se somam ao presépio e montam o cenário do nascimento de Jesus, o qual a coordenadora de catequese sugeriu que fosse feito em outro ponto da Igreja, com o intuito de se diferenciar dos anos anteriores e, ainda, desafiar a comunidade no momento da montagem. “Até é engraçado porque, como as crianças já estão por dentro de toda a história e da simbologia do Natal, elas já vão apontando o que falta, e como sempre montávamos no canto da Igreja, a gente tinha a estrela que ficava lá e quando as crianças vieram aqui eu pedi se elas achavam que estava faltando alguma coisa e todas responderam que era a estrela. É bacana isso, porque não é só tu ler uma passagem bíblica, a história ou fazer alguma coisa na catequese, vai além. Me parece que aqui, na prática, eles aprendem mais”, destaca Silvana, acrescentando que o orgulho estampado no rosto dos alunos que colaboram pode ser visto na presença das famílias nas celebrações religiosas, nas quais, inclusive, a maioria dos alunos se dispõe a participar.
“O foco principal que tentamos trabalhar na catequese é a questão de que a comunidade não precisa só de ajuda, ela precisa também de lideranças, então é isso que a gente está tentando despertar, além do significado de viver em uma comunidade”, enaltece a florense, que reforça que nada disso seria possível sem pessoas engajadas e comprometidas, como a coordenadora de liturgia do Aparecida, Ivone Mezzomo Tafarel, de 67 anos que, há quase 40, envolve-se nas mais diversas atividades do bairro.
“Faz vários anos que sou coordenadora da liturgia, então eu coordeno tudo que é tipo de evento. Temos uma estrutura boa para montar as equipes, contamos com três grupos de liturgia, então é feito um calendário para criar uma rotação. Temos a catequese envolvida e isso é bom de se trabalhar, porque a comunidade também é envolvida e participativa, em todos os aspectos”, orgulha-se a aposentada, que também é responsável por montar toda a estrutura física do Natal na Igreja.
Desde o presépio e a árvore, até a coroa do Advento – que representa o primeiro tempo do Ano Litúrgico e a união das pessoas nas quatro semanas que antecedem o nascimento de Jesus –, em todos os detalhes, a mão de Ivone está presente. “Quando se aproxima dezembro eu já tenho que estar alerta ao que vamos fazer, e eles me perguntam quando vamos começar, o que vamos fazer, aí eu tenho que dar a largada. Teve anos que as entidades, Clube de Mães e ministros fizeram, mas, com a pandemia, nós fomos montando do jeito que eu sei, porque a gente sempre faz da nossa imaginação e com o que conseguimos aproveitar do material que temos e de anos anteriores”, conta a coordenadora de liturgia, acrescentando que quando vai a sua chácara procura recolher algumas flores e folhas para utilizar na decoração.
Com o tema ‘Cristo é nossa força’, neste ano, a casinha e o cercado do presépio foram construídos a partir de retalhos de madeira de uma parede do salão da comunidade – que teve que ser retirada para dar lugar a uma porta de emergência – que ganharam vida nas mãos de um marceneiro do bairro. “Ele não é um presépio de luxo, é um presépio simples, as imagens são doações de um frei que já faleceu, há muitos anos, e a gente guarda com muito carinho, são imagens grandes e lindas, temos que expor”, valoriza a florense, lembrando que antes dessas doações as imagens eram menores, mas que a tradição de montar o palco no nascimento de Jesus sempre fez parte da comunidade.
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