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Um ônibus movido pela criatividade

Há 30 anos, Valdir Bolzzoni segue a tradição familiar e atua como artesão, ferreiro e ferramenteiro, profissões que enfrentam o desafio da sobrevivência

Imaginação e paciência são os combustíveis que movem um ônibus no qual os assentos dão lugar às prateleiras que expõem inúmeros artigos em madeira, ferro e muitos outros elementos que se transformam em obras de arte nas mãos do artesão, ferreiro e ferramenteiro, Valdir Bolzzoni, de 72 anos. A história deste florense, morador do bairro Pérola, é o tema da penúltima reportagem do Jornal O Florense em homenagem ao mês do idoso. 
“Quando são 5h da manhã já estou aqui dentro. Corto, lixo, pinto, faço alguma coisa que não faz barulho para deixar os outros dormirem e depois das 7h começo meus trabalhos.” Assim, há mais de 30 anos, é a rotina de Valdir Bolzzoni, que se orgulha em contar. O segredo, segundo ele, é que encara o que faz como um passatempo e não como uma obrigação, mas, nem sempre foi assim. 
Por 22 anos ele morou no Sudeste do Brasil e não pôde atuar com o que gosta, mas, sempre se esforçou muito. “Em São Paulo eu trabalhava de garçom e churrasqueiro, que eu nunca gostei, mas para ter alguma coisa me dediquei a fazer isso. Lá consegui comprar as ferramentas que precisava para fazer o meu serviço, aí depois eu vim para cá”, relata o artesão.
Após se estabelecer novamente em Flores da Cunha, Bolzzoni colocava em prática o que o pai, José Bolzzoni (in memoriam), e o irmão, Olivo Bolzzoni (in memoriam), já faziam: eles eram carpinteiros e confeccionavam suas próprias ferramentas. Mesmo assim, Valdir conta que foi aprendendo tudo sozinho. “Aprender sem ninguém para ensinar é difícil, mas, com vontade de fazer as coisas eu fui conseguindo. Se você tem vontade, você vai conseguir fazer. A cada dia se aprende mais e os próprios fregueses te ensinam a trabalhar”, explica.
“Teve uma vez, logo no início, que para fazer duas ferraduras eu levei um dia e gastei dois sacos de carvão. Elas ficaram tortas e eu desanimei, pensei que não poderia trabalhar fazendo ferramentas e forjando, porque não sabia fazer e, no dia seguinte, tive uma ideia que deu certo. Agora, em um instante, eu faço uma ferradura”, lembra, aos risos.
Na mesma época, o florense utilizava um carrinho de mão, com quatro rodas, para carregar suas produções até a estrada, onde permanecia por todo o dia, produzindo e comercializando. Mas, nesse processo, ele precisava contar com a ajuda de familiares. Foi então que, mais tarde, decidiu comprar uma Kombi para otimizar o processo. “Dias depois o Ivo Molon veio aqui e disse que havia comprado um ônibus barato, que não podia ser usado para transporte, mas que o estado estava bom. Após isso, tive a ideia de comprar um ônibus aí procurei e comprei esse aqui, em Caxias”, evidencia.
Há seis anos o ônibus com mais de 600 peças é seu grande aliado no dia a dia. Muito mais que um meio de transporte e um local para expor os itens, é uma espécie segunda casa para o ferramenteiro – uma vez que conta com uma pequena cozinha e um espaço para descanso, nos fundos. 
Bolzzoni é sócio da Associação dos Artesãos de Flores da Cunha e participa de feiras e eventos nos quais o Espaço Arte e Artesanato está presente. E é na mão dele que chaveiros, relógios, porta-chaves, porta-canetas, capelinhas, terços, porta-garrafas, paliteiros, bonecos, mesinhas, carrinhos, fruteiras, ferramentas, facas, ferraduras, e muitos mais incontáveis artigos ganham vida. “O que aparecer na mão eu estou fazendo, as coisas pequenas para artesanato eu faço de tudo. Os pedaços que estão por aí dá para aproveitar todos”, argumenta, ao mesmo tempo em que defende que qualquer material de sucata pode ser transformado. 
Com essa variedade de produtos e serviços não é difícil entender porque muitas pessoas de outros locais, como Caxias do Sul e Santa Lúcia do Piaí, se deslocam até o município. “Eles vêm até aqui porque lá não tem, por isso precisaria que alguém continuasse o trabalho. Eu falo para muita gente aprender, para incentivar outras pessoas, que venham aqui que eu ensino, mas não aparece ninguém. Elas não querem”, lamenta. 
O ferreiro também ressalta que seus clientes mencionam que quando ele não puder mais fazer essas atividades, vai fazer muita falta. “Eu fico com pena, porque se alguém aprendesse a fazer alguma coisa pelo menos iria tocando adiante, mas as pessoas têm pouco interesse. O meu filho, que faz móveis sob medida, por exemplo, falou que ele não é para isso, então não adianta forçar, tem que gostar para fazer”, evidencia e complementa dizendo que é um serviço bom e tranquilo, sem muitos esforços.
“Eu gosto de fazer tudo, não tenho preferência. Cada dia sinto mais vontade de fazer, sempre tem uma coisa diferente para aprender. Vou continuar até quando Deus quiser. Digo sempre que gostaria de trabalhar até o último dia, fazer o que eu gosto, porque sou muito feliz no meu trabalho, no meu passatempo”, finaliza. 

Dia Internacional do Idoso
Para comemorar o Mês do Idoso a Comissão Especial do Idoso da Câmara de Vereadores de Flores da Cunha deu início a distribuição do Guia do Idoso Florense. A cartilha é uma iniciativa da Comissão Especial do Idoso e tem o objetivo de alertar o público da melhor idade sobre seus direitos, além de prestar dicas de saúde e informar sobre os serviços públicos direcionados a eles. A distribuição seguirá durante as etapas de vacinação de reforço dos idosos e junto aos bancos, no período de recebimento da aposentadoria.

 - Karine Bergozza  - Karine Bergozza
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