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Um novo ciclo para os vinhedos

Após uma safra difícil, agricultores iniciam a época de poda visando uma produção livre de doenças

Pelos vinhedos do interior de Flores da Cunha e Nova Pádua as tesouras estão em pleno funcionamento. Agosto inicia e com ele também um dos principais ciclos de trabalho para viticultores gaúchos – a poda. O período é de eliminar da parreira todos os galhos e gemas que não serão produtivos e garantir uma boa safra depois da quebra registrada na última produção. Entre os benefícios de uma poda bem executada está a harmonização da capacidade produtiva e do vigor do crescimento dos ramos que a videira pode apresentar durante o ciclo. Depois do cenário de adversidades que foi razão de um ano nada positivo para a agricultura, a orientação é caprichar na poda e também investir nos tratamentos de inverno, que eliminarão focos de fungos já instalados nas plantas.

O técnico em agropecuária da Emater-RS/Ascar, Jair Carlin, enfatiza que uma das recomendações mais importantes para este período e, especificamente na poda deste ano, é a utilização dos tratamentos de inverno. Depois de meses onde as chuvas foram acima da média, com calor e geada fora de época, prevenir doenças é importante no início de um novo ciclo produtivo. “Além das perdas com as adversidades do clima, na última safra perdemos ainda com a incidência de doenças fúngicas como, por exemplo, o míldio (popular mufa), a Botrytis e a Glomerella (doenças que causam a podridão da uva madura). Por isso a recomendação é que sejam feitos os tratamentos de inverno no início da poda e logo que se concluída essa fase. Assim se eliminará o foco dessas doenças nos vinhedos”, explica Carlin.

Durante o período de dormência, muitos fungos sobrevivem nos restos culturais e na própria planta, podendo causar doenças na safra seguinte. Nem todas as doenças são controladas com facilidade utilizando apenas o controle químico, o que torna necessária a adoção de outras práticas de controle, entre elas a eliminação dos restos culturais infectados e de partes da planta comprometidas pela doença ou portadoras do inóculo fúngico. “É muito importante um tratamento que elimine os focos desses fungos para que o início da brotação seja sadia e livre de doenças, o que resultará em uma safra de qualidade”, destaca o técnico.

 

Hora de podar

De acordo com Carlin, o clima adverso do último ano não interfere no modo de podar os vinhedos, mas o produtor deve pensar em produzir com qualidade. “Recomendamos que o agricultor faça uma poda mista, com muita atenção para que se tenha uma boa safra no próximo ano. É importante que ele saiba que podar não é simplesmente suprir galhos, mas sim escolher e deixar na planta, e na posição adequada, as gemas férteis que são fundamentais para a frutificação”, orienta. O técnico indica que o correto é que sejam mantidas de 120 mil a 130 mil gemas por hectare de área plantada.

Muitos agricultores já aderem ao sistema de poda antecipada (no outono ou início do inverno). Essa condução é uma alternativa para que os pequenos produtores possam otimizar a mão de obra familiar e diminuir os custos de produção. Pelo fato de ser feita quando as gemas ainda estão dormentes e não responsivas ao corte, as plantas são estimuladas a brotar mais tarde em relação às podadas em agosto. Isso também se apresenta como uma estratégia para escape dos danos causados por geadas tardias. “Podemos dizer que a maioria dos produtores rurais que tem grandes áreas de vinhedos começa a podar antes. É uma alternativa que vem se expandindo, embora ainda não esteja totalmente difundida, mas auxilia para dispensar a contratação de mão de obra”, complementa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores e Nova Pádua, Olir Schiavenin.

O período da poda dura em média 30 dias, atingindo o término na metade de setembro. Depois se iniciam os períodos de brotação, floração e a formação de grãos, que despontará uma nova safra.

 

La Niña deixará a primavera seca

O clima dos meses que seguem o período da poda nos vinhedos é fundamental para assegurar uma safra de qualidade. Ao contrário do ano passado, que teve calor e frio fora de época, chuvas acima da média e granizo, neste ano os meteorologistas adiantam que, para a tranquilidade dos agricultores, o clima deve colaborar com as produções agrícolas. Diferente de 2015, quando o Estado estava sob influência do fenômeno El Niño, neste ano será o efeito La Niña que prevalecerá. Com ele virá um período de chuvas abaixo da média, condição que deve prevalecer sobre boa parte da primavera – que se inicia no dia 23 de setembro, assim como as temperaturas mais amenas.

Os dados são do Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS), que destaca que, apesar de períodos mais secos, não se espera nenhuma estiagem neste período. “O La Niña é o oposto do El Niño e esse tempo com menos chuvas não deve chegar ao ponto de prejudicar o trabalho na agricultura” adianta o meteorologista Flávio Varone. Além da tendência de diminuição das chuvas, os próximos meses ficam marcados por temperaturas amenas intercaladas com períodos mais típicos do inverno. “Com a influência do La Niña, o tempo ficará mais seco, consequentemente as noites ficam com menos nebulosidade e isso deixa o tempo mais resfriado. Essa condição de frio deve se estender um pouco mais para a primavera, o inverno deve se prolongar e manter essas condições de temperaturas mais baixas nas noites e madrugadas na nova estação”, prevê Varone.

De acordo com o meteorologista do Cemet-RS, de agora em diante não acontecerão mais ondas de frio prolongadas. “As temperaturas mais agradáveis dessa semana devem ser uma tendência para o mês de agosto. Não chega a ser um veranico, ao contrário do ano passado, onde o agosto foi praticamente sem chuvas e de temperaturas altas”, pontua.

 

Orientações na poda envolvem um manejo correto, buscando harmonizar a capacidade produtiva da planta, aliado aos tratamentos de inverno. - Camila Baggio/Arquivo O Florense
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