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Um Dia dos Pais renovado

Filhos celebram a data com o pai Alcione, que "renasceu" após 18 dias internado na UTI com Covid-19

18 dias na UTI. Uma situação difícil para qualquer pessoa, mas especialmente para um pai com dois filhos ainda adolescentes. Esse foi o desafio que o coronavírus colocou no caminho de Alcione Luiz Cioquetta, 58 anos, Pedro Henrique Cioquetta, 15, e Marco Antonio Cioquetta, de apenas 11. Para eles, o Dia dos Pais, celebrado no  domingo, dia 8, foi bem diferente dos anteriores, pois é o primeiro de uma vida nova.  
“Eu renasci. Segundo o que me foi dito depois pelos médicos de Caxias do Sul, quando cheguei eu tinha apenas 10% de chances de voltar para a casa. Acordei 18 dias depois, sem entender onde eu estava. Se eu tivesse morrido, não teria me despedido de ninguém. É um desespero, ninguém merece passar por uma situação assim”, relata Alcione. O mais assustador foi que tudo aconteceu em uma progressão muito rápida, que pegou a todos de surpresa. 
Na sexta-feira, dia 7 de maio, Alcione trabalhou normalmente. No dia seguinte de manhã, foi a Caxias do Sul buscar materiais para o trabalho. Voltou cansado e decidiu deitar, mas acordou ainda mais exausto. Então, foi ao Posto de Saúde, recebeu medicação e marcou o exame da Covid-19 para segunda-feira de manhã. “Tomei o remédio que me deram e apaguei. Não lembro o que eu fiz no sábado de noite, não lembro o que eu fiz domingo o dia inteiro”, conta ele. 
Mal o sol da segunda-feira raiou, Alcione foi encontrado na cama pela mãe, fraco, sem forças para nada. Coube à sobrinha, Rafaela, e ao namorado dela levarem o tio arrastado pelas escadas até o Hospital Nossa Senhora de Fátima, ainda de manhã, lá pelas 7h. Mais tarde naquele mesmo dia 10 de maio, ele já estava na UTI do Hospital Geral em Caxias do Sul, onde ficou 18 dias internado - período que não passa de um borrão na memória de Alcione.  
Tão ruim quanto essa situação foi a dos que ficaram de longe, cientes de tudo que acontecia. Quem explica é o filho Pedro Henrique: “Três dias antes dele ir para o hospital, eu vim aqui, ele estava só com uma gripe. Na segunda-feira, eu estava na aula online e minha mãe contou que o pai tinha baixado hospital, estava esperando por uma UTI. Nós ficamos em choque, não esperávamos que fosse acontecer tão rápido. Não dava para dormir bem sem saber o que ia acontecer. Era só rezar”, conta. 
A bênção veio dos céus, segundo Alcione. Depois de duas semanas na UTI, os médicos decidiram que a solução era uma traqueostomia. Mas na noite de 25 para 26 de maio, dia de Nossa Senhora do Caravaggio, ele começou a se sentir melhor. “Já estava programada a traqueostomia, mas logo eu fui para o quarto. Eu considero essa data o meu segundo aniversário”, conta Alcione, que já foi a Caravaggio agradecer o milagre, mesmo que ainda tenha dificuldades para caminhar. 
Como consequência da Covid-19, ele perdeu 12kg e 35% da musculatura, o que o obriga a fazer fisioterapia três vezes por semana, sem falar na anemia e na alteração nos níveis da diabetes. As razões para seguir em frente são as mesmas pelas quais perguntou assim que despertou no leito da UTI: os filhos. “Nós temos que buscar motivação na família. Eu tenho 58 anos e dois filhos que dependem de mim. Eles me ajudam a fazer fisioterapia, estão sempre por perto. São importantes para mim como eu sou para eles”, afirma Alcione, que também faz questão de agradecer o apoio dos amigos e dos médicos que o atenderam. 
O filho Pedro justifica a ajuda na recuperação, que contou até com uma sirene para que o pai avisasse os momentos em que precisava de algo: “Nós temos que ajudar quem a gente ama, estar sempre do lado. Se fôssemos nós nessa situação, ele faria a mesma coisa. Foi muito ruim ficar todo aquele tempo sem ver o pai, sem conseguir falar com ele. Depois, foi um alívio: a gente podia voltar a dormir tranquilo, porque ele estava bem”. 
Já o irmão caçula, Marco Antônio, economiza nas palavras porque ainda se emociona ao lembrar de toda a situação. Mas tudo o que o menino de 11 anos queria dizer já estava escrito no cartaz que preparou especialmente para o momento do reencontro: “Bem-vindo! Sentimos muita saudade! Sempre te amamos e sempre te amaremos! Fique bem, fique muito bem! Esperamos esse momento há dias! Um beijo da nossa família!”. 

Passado o susto provocado pelo vírus, os filhos Marco Antonio e Pedro Henrique podem aproveitar novamente a companhia do pai Alcione. - Pedro Henrique dos Santos
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