Transportes de cargas líquidas têm alta procura
Em contrapartida, demanda por carga a seco diminuiu devido a Covid-19
O movimento de cargas pelo Brasil não parou devido a Covid-19. Enquanto, setores de indústria e comércio começam a contabilizar as perdas, o serviço de transportes de cargas líquidas tem apresentado aumento na demanda durante esse período. O principal mecanismo tem sido a produção de álcool gel. Com isso, algumas empresas do setor já pensam em contratar mais funcionários para atender a demanda. É o caso do Rodo Mio, que transporta, além de líquidos alimentícios, álcool etílico hidratado para atender os fabricantes de álcool gel. Conforme o gerente comercial Ademar Mioranzza, a empresa está operando com 80% de sua frota. “Como atendemos os engarrafadores de bebidas alcoólicas, e neste caso se enquadra o vinho também, tivemos a demanda retraída em função de alguns engarrafadores terem parado momentaneamente suas atividades. Mas, por outro lado, temos uma demanda bem expressiva nos carregamentos de álcool”, enfatiza.
Mioranza relata que a maioria dos clientes são engarrafadores de marcas renomadas e atendem fornecimento em grandes redes de supermercados, fazendo com que a empresa tenha um fluxo de transporte quase normal. “Comparado com outros anos, nesta época a demanda se mantém estável de um modo geral”, relata.
Os fabricantes de álcool, localizados no interior de São Paulo, têm mantido a produção, o que garante o transporte. “Acreditamos que o consumo de álcool gel ainda será alto nos próximos meses e com a atividade econômica voltando ao normal aos poucos, as cargas alimentícias deverão retomar a sua normalidade, assim aumentando a demanda da empresa. Assim, possibilitamos até novas contratações”, afirma. Atualmente, a Rodo Mio possui 28 caminhões e está com 22 em atividade.
O mesmo cenário é vivenciado pela Transportes Montanhês. Se por um lado houve perdas no transporte de cargas como vinhos e derivados, por outro aumentou a procura por cargas de álcool gel. Conforme o auxiliar administrativo, Felipe Venturini, a empresa conta com oito caminhões e 11 funcionários e tem seu transporte baseado em bebidas líquidas como destino para São Paulo e álcool gel para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Atualmente a demanda dos serviços originados do Estado caiu quase por completo, pois o consumo da bebida, que mais transportamos, não está sendo consumido. Mas, por outro lado, a demanda por transporte de álcool cresceu exponencialmente devido a ser a matéria prima para a fabricação do álcool 70% e álcool gel 70%. Portanto, a perda em uma compensou a outra”, diz Venturini.
Segundo ele, algumas adaptações foram feitas nos caminhões para que o ritmo de trabalho se mantenha acelerado. “Acreditamos que a demanda do álcool vai baixar, pois diversas empresas passaram a fabricar esse produto. Porém, o álcool gel estará mais presente na higiene dos brasileiros daqui por diante”, afirma.
Normalidade
A empresa Rodo Corso também atua com o transporte de cargas líquidas. Para o diretor da empresa, Celso Corso, todos os setores irão perder com a pandemia. “A questão do transporte de álcool aumentou muito e, por outro lado, os fermentados diminuíram, porque a maioria das engarrafadoras de São Paulo está fechada por causa do coronavírus”, afirma. Corso informa que, normalmente, a empresa transporta até São Paulo um tipo de mercadoria e retorna com outra. “Hoje não está ocorrendo muito isso. Às vezes precisamos ir vazios para voltar com álcool. Mas isso acaba tendo um prejuízo para a empresa”, pontua.
A empresa, que possui 26 caminhões, está com três motoristas em férias. “Mesmo tendo a procura do álcool, estamos fazendo um revezamento de motoristas porque não há cargas suficientes para todos ao mesmo momento”, diz ele, que não pretende demitir funcionários. “A empresa está andando normalmente. Não temos previsões para demissões e nem para novas contratações. Temos um caixa para aguentar alguns meses caso a situação piore. Mas acho que não seremos atingidos fortemente”, adianta ele, que tem acompanhado as pesquisas semanais realizadas pelo Departamento de Custos Operacionais da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (DECOPE).
Lado oposto
Um cenário praticamente oposto pode ser visto na questão do transporte de cargas secas. A empresa florense TMS Transportes, que possui filiais em Santa Catarina e São Paulo, estima uma perda de 80% do seu faturamento no mês de abril. “Ficamos nesses últimos 15 dias em férias coletivas, agora retornamos com um quadro de escalas para nossos funcionários”, enfatiza a gerente financeira Bárbara Sandi. A empresa carrega principalmente móveis e acessórios para móveis. “Estamos acompanhando dia após dias como anda o cenário econômico. Mas o momento está bem complicado e a inadimplência está subindo. Muitos clientes estão ligando para renegociar os pagamentos”, informa o gerente da empresa, Thomas Sandi.
A empresa possui 32 caminhões e está utilizando em média 15% dos seus veículos. “Não pensamos em reduzir funcionários, pois acreditamos que a situação irá melhorar a partir dos próximos dias com a reabertura do comércio. Vamos torcer pra isso”, declaram.
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