Tite: “Busca constante do aperfeiçoamento profissional”
Palestra do técnico Adenor Bachi foi ministrada a pais e alunos da Escola Interativa no Clube Independente no dia 2
Saúde, família, amigos e profissionalismo. Citando estas palavras, Adenor Leonardo Bachi, o Tite, iniciou a palestra que fez em Flores da Cunha na noite de 2 de junho, lembrando ainda de religião: “fazer o bem é a melhor religião”. “Tenho orgulho daquilo que faço, muito orgulho. Aprendi, e tenho aprendido com meus erros. Já fiquei desempregado, com vergonha de sair de casa. Tinha muito medo, até ler a autobiografia de Nelson Mandella. Lá ele conta que em todas as decisões que tomou na vida o medo estava presente. Ou seja, é normal. Toda trajetória tem coisas boas e adversidades. Faça o teu melhor agora, com coragem e qualificação. A coragem do enfrentamento e o aperfeiçoamento constante nos fazem ficar melhor”, disse o técnico.
Tite esteve em Flores da Cunha a convite da diretora da Escola Interativa, Eroni Mazzocchi Koppe, que também é sua prima em segundo grau. No encontro realizado no Clube Independente o treinador contou um pouco da trajetória pessoal e profissional a pais, alunos e professores, além de responder a perguntas e distribuir autógrafos. O evento complementou as atividades do projeto Interativa em Cena, a ser desenvolvido pela escola entre 11 e 14 de junho.
Com frases de impacto e se movimentando muito entre os presentes, Tite contou que recusou seis convites (sendo dois do Grêmio, este ano) de trabalho em clubes da Série A do Brasileirão por opção. Está em um período que chama de ‘reciclagem’ para voltar a trabalhar depois da Copa do Mundo. Esteve em Portugal para assistir à final da Liga dos Campeões entre Real Madri e Atlético de Madri (o Real venceu na prorrogação por 4 x 1).
Antes da palestra Tite conversou por 10 minutos com o jornal O Florense e a rádio Viva no hall do Clube Independente. Na ocasião, falou, entre outros assuntos, que a Seleção Brasileira é uma das favoritas à conquista da Copa – uma das, não a favorita. Confira os principais trechos do bate-papo.
O Florense: Desde 1998, o que mudou no Tite que começou como comentarista esportivo numa rádio de Caxias do Sul, tornou-se conhecido ao ser campeão com o Caxias em 2000 e, recentemente, chegou ao auge da carreira sendo multicampeão com o Corinthians?
Adenor Bachi, o Tite: A busca constante do aperfeiçoamento profissional. É isso o que eu tenho passado para todas as pessoas. Tu queres crescer, busque informação. Eu sou meio irrequieto. Outro atributo é ter coragem para enfrentar os desafios e nossos próprios erros. Porque a gente, de alguma forma, se inibe a eles. Qualificação e coragem para seguir em frente, até porque, e eu poderia me prolongar aqui, que eu fiquei oito meses desempregado. Eu paguei um preço, nós pagamos um preço pelos nossos objetivos. Essa qualificação profissional te dará uma maior experiência para compreender os fatos. Continua o medo, continua o receio, da mesma forma humana, como todos.
O Florense: Acompanhando seu trabalho pela imprensa percebo que você é o mesmo Tite de 2000, principalmente no relacionamento de respeito com as pessoas. Naquela época tua família estava sempre junto. Como é hoje depois de notória evolução?
Tite: Cara, eu vejo assim: quando a gente fala em família, em amor, nisso está inserido a esposa, os filhos, o namorado, o amigo. Tudo isso, mais a atividade profissional que se gosta, saúde e espiritualidade são quatro aspectos importantes que, a gente estando bem com eles, tá legal. E eu tenho sim um pouquinho dessa atenção e desse orgulho de estar com a família, trocando ideias, devolvendo para a vida aquilo que a vida me deu, me proporcionou. Mas vou te resumir em uma coisa, uma repórter falou para mim recentemente: “Tite, quando tu te despediste do Émerson tu disseste para ele procurar uma parceira legal para ajudar na educação dos filhos”. Aquilo ali me surpreendeu, por que ele se separou e tal. Eu entendo que é dessa forma o caminho para estar legal.
O Florense: Na palestra tu abordas tua trajetória de vida, com erros e acertos. Qual a mensagem que tu quiseste passar para os pais e alunos presentes?
Tite: Uma trajetória de vida de um cara que não é o Super-Homem, mas é o cara que errou um monte de vezes. Em algumas palestras ou conversas as pessoas colocavam somente as virtudes, e eu ficava pensando: bah, tô ferrado, não vou conseguir nenhum dos meus objetivos, ele acerta todas... (risos) Acerta tudo! Então eu tenho também a atenção de mostrar o outro lado, que é o lado do erro, das dificuldades, do redirecionamento... Em 1998 surgiram duas possibilidades profissionais: ou trabalhar três meses como técnico no Pelotas ou como comentarista em uma rádio por um ano, sendo aquele um ano de Copa do Mundo. Pôxa, vou trabalhar um ano, pensei. E depois isso me ajudou.
O Florense: Ou seja, uma pessoa normal.
Tite: Mas é importante citar os dois lados porque o garoto, daqui um pouco, ele pensa e fica idolatrando, ele é campeão, campeão, campeão... Eu uso muito essa frase: eu não sou Super-Homem. Já li isso escrito pela Martha Medeiros. Todos têm seus altos e baixos, num dia não está legal, está chateado. Essa busca para seguir em frente, com coragem e sempre aprendendo é fundamental. Uma coisa que podem falar, e eu tenho uma série de defeitos, é que sou autêntico. Eu sou o mesmo cara lá de trás. Não vai ser um título ou uma grana a mais na conta bancária que vai mudar o meu jeito de ser. Isso eu trago da minha família. Esse aspecto de educação eu tenho bem forte.
O Florense: Em entrevista a um jornal paulista o senhor disse que recusou seis convites para trabalhar em clubes este ano. Quais são os planos para o futuro? Muito se falou em Seleção Brasileira, mas agora seria prematuro, antes da Copa, falar no assunto...
Tite: Eu cuido para ter simplicidade e humildade e não ter falsa humildade. Eu cuido para não falar de objetivo e de sonho, sabe, de equilibrar isso tudo. O futebol, a passagem, as equipes, foram grupos que venceram, não somente eu. No Caxias, por exemplo, era um grupo normal de pessoas em um momento especial de suas vidas. Foi uma equipe de trabalho toda que venceu. Não adianta contratar o Tite e achar que ele vai fazer as coisas. Não, porque vai precisar de um clube estruturado, de uma torcida, de uma direção, de um grupo de funcionários e de atletas. Caso contrário, não vence. E eu sei disso muito bem. Não será essa valorização e esse ‘tchan’ que farão que eu não tenha a ambição, sim, a ambição é ser técnico da Seleção Brasileira; o meu trabalho me credenciou a isso; serei o cara, não sei. Se o Felipão terminar a sua trajetória e se a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) definir dessa forma, quando sentarem e colocarem num papel quatro ou cinco nomes eu tenho certeza que o Tite estará entre eles. Se for escolhido ou não, não sei. Mas devo estar na lista por esse passado que tenho, eu tenho essa consciência. Todos devemos sonhar, é um combustível, meu sonho será realizado se tiver a oportunidade de treinar a Seleção.
O Florense: Qual a tua opinião sobre a Copa do Mundo no Brasil? A Seleção está mais pressionada por jogar diante da sua torcida?
Tite: Eu estava falando com a minha esposa Rose antes de vir para cá. À tarde assisti à entrevista do Felipão na televisão. E daqui um pouco na entrevista ele deu uma gesticulada, uma bufada, e disse: “Eu quero que comece logo isso aí”. Se um cara com a experiência que ele tem, de Portugal e de Brasil, de campeão mundial, também tem essa expectativa, tu imagina os atletas! E tu imaginas a pressão. Hoje a gente anda em vários locais e vê a mobilização, mais do que justificado. A maioria das escolas do país está decorada, aqui não é diferente. O assunto bomba em todas as emissoras de televisão, direto. Tu imaginas o atleta que tem 21 ou 22 anos olhando isso. A pressão é enorme em cima de uma conquista. É importante ‘soltar um pouco o elástico’ para que a equipe produza, por exemplo, como na Copa das Confederações, em 2013. Meus favoritos são Brasil, Alemanha e Argentina, não a Espanha, que uma geração está no final de um ciclo. Aqui o componente físico irá pesar, o calor, mais dias de recuperação. E como surpresas acredito em França, Chile e Bélgica.
Quem é
Adenor Leonardo Bachi, 53 anos, o Tite, é natural da localidade de São Braz, no interior de Ana Rech, em Caxias do Sul. Começou nas categorias de base da SER Caxias como meia e se fixou como volante. Atuou no Caxias, Esportivo, Portuguesa-SP e Guarani-SP como jogador. Parou de atuar aos 27 anos após seis cirurgias nos joelhos. Como treinador, já comandou Guarany de Garibaldi, Marcopolo, Veranópolis, Ypiranga de Erechim, Caxias, Grêmio, Inter, Atlético Mineiro, Palmeiras, São Caetano e Corinthians.
Entre os títulos, foi campeão gaúcho da 2ª Divisão com o Veranópolis (1993); campeão gaúcho com Caxias (2000), Grêmio (2001) e Inter (2009); campeão da Copa do Brasil com o Grêmio (2001); campeão da Copa Sul-Americana com o Inter (2008); campeão da Copa Suruga com o Inter (2009); e, com o Corinthians, campeão Brasileiro (2011), da Libertadores (2012), do Mundial de Clubes da Fifa (2012), da Recopa Sul-Americana (2013) e do Paulistão (2013).
Tite esteve em Flores da Cunha a convite da diretora da Escola Interativa, Eroni Mazzocchi Koppe, que também é sua prima em segundo grau. No encontro realizado no Clube Independente o treinador contou um pouco da trajetória pessoal e profissional a pais, alunos e professores, além de responder a perguntas e distribuir autógrafos. O evento complementou as atividades do projeto Interativa em Cena, a ser desenvolvido pela escola entre 11 e 14 de junho.
Com frases de impacto e se movimentando muito entre os presentes, Tite contou que recusou seis convites (sendo dois do Grêmio, este ano) de trabalho em clubes da Série A do Brasileirão por opção. Está em um período que chama de ‘reciclagem’ para voltar a trabalhar depois da Copa do Mundo. Esteve em Portugal para assistir à final da Liga dos Campeões entre Real Madri e Atlético de Madri (o Real venceu na prorrogação por 4 x 1).
Antes da palestra Tite conversou por 10 minutos com o jornal O Florense e a rádio Viva no hall do Clube Independente. Na ocasião, falou, entre outros assuntos, que a Seleção Brasileira é uma das favoritas à conquista da Copa – uma das, não a favorita. Confira os principais trechos do bate-papo.
O Florense: Desde 1998, o que mudou no Tite que começou como comentarista esportivo numa rádio de Caxias do Sul, tornou-se conhecido ao ser campeão com o Caxias em 2000 e, recentemente, chegou ao auge da carreira sendo multicampeão com o Corinthians?
Adenor Bachi, o Tite: A busca constante do aperfeiçoamento profissional. É isso o que eu tenho passado para todas as pessoas. Tu queres crescer, busque informação. Eu sou meio irrequieto. Outro atributo é ter coragem para enfrentar os desafios e nossos próprios erros. Porque a gente, de alguma forma, se inibe a eles. Qualificação e coragem para seguir em frente, até porque, e eu poderia me prolongar aqui, que eu fiquei oito meses desempregado. Eu paguei um preço, nós pagamos um preço pelos nossos objetivos. Essa qualificação profissional te dará uma maior experiência para compreender os fatos. Continua o medo, continua o receio, da mesma forma humana, como todos.
O Florense: Acompanhando seu trabalho pela imprensa percebo que você é o mesmo Tite de 2000, principalmente no relacionamento de respeito com as pessoas. Naquela época tua família estava sempre junto. Como é hoje depois de notória evolução?
Tite: Cara, eu vejo assim: quando a gente fala em família, em amor, nisso está inserido a esposa, os filhos, o namorado, o amigo. Tudo isso, mais a atividade profissional que se gosta, saúde e espiritualidade são quatro aspectos importantes que, a gente estando bem com eles, tá legal. E eu tenho sim um pouquinho dessa atenção e desse orgulho de estar com a família, trocando ideias, devolvendo para a vida aquilo que a vida me deu, me proporcionou. Mas vou te resumir em uma coisa, uma repórter falou para mim recentemente: “Tite, quando tu te despediste do Émerson tu disseste para ele procurar uma parceira legal para ajudar na educação dos filhos”. Aquilo ali me surpreendeu, por que ele se separou e tal. Eu entendo que é dessa forma o caminho para estar legal.
O Florense: Na palestra tu abordas tua trajetória de vida, com erros e acertos. Qual a mensagem que tu quiseste passar para os pais e alunos presentes?
Tite: Uma trajetória de vida de um cara que não é o Super-Homem, mas é o cara que errou um monte de vezes. Em algumas palestras ou conversas as pessoas colocavam somente as virtudes, e eu ficava pensando: bah, tô ferrado, não vou conseguir nenhum dos meus objetivos, ele acerta todas... (risos) Acerta tudo! Então eu tenho também a atenção de mostrar o outro lado, que é o lado do erro, das dificuldades, do redirecionamento... Em 1998 surgiram duas possibilidades profissionais: ou trabalhar três meses como técnico no Pelotas ou como comentarista em uma rádio por um ano, sendo aquele um ano de Copa do Mundo. Pôxa, vou trabalhar um ano, pensei. E depois isso me ajudou.
O Florense: Ou seja, uma pessoa normal.
Tite: Mas é importante citar os dois lados porque o garoto, daqui um pouco, ele pensa e fica idolatrando, ele é campeão, campeão, campeão... Eu uso muito essa frase: eu não sou Super-Homem. Já li isso escrito pela Martha Medeiros. Todos têm seus altos e baixos, num dia não está legal, está chateado. Essa busca para seguir em frente, com coragem e sempre aprendendo é fundamental. Uma coisa que podem falar, e eu tenho uma série de defeitos, é que sou autêntico. Eu sou o mesmo cara lá de trás. Não vai ser um título ou uma grana a mais na conta bancária que vai mudar o meu jeito de ser. Isso eu trago da minha família. Esse aspecto de educação eu tenho bem forte.
O Florense: Em entrevista a um jornal paulista o senhor disse que recusou seis convites para trabalhar em clubes este ano. Quais são os planos para o futuro? Muito se falou em Seleção Brasileira, mas agora seria prematuro, antes da Copa, falar no assunto...
Tite: Eu cuido para ter simplicidade e humildade e não ter falsa humildade. Eu cuido para não falar de objetivo e de sonho, sabe, de equilibrar isso tudo. O futebol, a passagem, as equipes, foram grupos que venceram, não somente eu. No Caxias, por exemplo, era um grupo normal de pessoas em um momento especial de suas vidas. Foi uma equipe de trabalho toda que venceu. Não adianta contratar o Tite e achar que ele vai fazer as coisas. Não, porque vai precisar de um clube estruturado, de uma torcida, de uma direção, de um grupo de funcionários e de atletas. Caso contrário, não vence. E eu sei disso muito bem. Não será essa valorização e esse ‘tchan’ que farão que eu não tenha a ambição, sim, a ambição é ser técnico da Seleção Brasileira; o meu trabalho me credenciou a isso; serei o cara, não sei. Se o Felipão terminar a sua trajetória e se a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) definir dessa forma, quando sentarem e colocarem num papel quatro ou cinco nomes eu tenho certeza que o Tite estará entre eles. Se for escolhido ou não, não sei. Mas devo estar na lista por esse passado que tenho, eu tenho essa consciência. Todos devemos sonhar, é um combustível, meu sonho será realizado se tiver a oportunidade de treinar a Seleção.
O Florense: Qual a tua opinião sobre a Copa do Mundo no Brasil? A Seleção está mais pressionada por jogar diante da sua torcida?
Tite: Eu estava falando com a minha esposa Rose antes de vir para cá. À tarde assisti à entrevista do Felipão na televisão. E daqui um pouco na entrevista ele deu uma gesticulada, uma bufada, e disse: “Eu quero que comece logo isso aí”. Se um cara com a experiência que ele tem, de Portugal e de Brasil, de campeão mundial, também tem essa expectativa, tu imagina os atletas! E tu imaginas a pressão. Hoje a gente anda em vários locais e vê a mobilização, mais do que justificado. A maioria das escolas do país está decorada, aqui não é diferente. O assunto bomba em todas as emissoras de televisão, direto. Tu imaginas o atleta que tem 21 ou 22 anos olhando isso. A pressão é enorme em cima de uma conquista. É importante ‘soltar um pouco o elástico’ para que a equipe produza, por exemplo, como na Copa das Confederações, em 2013. Meus favoritos são Brasil, Alemanha e Argentina, não a Espanha, que uma geração está no final de um ciclo. Aqui o componente físico irá pesar, o calor, mais dias de recuperação. E como surpresas acredito em França, Chile e Bélgica.
Quem é
Adenor Leonardo Bachi, 53 anos, o Tite, é natural da localidade de São Braz, no interior de Ana Rech, em Caxias do Sul. Começou nas categorias de base da SER Caxias como meia e se fixou como volante. Atuou no Caxias, Esportivo, Portuguesa-SP e Guarani-SP como jogador. Parou de atuar aos 27 anos após seis cirurgias nos joelhos. Como treinador, já comandou Guarany de Garibaldi, Marcopolo, Veranópolis, Ypiranga de Erechim, Caxias, Grêmio, Inter, Atlético Mineiro, Palmeiras, São Caetano e Corinthians.
Entre os títulos, foi campeão gaúcho da 2ª Divisão com o Veranópolis (1993); campeão gaúcho com Caxias (2000), Grêmio (2001) e Inter (2009); campeão da Copa do Brasil com o Grêmio (2001); campeão da Copa Sul-Americana com o Inter (2008); campeão da Copa Suruga com o Inter (2009); e, com o Corinthians, campeão Brasileiro (2011), da Libertadores (2012), do Mundial de Clubes da Fifa (2012), da Recopa Sul-Americana (2013) e do Paulistão (2013).
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