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Superexposição na internet: uma prática perigosa

Número de vítimas do sexting mais que dobrou nos últimos dois anos no país, segundo ONG Safernet Brasil, entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na rede

Nos dias de hoje é difícil imaginar um jovem que não tenha acesso a computadores, tablets ou celulares com internet. De acordo com dados da pesquisa NetView, da Nielsen Ibope, que monitora a audiência da internet no Brasil desde o ano 2000, o número de brasileiros com acesso à rede em seus domicílios totalizou 87,9 milhões em maio de 2014, um crescimento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado. O trabalho revelou, ainda, que o número de pessoas com acesso à web em qualquer ambiente (domicílios, trabalho, lan houses, escolas, locais públicos e outras localidades) totalizou 105,1 milhões, o que coloca o Brasil na quinta posição dos países mais conectados.

Atrelado ao crescimento dos usuários de internet está o aumento do uso das redes sociais. Um estudo feito em julho deste ano pela Conectaí Brasil, comunidade de pesquisas online do Ibope, com 1.513 pessoas entre 15 e 32 anos, revelou que o jovem internauta brasileiro possui, em média, perfil em sete redes sociais. Na maioria dos casos, eles não deixam alguns apps de lado em nenhum momento: 89% deles estão continuamente conectados ao Facebook, 87% ao WhatsApp, 80% aos emails e 63% ao Instagram.

A naturalidade com que os jovens administram as tecnologias, assim como a sensação de anonimidade, muitas vezes fazem com que eles se aproximem de armadilhas, práticas que, ao primeiro olhar, podem parecer brincadeira. Atualmente, algumas práticas perigosas estão se tornando comuns entre esse público. A mais recente é a sexting (sexualidade na internet), na qual adolescentes fazem fotos sensuais (nus ou quase nus) e as publicam na internet ou trocam por mensagens de texto eróticas, com convites e brincadeiras sexuais entre namorados, pretendentes e/ou amigos.

Contudo, o que era para ser diversão pode se tornar uma tremenda dor de cabeça para quem publica. Recentemente, a ONG Safernet Brasil, entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet, em parceria com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP), divulgou um levantamento que mostra que o número de vítimas do sexting mais que dobrou nos últimos dois anos no país. Segundo a Safernet, em 2013 foram atendidos 101 casos de pessoas que tiveram a intimidade exposta indevidamente na web. No ano anterior foram contabilizados 48 pedidos de ajuda.


Orientação dentro de casa



Virgínia Toni Felippetti.A psicóloga e sexóloga Virginia Toni Felippetti observa que práticas como o sexting estão atreladas a diferentes fatores. Um deles seria porque o fato de fazer fotos e postar na internet ou enviar para amigos tornou-se moda entre os grupos dessa faixa etária e, muitas vezes, alguns jovens são levados a participar disso para serem aceitos. "Às vezes esse desejo de se expor nem parte dele, mas como ele vê o grupo fazendo ou para ser aceito ele acaba buscando um comportamento que não é próprio da sua essência. Esse questionamento deve ser feito pelo jovem: esse é um desejo meu ou estou indo na onda da turma? É importante trabalhar essa crítica", frisa.

Outra razão apontada pela psicóloga está relacionada com a própria idade. Nessa fase eles estão descobrindo o corpo e há muita curiosidade sobre isso. "Podemos dizer que eles precisam de uma aprovação do outro, de saber que tipo de reação a foto dele irá causar". Além disso, Virginia acredita que a ingenuidade e o excesso de confiança no outro acaba motivando essas ações. "Na adolescência as relações são muito volúveis. Hoje tudo está certo, mas daqui a um tempo o namoro ou a amizade se desfaz e a foto continua lá. Não sabemos o que a pessoa pode fazer com ela. Isso é muito perigoso", explica.

Segundo a especialista, cabe aos pais orientar seus filhos sobre a maneira correta e mais segura para se utilizar as tecnologias e de não se expor. "Não iremos conseguir tirar isso deles. Acredito que a melhor maneira é orientá-los para que não se exponham, mesmo que vestidos", destaca. Ela observa que esse trabalho deve iniciar ainda na infância, quando as crianças começam a pedir para ter acesso às redes sociais. "Nesse momento, os pais devem negociar com os filhos e compartilhar as senhas das páginas. Isso deve ocorrer até que eles sintam que a criança tem maturidade de saber lidar com esses perigos", pontua.

Ela destaca que o monitoramento do que é postado, das conversas de bate-papo e mesmo das mensagens enviadas e fotos do celular não deve ser encarado pelos pais como uma forma de invasão à privacidade dos filhos, mas sim como uma proteção e que esse conceito deve ser trabalhado com os filhos desde a infância. "Se houver diálogo entre as famílias e regras estabelecidas desde cedo, não haverá oposição quando forem adolescentes e isso será encarado de forma natural. Agora, se isso nunca foi feito e quando chegar a adolescência os pais quiserem cobrar, daí eles não aceitarão. É assim começam as mentiras".

Para ela, a questão envolve todo um trabalho de criação e educação. "Os pais precisam estabelecer limites, explicar para os filhos o que é certo e errado e o porquê das coisas. Uma criança não pode ter acesso a um conteúdo ou uma programação que não condiz com a sua faixa etária. Os pais precisam conversar e explicar que ela ainda não pode ver determinadas coisas e que chegará um momento em que isso acontecerá. Se isso não é feito, a criança ou pré-adolescente acaba tendo contato com temáticas que não são para a sua idade e que ele não está preparado. Isso acaba despertando precocemente algo que não é legal, que ele não buscaria por si só naquele momento, e as vezes não se tem controle.


É crime produzir, guardar, vender ou publicar fotografias com cenas de sexo ou do corpo sem roupa, com intenções sexuais, envolvendo crianças e adolescentes, seja qual for o meio de comunicação, inclusive a internet. (Foto: safernet brasil/divulgação)

Consequências

A psicóloga e sexóloga Virginia Toni Felippetti chama a atenção para as consequências de práticas como o sexting. Segundo ela, muitas vezes, a vítima que tem suas fotos vazadas na internet enfrenta sérios problemas psicológicos em decorrência disso. "As consequências são altamente devastadoras para a vítima. Temos relatos, inclusive de suicídios de jovens que não suportaram a exposição pública de suas fotos".

Virgínia complementa que a vítima sente-se totalmente invadida, envergonhada, com baixa autoestima e depressiva. "Normalmente isso atinge, inclusive, a família. Em muitos casos eles optam por mudar de cidade, porque a convivência naquele ambiente fica insustentável", aponta. Os danos causados pela exposição pública não são somente momentâneos. Como explica a profissional, na maioria dos casos a vítima carrega sequelas para o resto da vida. "É muito difícil contornar isso ao longo do tempo. A vítima acaba desenvolvendo uma dificuldade de confiar nas pessoas".

A psicóloga frisa que os jovens precisam ter senso crítico sobre o que é correto ou errado fazer para não correr riscos de cair em armadilhas virtuais. "Muito cuidado com a exposição de sua própria imagem. Não é necessário se mostrar tanto, de nenhuma forma, para se autoafirmar no grupo. É possível buscar outras formas de se sentir bem consigo ou com os amigos", sugere.


O que fazer em situações de risco


A Safernet Brasil destaca que "é crime produzir, guardar, vender ou publicar fotografias com cenas de sexo ou do corpo sem roupa, com intenções sexuais, envolvendo crianças e adolescentes, seja qual for o meio de comunicação, inclusive a internet". Por isso, a orientação para quem for vítima, é para que busque ajuda, inicialmente dos pais ou de um adulto de confiança e, em seguida, para que denuncie na Delegacia de Polícia local ou na Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos, que existe em algumas cidades. A página da ONG também possui um canal de comunicação. Lá também é possível denunciar fotos ou vídeos que estiverem em sites ou perfis abertos, pelo endereço www.safernet.org.br/site/denunciar.

Dicas de segurança
Embora as redes sociais tenham tornado o mundo um lugar menor, ainda não conseguiram fazê-lo mais seguro. Há muitos aspectos que podem representar perigo para a privacidade. Exibir informações confidenciais sobre a família, finanças e relacionamentos, assim como o local em que se está, pode não ser uma boa ideia. Órgãos de segurança frisam que hoje existem pessoas mal intencionadas que utilizam informações publicadas nas timelines para conhecer a rotina das pessoas e praticar crimes contra as mesmas. Contudo, com orientação e alguns cuidados básicos, é possível estar conectado com outras pessoas, sem correr riscos ou ‘mostrar demais‘. Confira algumas dicas de segurança:

- Não revele informações pessoais: pense bem antes de publicar informações pessoais que possam te identificar facilmente, como endereço, telefone ou nome da escola onde estuda (isso vale para a foto de uniforme). Usar um tempo para configurar corretamente seu perfil pode salvar seu trabalho, relacionamentos e imagem pública;

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Escolha seus Amigos Cuidadosamente: nunca aceite amizade de completos estranhos. Nem sempre quem está do outro lado da tela é mesmo quem diz ser.

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Diversifique suas senhas: as senhas são difíceis de gerenciar, então muitos usuários de redes sociais usam senhas iguais ou similares para todas as contas. Embora isto seja conveniente, é perigoso. Se alguém a descobre, poderá acessar todas as páginas e até mesmo roubar informações pessoais usadas para gerenciar sua vida e finanças. Também é recomendado trocar a senha de vez em quando.

Sem webcam: nunca use webcam com pessoas que você não conhece. Mesmo com pessoas conhecidas, é interessante ter cuidado com o que vai mostrar, pois as imagens podem ser gravadas e usadas de forma mal intencionada, hoje, amanhã e daqui há muitos anos também.

Fonte: www.safernet.org.br
 - Divulgação
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