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Poucos setores foram tão afetados pela pandemia quanto o da educação. Mas o reflexo é maior do que nunca para as escolas já que, além de lidar com o vírus, elas precisam compensar o déficit educacional gerado desde o ano passado. Para recuperar conteúdos perdidos nesse um ano e meio, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) decretou reforço nas disciplinas de Português e Matemática: serão cinco horas extras por semana, aumentando a demanda por professores, que já eram artigo raro nas salas de aula dos colégios estaduais.
A nova matriz curricular estava programada para iniciar na próxima segunda-feira, dia 23, o que gerou desespero nas escolas de Flores da Cunha e Nova Pádua para encontrar profissionais a tempo – no município florense, três colégios foram mais afetados: Frei Caneca, São Rafael e Targa. Na quarta-feira, dia 18, a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) emitiu nova orientação, estendendo o prazo de implantação para as escolas com dificuldades em suprir a nova carga horária.
“Fomos pegos de surpresa. Acreditamos que esse não seria o melhor momento para tamanha mudança. A nova matriz curricular deveria acontecer no início do próximo ano letivo, assim haveria mais tempo para que professores fossem contratados e nenhuma turma ficaria sem educador”, afirma a diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Targa, Andreia Pegoraro, que volta a sofrer com a falta de professores apenas dois meses depois de conseguir completar o quadro de profissionais.
Para as turmas que ficariam sem professores, a ordem era para que a direção e a Coordenação Pedagógica assumissem as aulas, como explica a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael, Ana Paula Citolin Rigotto. “Porém, como faltam muitos profissionais, fica inviável. Também não temos conhecimento de conteúdos dessas disciplinas, já que a maioria de nós é da área de humanas. Outro problema é que se formos para a sala de aula, quem fará o trabalho da direção?”, questiona Ana Paula. Na situação atual da escola, mesmo que toda a equipe diretiva e a Coordenação partam para a sala de aula, algumas turmas ainda ficarão sem professor.
Desde o anúncio da nova matriz curricular, o Governo do Estado abriu o processo de contratação de quatro mil novos profissionais, no dia 4. Professores que já atuam na rede também foram liberados para solicitar aumento em sua carga horária. Na prática, o que ocorreu foi que educadores de Matemática e Português que davam aulas em duas escolas diferentes assumiram mais horas em uma e tiveram que abandonar a outra, transferindo o problema. 
“A falta de planejamento e organização por parte da Seduc compromete a qualidade da educação do estado”, protesta a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Luiz Gelain, Lenita Sonda. A preocupação das direções escolares é justamente essa: resolver o problema sem prejudicar ainda mais a aprendizagem dos alunos, comprometida pelo vírus. 
Para as aulas de reforço, a pasta estadual da Educação produziu material didático específico, a partir das dificuldades detectadas no Avaliar É Tri, prova organizada em julho pela Seduc para verificar o desempenho dos alunos nas disciplinas de Português e Matemática – nela, as séries mais avançadas apresentaram piores resultados do que as séries iniciais. Outra ação do governo estadual para tentar recuperar os conteúdos perdidos é a adoção do quarto ano no Ensino Médio, que será implantado em janeiro de 2022.

A situação das escolas em Flores e Nova Pádua

Antônio Soldatelli e Pedro Cecconello
As duas instituições não se enquadram nas mudanças da matriz curricular por serem consideradas de campo. Segundo a diretora da escola Pedro Cecconello, Rosa Mara Neves Mathias, ela está com o quadro de professores completo: a falta de uma profissional de Matemática já foi suprida – o mesmo ocorre no colégio Antônio Soldatelli, que passou o primeiro semestre sem um professor para a disciplina. A direção da escola de Nova Roma espera a vinda de uma merendeira, pois os alunos estão recebendo lanches comprados prontos.

Frei Caneca
Atualmente, o quadro de profissionais da escola está completo, mas as mudanças na matriz curricular trouxeram a demanda por outros quatro professores: dois de Matemática e dois de Língua Portuguesa. Conforme a diretora da escola, Patrícia Pontalti, a contratação dos profissionais já foi aprovada, mas eles ainda não se apresentaram à instituição. Caso eles não venham a tempo, a direção aguarda orientações da 4ª CRE para melhor atender a demanda. 

Horácio Borghetti
Como a escola atende alunos da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental, a carga horária de Português e Matemática não muda, apenas será reduzido o tempo das disciplinas de Educação Física e Produção Interativa, que passam de 1h para 50min. Segundo a diretora Fabiana Simonaggio, o quadro de professores da escola está completo.

Luiz Gelain
A escola estadual de Nova Pádua estava com o quadro completo antes da nova matriz curricular. Com as mudanças, a carga horária para as matérias de Matemática e Língua Portuguesa está totalmente suprida, mas faltarão professores para as disciplinas de Artes, Língua Inglesa e Literatura. Conforme a diretora Lenita Sonda, os alunos serão atendidos pela Coordenação Pedagógica e pela direção da escola até que o Estado supra a falta dos profissionais.

São Rafael
Antes das mudanças, a escola precisava de professores para atender 20 horas de Matemática e Física. Agora, a falta de profissionais se agravou e muito: das 14 turmas de Ensino Médio do turno da manhã, apenas três terão professor de Matemática; à noite, o problema atinge todas as seis turmas. Para Língua Portuguesa, mais da metade dos alunos dos dois turnos não tem nenhum educador. Faltam ainda profissionais de Literatura, Física, Língua Espanhola e Ensino Religioso. Há mais de uma semana, a direção da escola solicitou a contratação de oito profissionais e aguarda orientações da mantenedora. 

Targa
Depois de algum tempo sem professores, a escola havia conseguido completar o quadro em junho, mas novamente sofrerá com a falta de profissionais. Com a nova matriz curricular, três turmas ficarão sem professor de Matemática. Já a carga horária extra da disciplina de Português será ministrada por professoras que já trabalham na escola, mas que tiveram de abandonar outras escolas do município. Segundo a diretora Andreia Pegoraro, para que os alunos não percam as aulas de Matemática, a equipe diretiva e pedagógica irá atendê-los, ainda que nenhum dos profissionais tenha formação na área.