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Sinal verde para mudanças

Binário de trânsito é aprovado pelos motoristas, mas sinalização ainda exige melhorias. Passageiros do transporte coletivo preferem pontos antigos de embarque e desembarque

Vias com sentido único, alterações nos estacionamentos da área central, novos pontos de embarque e desembarque de passageiros, mudanças na sinalização vertical e horizontal, desativação de semáforos. Estas são algumas das modificações com as quais motoristas e pedestres de Flores da Cunha estão tendo que conviver, desde o início do mês, com a implantação do sistema binário de trânsito no município. 
E para saber qual é a opinião das pessoas sobre as recentes alterações, nos últimos dias a redação do Jornal O Florense foi às ruas e ouviu a comunidade. De forma geral, os motoristas aprovaram as mudanças em relação ao sentido único das vias, contudo surgiram questionamentos sobre o tamanho das vagas para estacionamento paralelo e a utilização de semáforos em cruzamentos. 
De acordo com a nutricionista Catilene Rizzi, de 34 anos, as modificações são benéficas e tudo é questão de adequação: “Quando é algo novo todo mundo tem a intenção de reclamar, mas é questão de se adaptar. Eu acho que o problema é que estávamos acostumados a passar pelo mesmo lugar sempre, então demora até sair do ‘piloto automático' de que aquela rua não pode mais naquele sentido. O pessoal está fazendo isso para melhorar, era um caos essas ruas aqui, no fim do dia era horrível. Eu acho que agora vai facilitar bastante, acho positivo”, explica Catilene, lembrando que se perdeu um pouco no primeiro dia e chegou a entrar na contramão, assim como diversos motoristas, mas que acredita que é questão de tempo até as pessoas se habituarem. 
Em relação às novas vagas, ela conta que não encontrou dificuldades para estacionar seu veículo, um Kwid: “Já o meu marido reclamou daquelas vagas ali, as paralelas, ele diz que o carro dele não entra – é um Tiggo, é enorme – teria que pôr em duas vagas. Mas eu tenho um carro pequeno, então cabe. E eu adorei essa parte dos oblíquos na Borges de Medeiros e Frei Eugênio, porque é muito mais fácil”, destaca a nutricionista. 
Por sua vez, o aposentando João Rodrigues Vaz, de 72 anos, compartilha do ponto de vista do marido de Catilene. “As vagas paralelas teriam que ser maiores porque a minha nora, por exemplo, ela tem um Fusion, então jamais vai colocar nessas vagas, o carro é grande e ‘se não tiver braço não coloca’, não cabe. Os espaços precisariam ter, no mínimo, 4,5 metros para serem bons para estacionar”, defende Vaz. 
No que diz respeito às vias com sentido único, o aposentado confessa que também já entrou na contramão, pois está se adaptando, mas vê a mudança com bons olhos: “É meio estranho, mas eu me achei bem”, frisa. Vaz também aproveitou a conversa sobre trânsito para levantar outro questionamento, já antigo no município: “Eu gostaria que tivesse, aqui no centro, estacionamento para pagar, porque o que tem de gente que tira os carros da sua garagem para botar na vaga de estacionamento da rua, mesmo próximo, e tira o lugar de outras... Às vezes tem uma pessoa de idade, alguém que precisa dessa vaga; parece que fazem por gosto. Então acho que se fosse para pagar mudava”, reflete. 
Já para Neco Santos, de 56 anos, que possui seu comércio de cortinas e persianas na esquina da Rua Frei Eugênio com a Heitor Curra, entre às 17h e às 18h o fluxo de veículos está um verdadeiro caos, isso desde o início do mês: “É buzina e pessoal freando. Lotam todas as ruas aqui (Heitor Curra e Frei Eugênio) porque ninguém dá espaço. Eu falei quando eles passavam entregando panfletos que essa sinaleira (ao lado de seu empreendimento) e aquela debaixo (na esquina do Banana Pink) tem que ativar, aí eles me disseram que foi feito um estudo e não há necessidade. Mas eu questiono: como não há necessidade se eu vejo sempre acidentes aqui na esquina?”, critica Neco, acrescentando: “Não sou contra o sistema binário de trânsito, mas tenho que passar essas informações porque eu estou aqui, eu estou assistindo”, reforça.

Os passageiros do transporte coletivo 

Com a implantação do sistema binário de trânsito, os pontos de embarque e desembarque de passageiros do transporte coletivo municipal e intermunicipal também sofreram alterações. As paradas passaram a seguir o sentido das ruas Frei Eugênio e Borges de Medeiros. Mas, o que as pessoas que utilizam esse serviço pensam sobre as modificações? 
Foi essa a pergunta feita pela redação de O Florense para os passageiros que, de modo geral, enxergaram a mudança como negativa, revelando preferência pelos antigos locais. Este é o caso da aposentada Teresinha Fante Stuani, de 74 anos, que estava na parada próxima a Escola Frei Caneca, pouco antes das 14h, e aguardava o ônibus da Expresso Caxiense para ir a Caxias do Sul: “Está horrível, está triste aqui em Flores da Cunha, estou desde às 13h e pouco aqui esperando. Eu acho que deveriam ter deixado tudo como estava, era bem melhor, já estávamos acostumados. Agora o povo está todo perdido, não sabe onde ir. Essas mudanças de rua também, vai dar muita batida, tinham que divulgar um pouco mais. Eu acho o ‘fim da picada’, porque não tem sinalização aqui. Por que não colocaram uma tabela de ônibus da Caxiense, que então a gente sabe que ele passa aqui? Como é que vai adivinhar? É uma vergonha”, critica a aposentada.
Teresinha explica que soube da nova parada por meio de seu marido, há cerca de 15 dias, quando estavam passando em frente ao ponto, e aproveita para levantar outra questão antiga, mas que segue sendo sinônimo de polêmica no município florense: a necessidade de uma rodoviária.
E quem também não aprovou as mudanças nos locais das paradas é a dona de casa Luciane Souza Mendes, de 35 anos, que já precisou utilizar o ônibus intermunicipal duas vezes desde as mudanças. “Eu achei péssimo porque está tudo na contramão e antes nós estávamos acostumados lá (em frente à antiga rodoviária) e em dias de chuva aqui (na Rua Frei Eugênio, atrás da Igreja Matriz) vai ser complicado porque não tem muito coberto e com criança pequena e para pessoas mais velhas é difícil”, pontua a dona de casa, acrescentando que teve fácil acesso às informações acerca das alterações. 
A opinião sobre a localização dos pontos de embarque e desembarque de passageiros é compartilhada pela aposentada Ana Maria da Silva Vieira, de 67 anos, que estava na parada com Luciane, mas iria utilizar o serviço pela primeira vez após as modificações. No entanto, ela considera que deveria ter havido mais divulgação: “Até perguntei para o motorista se era aqui o ponto, aí foi ele que me informou direitinho, eu acho que divulgaram muito pouco, tem que estar se informando com o motorista. Ainda bem que eles são muito gentis”, destaca, concluindo que também preferia as paradas antigas.

O que diz a administração 

Acerca das principais dúvidas levantadas pelos entrevistados, a administração municipal esclarece que é preciso entender que o funcionamento do sistema binário de trânsito ainda não atingiu sua plenitude, sendo assim, diversas alterações ainda serão realizadas com o intuito de melhorá-lo. Entre elas destaca-se a colocação de placas de ‘proibida conversão’, a fim de sinalizar os novos trechos de mão única: “O projeto está em execução e há previsão de sinalização complementar, assim que pronta. Estamos pressionando o fornecedor para que isso ocorra o mais breve possível, acreditamos que será nas próximas semanas”.
Em relação aos semáforos em trechos de movimento intenso na área central, sobretudo em horários de pico, o Executivo esclarece: “A partir do momento em que as ruas com pista dupla forem priorizadas pelos motoristas, o sistema irá fluir e alguns gargalos irão desaparecer. Para os pontos críticos que permanecerem, já existem algumas ações complementares que serão implementadas gradativamente. Os cruzamentos semaforizados estão entre os principais pontos monitorados. Lembrando que a sinalização definitiva está em execução”. 
“Para otimizar os espaços, foram criadas vagas com o melhor aproveitamento possível. As vagas no estacionamento oblíquo também acomodam veículos maiores (como caminhonetes). Para veículos de carga, há vagas específicas nas ruas transversais”, destaca a prefeitura municipal sobre uma crítica comum entre os motoristas: o tamanho das vagas de estacionamento paralelo. 
No que diz respeito aos pontos de embarque e desembarque de passageiros, que algumas pessoas comentaram sobre o ônibus não caber no espaço destinado, invadindo a pista de tráfego, a administração salienta que isso ocorre nas vias de sentido único: “Os pontos de embarque e desembarque são para paradas rápidas e não permitem o estacionamento continuado dos ônibus. Durante este período é necessário redobrar a atenção”. 
Ainda em relação às paradas, mas tratando-se de divulgação – sobretudo entre o público idoso – o Executivo frisa que foram fixados cartazes nas paradas novas e nas desativadas, além da distribuição de material impresso nas ruas e nos grupos de idosos, assim como inserções no jornal e rádios locais. 
Sobre os temas polêmicos abordados pelos entrevistados, como a implantação de estacionamento rotativo na área central e a criação da rodoviária, o poder público evidencia: “Flores da Cunha não conta com rodoviária desde 2015. Em 2021, foi aberto um edital, mas nenhum interessado se habilitou em participar. Embora o transporte intermunicipal seja de obrigação do estado, o município segue empenhado em encontrar alternativas para que a comunidade não seja prejudicada. Quanto ao estacionamento, acreditamos que a ordenação e o aumento do número de vagas proporcionadas pelo sistema binário suprirão a atual demanda. Lembrando que o projeto está em execução e o estacionamento rotativo sob avaliação”. 
De modo geral, a administração avalia de forma positiva os primeiros dias de funcionamento do sistema binário de trânsito em Flores da Cunha e salienta: “Acreditamos que, com o passar dos dias, ele atingirá o seu propósito: dar mais fluidez, praticidade e segurança no trânsito. Além de monitorar a implantação do projeto, estivemos e estamos nas ruas ouvindo as pessoas, e ficamos felizes com o retorno positivo a respeito das mudanças. Também estamos atentos aos pontos de melhorias sugeridos pela comunidade”. 

Esquina da Rua Frei Eugênio com a Heitor Curra é um dos trechos que, com semáforos fora de operação, ainda confunde os motoristas. - Karine Bergozza
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