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Sim ao amor peludo, não ao abandono

Campanha Dezembro Verde conscientiza sobre o maltrato de animais, casos que infelizmente crescem nesta época do ano – em Flores chega a quase 50% de aumento

A casa do casal Bruna Sgarioni e Tarciano Bonadiman é sempre alegria. E daquela que se multiplica. Quem tem grande colaboração nisso são os peludos Bernardo e Bianca, que se tornaram ‘irmãos’ há pouco tempo, mas já têm uma cumplicidade especial. Os dois compartilham a dor de um dia terem sido maltratados e de conhecerem a pior faceta de um humano. Mas eles também compartilham a alegria de hoje terem todo o carinho e cuidado necessários com tutores de coração cheio. Eles foram adotados e a gratidão pelo lar reflete nos olhos e na alegria da dupla.

Mas infelizmente nem todos têm a sorte do Bernardo e da Bianca. Estamos em dezembro, período em que o número de abandonos de animais cresce em relação à média anual, principalmente por ser um período de férias, quando muitas famílias viajam e optam por rejeitá-los. É nesta época que cidades aderem a campanha ‘Dezembro Verde: não ao abandono de animais’, ação que visa conscientizar a população sobre a guarda responsável dos pets.

De acordo com a voluntária da União Pela Vida Animal (Upeva) de Flores da Cunha, Justina Inês Sugari, no município o número de animais abandonados cresce praticamente 50% neste período do ano. “Presenciamos muitos casos que a família viaja e o animal fica para trás, como se ele fosse algo descartável. Em relação ao resto do ano, neste período temos um aumento de cerca de 50% no número de abandonos”, lamenta Justina.

Hoje são atendidos em torno de 200 cães na chácara da Upeva, na Capela Medianeira, no interior do município, além de mais de 160 animais mantidos em casas de voluntárias e outros 30 em lares temporários. Cerca de 100 gatos também são cuidados por uma voluntária. “Hoje temos dado prioridade em tirar das ruas as fêmeas, com o intuito de evitar a cruza e o nascimento de novas ninhadas, além daqueles animais mais velhos, que não conseguem mais se virar sozinhos. Os machos que ficam nas ruas procuramos dar comida e contamos com o auxílio de alguns moradores que também fazem isso”, conta Justina.

Além do abandono, a Upeva ainda faz o resgate de animais que sofrem maus tratos, a maioria encontrada em estado crítico de higiene e saúde. Neste ano, a Prefeitura de Flores da Cunha investiu cerca de R$ 58 mil no subsídio de castrações – em torno de 300 animais, entre cães e gatos, passaram pelo procedimento.

 

“Eles nos tornam pessoas melhores”

Chegar na casa de Bruna Sgarioni, 32 anos, e Tarciano Bonadiman, 28 anos, é o mesmo que receber uma dose extra de alegria. Nos pés, logo chegam o grandão simpático Bernardo e a serelepe Bianca. Quem os vê hoje não imagina que os dois foram resgatados pela Upeva por maus tratos. Sorte a deles, encontraram o lar perfeito. “Há dois anos ainda estávamos construindo a nossa casa e apareceu a chance de adotar o Bernardo. Não sabíamos exatamente como íamos cuidar dele no início, mas sabíamos que era pra ele ser nosso”, conta Bruna. Bernardo foi resgatado em função da negligência do antigo dono, de quem apanhava muito e, apesar de já ser adulto e de porte grande, encontrou um lar do jeitinho dele. “Infelizmente a maioria dos cães com as características dele não são adotados, por isso sabíamos que nós devíamos ser os tutores dele. E até hoje percebemos nele vários medos e frustrações, reflexos do que já sofreu. Mas nesses anos o Bernardo se tornou nosso companheirão, é carinhoso e nos trouxe tantas coisas boas, nos ensinou tanto. Eles nos tornam pessoas muito melhores”, valoriza Tarciano.

Bernardo foi adotado há dois anos pelo casal e nos últimos dois meses ganhou uma companhia. A pequena Bianca ainda é uma filhote, mas exige cuidados extras. Ela é albina, ou seja, tem falta de melanina no corpo, um hormônio responsável pela pigmentação da pele, olhos e cabelo (pelo, no caso dos pets). Assim, essas partes do corpo ficam brancas e não mudam de cor de jeito nenhum. A melanina fornece coloração, mas também proteção contra os raios UVA. Por isso, um cachorro assim precisa de cuidados especiais.

Quando resgatada, Bianca estava com feridas pelo rosto e orelhas, resultado da exposição excessiva ao sol e sem nenhum cuidado. “Assim como o Ber, quando vimos que ela estava para adoção, sabíamos que ela precisava de alguém que cuidasse dessa condição”, conta Bruna, que é complementada pelo marido: “sabíamos que nós teríamos a sensibilidade de cuidar dela como ela precisa. Então no dia em que fomos ver ela na clínica veterinária, já a trouxemos para casa”, conta Tarciano.

Para o casal, adotar a dupla peluda foi o que deu para a casa deles uma cara de lar. “Eu sinceramente penso que uma pessoa que abandona ou maltrata um animal não vai ser diferente com humanos. Como esperar que alguém que deixa para trás seu animalzinho para viajar vai ter uma boa relação com a família? Eles afloram o melhor que temos e se engana quem pensa que só nós melhoramos a vida deles. A realidade é que eles melhoram muito a nossa também. Cuidamos, damos atenção, e recebemos deles muito amor e gratidão”, enaltece Tarciano. A duplinha ainda está se adaptando um ao outro, aprendendo a convivência sadia que até então não conhecia. A alegria de ter um lar se resume em estarem juntos, onde todo o amor do mundo cabe no sofá da sala, entre pés e patas.

O casal Bruna e Tarciano adotaram os peludos Bernardo e Bianca, resgatados após maus tratos dos antigos donos. - Camila Baggio
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