Seguindo os passos da família
Jones Ravizzoni se dedica a agricultura há mais de três décadas
Ser agricultor é muito mais do que trabalhar com plantação, requer conhecimento, amor, cuidado e muita dedicação. Uma profissão que não pode ser exercida por qualquer pessoa, pois, apesar de parecer simples, envolve uma série de fatores e desafios ao longo do caminho.
Mesmo com os inúmeros problemas que a categoria vem enfrentando desde sempre, o florense, agricultor e enólogo, Jones Ravizzoni, de 43 anos, decidiu, desde jovem, seguir o caminho trilhado pelos pais. “Fiz o curso de enologia que me ajudou na propriedade e fora dela também, então eu mantenho as duas linhas”, conta, explicando que como a enologia tem a viticultura inclusa, isso ajudou bastante. “Aprendi a parte técnica, desde o plantio, o preparo do solo, a escolha da muda, a variedade, a posição para plantar um parreiral, tudo”, relata o agricultor.
Morar na Serra Gaúcha, que se destaca na produção de uvas no Brasil, incentivou ainda mais o florense a seguir no mundo das parreiras. Hoje, ele possui oito hectares de videiras nas variedades Isabel, Bordô e Niágara, consideradas comuns, voltadas para a produção de sucos e vinhos. “Se eu tivesse que escolher entre todas as culturas que tem, não sei se é porque nós só trabalhamos com uva, mas eu não sairia da uva para outra coisa, se me mandar trabalhar com alho e cebola, ‘eu não sei me defender’ em cima dessa parte, é difícil, é totalmente diferente”, explica.
De acordo com o enólogo, ele e o pai cuidam de toda a produção durante o ano. Porém, em época de muito serviço, como nos meses de colheita e poda, é preciso contratar mão de obra de fora. “Não tem como fazer só nós essa parte de colheita, impossível”, relata, completando que o número de pessoas para auxiliar nestas épocas pode variar conforme o ano e a quantidade produzida.
Nos últimos três anos o produtor vem sofrendo muito com a estiagem. “Teve um pouco de perda nessas três últimas safras por causa da estiagem, até um pouco de geada ano passado, ainda bem que tem o seguro que ajuda. O seguro agrícola te dá um conforto em cima dessa perda, não é uma coisa 100%, mas já ajuda, para a geada ele cobre 50%”, relata o agricultor, que na última safra registrou uma perda de 20% na produção.
Para a próxima safra a expectativa é, se assim o tempo permitir, fazer uma boa colheita, com boa quantidade e qualidade. De acordo com Ravizzoni, o tempo ainda não está colaborando com a cultura pelo fato de não estar fazendo muito frio. Por outro lado, os grandes volumes de chuvas que ocorreram durante o mês de julho não foram prejudiciais para a uva, uma vez que o solo estava seco. “Foi boa essa chuva para a parreira porque é a época que ela está em repouso, ela vai se fortificar agora para brotar em setembro, então, pelo que eu aprendi com a Embrapa e com o curso, é bom que ela tenha uma reserva para a brotação”, relata, completando que se os meses de agosto e setembro forem muito chuvosos poderá atrasar o trabalho da poda. “Único prejuízo que pode acontecer por causa da chuva é na época da florada porque ela vai dispensar, mas fora desses períodos não tem muito problema, uma parreira bem sadia e bem tratada quando ela tiver brotando não vai ter problemas, mais é na época da floração,” esclarece.
Durante os dias em que o estado esteve sob alerta, devido a previsão de fortes chuvas, alguns lugares de Flores da Cunha e Nova Pádua foram atingidos pela chuva de pedra, como é o caso do agricultor, que diz ter sido algo fino e rápido. “Não teve prejuízo, mas se tivesse engrossado, aí sim, poderia causar prejuízo nas gemas. Se quebrar a gema das parreiras que estão ali, prontas para estourar, aí sim tem perdas, mas não chegou a afetar, foi coisa rápida e granizo leve, nada que pudesse comprometer a produção”, informa, explicando que quando a produção é atingida pela chuva de pedra as parreiras ficam improdutivas por dois anos. “Vai ter uma recuperação praticamente no terceiro ano, até lá, nada, só prejuízo e o tratamento tem que ser feito igual, como se tivesse uma produção normal, então o custo é o mesmo, mas não vai produzir”, revela.
Além das intempéries climáticas, geadas tardias, granizo, chuvas na florada, o agricultor também vem enfrentando outras dificuldades no seu dia a dia. Uma delas, que está sendo muito comentada neste ano, é a mão de obra. “Estão exigindo que você contrate o cara fixado, então isso está deixando o produtor um pouco preocupado, até o Sindicato, que eu faço parte, estamos tentando ver se conseguimos achar uma maneira de contratar pessoal sem assinar a carteira, fazer um contrato”, declara Ravizzoni.
Outra dificuldade que vem sendo enfrentada pela categoria é a questão dos valores das máquinas e dos insumos. Conforme o agricultor, o preço dos equipamentos dobrou ou até triplicou nos últimos anos. “Um trator que se comprava há 5 anos por R$ 80, 90 mil, agora está R$ 200, 220 mil. É tudo acima dos 200, então foi mais de 100% de aumento, mais que o dobro e o governo, pelo que se vê, teria que ter mais subsídio nessa linha de aquisição de máquinas, deveria ter uma linha de financiamento com juros melhores para ajudar”, relata, informando que até existem financiamentos, porém, com juros altos.
Já os insumos, como adubos e defensivos, também tiveram um aumento muito grande nos últimos três anos. Segundo Ravizzoni, esses produtos tiveram um reajuste de mais de 100%, não só para os produtores de uva, mas para os de outras culturas também. Ainda de acordo com o florense, alguns dos produtos já tiveram uma boa redução, enquanto outros mantiveram o aumento. “Hoje os preços dispararam, está tudo caro e o valor do produto não teve esse aumento, como se fosse uma máquina. A máquina dobrou ou triplicou seu valor nos últimos três anos, mas no preço do produto não aconteceu esse reajuste para acompanhar, então é difícil também essa parte”, informa, completando que ouve bastante o pessoal reclamando do preço mínimo da uva, pelo fato de o governo estabelecer um preço e as vinícolas quererem pagar um pouco menos por estar caro.
Assim como os pontos negativos, há também os positivos de estar trabalhando em meio à natureza, em sua propriedade e investindo para o próprio crescimento, além disso, nem todos os dias é correria. “O pessoal aqui da uva vai bem, economicamente eles são bem estruturados, dá para dizer que vale a pena, seria melhor se ganhasse mais, o ideal seria sobrar mais porque hoje em dia tem muito custo na colônia. Eu tenho um custo elevado entre comprar uma máquina e manter o que tenho. Sempre tem que estar substituindo mudas que estão morrendo, trocando palanque, trocando coluna e assim vai, se estraga a peça de algum equipamento, é tudo caro”, relata.
Mas cuidar dos parreirais não é uma atividade tão fácil. Há períodos que o trabalho é mais puxado, como na colheita e na poda, e outros mais calmos, no qual se faz a adubação, substituição de mudas e troca de coluna. No dia a dia, Ravizzoni também recebe o auxílio do irmão, que é técnico agrícola, para saber quais são os produtos que devem ser utilizados, já que inúmeros fatores podem influenciar nos cuidados. “O uso dos produtos é bem relativo porque pode ser que naquela propriedade funcione e na outra não. Tudo depende de solo, porta enxerto, inclinação do parreiral, umidade, existem vários fatores que influenciam”, informa, explicando que os produtos têm o tempo certo para serem utilizados e que outros fatores também podem influenciar na frequência utilizada ou na escolha do produto.
Além de cuidar dos 8 hectares de parreira, o enólogo também trabalha em outras sete vinícolas e atualmente faz parte do Conselho Fiscal do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha e Nova Pádua. E mesmo com todas essas atividades ele busca estar sempre aprendendo coisas novas e auxiliando da melhor forma outros agricultores. “Meu dia é corrido, para mim o pior momento é a colheita porque eu tenho a produção aqui, tenho entrega da uva para fazer, tem as reuniões do Sindicato que são mensais e tenho mais as vinícolas que eu cuido, então não tem horário para almoçar, tomar café ou jantar”, revela, completando que na época da colheita precisa acordar às 5 horas e quando percebe está indo deitar a meia noite quando não a 1 hora da madrugada.
Dedicação e amor pela atividade exercida são as marcas registradas de Jones Ravizzoni, que diz que se voltasse ao passado escolheria novamente continuar na agricultura. Por esse motivo também incentiva os jovens que querem permanecer no segmento a dar continuidade ao legado de seus familiares.
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