Seca preocupa produtores de uva
Falta de chuva influencia na produtividade dos frutos. Safra está prevista para iniciar no final do mês
Diferente do ano passado, quando essa época era marcada pela incidência de chuva, desta vez é a falta dela que preocupa os agricultores da região. A pouca precipitação registrada em dezembro e na primeira quinzena de janeiro – aliada ao calor intenso – irá trazer prejuízos, conforme prevê a secretária de Agricultura e Abastecimento, Stella Pradella. “Acredito que haverá quebra de produção em função da estiagem, porém os números ainda não são precisos”, afirma. De acordo com a secretária, as chuvas dos últimos dias ajudaram, mas é necessária uma quantidade de água semanal até a safra para que tudo corra bem. “As parreiras estão sofrendo pela falta de chuva, o que deixa os cachos com grãos um pouco mais finos e menores.”, diz. O engenheiro agrônomo do escritório da Emater florense, Raul Dalfolo, explica que “a uva é um fruto que tem muita água e, em função da pouca quantidade de chuva, ela acaba usando a própria água para se nutrir”, esclarece. Apesar do volume reduzido de água até então, a secretária de Agricultura afirma que os prejuízos em Flores, comparados a cidades como Bento Gonçalves, são menores. “Além de chover menos, fez mais calor neste ano. Com isso, a terra ficou mais seca e as culturas sofreram mais”, aponta.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, relata que haverá perda no volume da safra em decorrência da estiagem, mas também por outros fatores, como a chuva demasiada na época da floração. “Apesar da quebra, a qualidade será boa. A parreira apresenta um aspecto de sanidade, os produtores cuidaram bastante e fizeram o tratamento certo”, destaca Schiavenin. A previsão é de que a colheita inicie no final de janeiro, mas tudo depende da época em que a poda foi realizada. Por isso, certas variedades já começaram a ser colhidas, como é o caso da Niágara em algumas propriedades. Conforme Schiavenin, a colheita da Bordô – uma das variedades mais cultivadas em Flores da Cunha e Nova Pádua - deve começar entre a última semana de janeiro e a primeira semana de fevereiro, dependendo do estágio de maturação, além de fatores como a data da poda e a localização. Já a Isabel está prevista para iniciar depois da segunda quinzena de fevereiro. De acordo com a secretária Stella, ainda não é possível estimar o volume da safra. “Precisamos esperar para ver como o clima irá se comportar”, declara. O preço mínimo ao quilo da uva industrial na safra ficou fixado em R$ 1,08. Na última safra, o município produziu cerca de 70 milhões de quilos. Outras culturas também sofreram com a falta de água. Em Mato Perso, o pêssego tardio foi atingido – boa parte da fruta já havia sido colhida.
A colheita já começou
Devido a poda antecipada, a colheita da uva já começou em cerca de 0,3 hectare de parreiral coberto na propriedade da família Pagno, na comunidade Nossa Senhora do Carmo. Ao todo, a família cultiva na plasticultura dois hectares da fruta. A plantação, em sua maioria, é da variedade Niágara Rosada. Há também uvas de mesa, das variedades Itália e Benitaka, e um hectare de Isabel precoce – esta comercializada para vinificação. As demais são vendidas para consumo in natura. A colheita nas outras áreas está prevista para iniciar após o dia 20, exceto das uvas de mesa – que estarão prontas somente em fevereiro. Conforme o agricultor Ricardo Pagno, 46 anos, que comanda a propriedade ao lado da irmã Rosangela Pagno, 41, o clima estava ‘trabalhando’ bem. “O inverno teve as horas de frio necessárias para a videira e as chuvas de outubro não afetaram tanto – pelo menos a uva coberta. Porém, deveria ter chovido mais em dezembro”, diz. Segundo Pagno, as uvas cultivadas na plasticultura também sentem os efeitos do forte calor. “O plástico garante certa proteção para granizo, geada e doenças, mas a uva precisa de umidade”, conta. O agricultor afirma que a falta de água afeta o crescimento do fruto. “Ele acaba ficando mais fino, com cachos e grãos menores”, declara. Além disso, o clima sempre interfere na produtividade. “O ideal é um inverno com bastante frio, uma primavera com chuvas regulares e pouca chuva na fase de maturação”, explica. Apesar da estiagem, Pagno prospecta uma colheita semelhante a da safra anterior, quando os parreirais foram atingidos pelo granizo. Neste ano, o agricultor planeja colher aproximadamente 60 mil quilos de uva.
Estimativas de perdas de 15 a 30%
No município vizinho de Nova Pádua, a situação é semelhante. O secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Samoel Smiderle, estima uma perda de 15% a 20% em variedades como a Bordô. “A fruta que estava murcha e praticamente madura irá apresentar quebra, não na questão da qualidade, mas na sua produtividade”, diz. Smiderle explica que as áreas também interferem. “Locais onde o solo é menos profundo e há laje embaixo foram mais castigados. Já lugares que têm cobertura de solo ou cobertura verde podem apresentar uma perda menor em função da retenção de água”, afirma. A produção de uva estimada em Nova Pádua é de 40 milhões de quilos.
No Travessão Curuzu, o engenheiro agrônomo Rodrigo Camana (foto), 32 anos, também sentiu os impactos da seca. Ele prevê uma quebra de 30% na produção. Camana cultiva, em 5,5 hectares, as variedades Bordô, Isabel, Isabel precoce, Moscato Embrapa e Couderc 13. As uvas serão vendidas para vinificação. Neste ano, devido à estiagem, o engenheiro agrônomo precisou implantar um sistema de irrigação nos lugares mais afetados pela falta de água. “Onde tinha laje no solo foi necessário molhar”, conta. Segundo Camana, apesar da baixa quantidade de chuva, a qualidade do fruto é boa. A estimativa é colher cerca de 110 toneladas na safra 2020.
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