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Salzburgo: aprecie com moderação

Tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade, cidade austríaca é uma das cidades mais bonitas e visitadas da Europa

Apesar da Síndrome de Sthendal ser relacionada com turistas em Florença, a austríaca Salzburgo também pode desencadear uma reação de êxtase artístico. Não é piada. A Síndrome de Sthendal é bem recente, mas realmente existe. Quais os sintomas? Palpitações, agitação, tontura, confusão mental e até mesmo alucinações, relataram algumas pessoas quando expostas a uma overdose de beleza artística.

Então, aqui vai o conselho aos que admiram as artes clássicas, mas não querem desmaiar na frente do violino de Mozart nem ver anjinhos barrocos voando pelo interior da catedral: muito cuidado em Salzburgo. O lugar é simplesmente espetacular, com suas 20 igrejas de valor histórico e cultural, inúmeros museus (incluindo a Casa de Mozart), meia dúzia de palácios, um castelo medieval de interior ricamente decorado, além de vários jardins, praças e ruas antigas que já seriam suficientes para provocar um surto estético aos desavisados.

Localizada próxima aos Alpes, na fronteira com a Alemanha, e tombada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio da humanidade, Salzburgo é uma das cidades mais bonitas e visitadas da Europa. Independente da estação do ano, o centro histórico tem um ar de fábula encantada. Mas caminhar pela Getreidegasse, uma rua comercial de prédios antigos, enquanto se admira as velhas e elaboradas placas de metal, requer atenção redobrada, por um motivo mais mundano que as possíveis crises de deslumbramento. Getreidegasse, que literalmente quer dizer Rua do Cereal, existia desde a época da invasão romana, mas ganhou esse nome apenas no Século 19. Durante a Idade Média, a rua era conhecida por Trabegasse, nome derivado de traben (trotar, em alemão).
A casa onde Mozart nasceu e passou a infância também fica nessa rua. Hoje transformada em museu, a residência número nove da Getreidegasse tem uma coleção de objetos que pertenceram ao compositor, incluindo o violino que ele tocava quando criança, partituras autografadas, cartas de família, anéis e até uma mecha de seus cabelos.

Há também outro museu dedicado a Mozart, na segunda residência da família, que foi totalmente reconstruída depois dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Apelidado de Residência, esse museu tem a maior coleção audiovisual do mundo sobre as obras do compositor. São mais de 22 mil gravações, incluindo algumas de 1889. Visitantes têm livre acesso a esse material, se tiverem a sorte de encontrar um computador disponível.

Não há necessidade de fazer o tour completo de arte eclesiástica, para ter uma ideia da riqueza das igrejas de Salzburgo. Mas a catedral barroca, com seu teto ricamente esculpido em mármore, é ponto de parada obrigatório. Apesar de ter passado por várias reconstruções, depois dos bombardeios da Segunda Guerra, a catedral de Salzburgo ainda mantém boa parte da arquitetura original. O templo tem a pia batismal onde Mozart foi batizado (com o nome complicado de Johannes Chrysostomus Wolfgang Theophilus Mozart).

A Igreja e o Cemitério de São Sebastião, onde estão enterrados o pai, a esposa e muitos familiares de Mozart, é outro lugar imperdível. Antes de 1500 o lugar abrigou um cemitério para as vítimas da peste negra. Hoje, os túmulos, muitos do Século 16, são verdadeiras obras de arte.

Vista panorâmica e as minas de sal
No topo da colina, onde em 1077 o castelo-fortaleza de Salzburgo foi construído, se tem a melhor vista da cidade. Há duas opções para chegar lá: uma caminhada de 15 minutos ladeira a cima, ou alguns meros segundos no teleférico. Além da vista panorâmica da cidade, o castelo está aberto à visitação durante o dia, mas apenas recentemente o prédio virou atração turística.

Fica mais fácil entender porque a cidade recebeu o nome de Salzburgo depois de uma visita ao monte Durrnberg, na vizinha Hallein, a menos de 30 quilômetros ao sul. Há mais de 2500 anos, as tribos celtas que habitavam a região extraiam da terra um mineral muito precioso, conhecido na época como “ouro branco”, que era usado em troca de produtos produzidos pelos romanos. As minas de sal de Hallein são consideradas as mais antigas do mundo, e estão abertas à visitação pública. Em Salzburgo, é fácil comprar uma pedra de sal bruto como souvenir, já que a extração nas minas encerrou no final dos anos 1980.

Ainda que soe bizarro, Hollywood também contribuiu para aumentar o número de turistas na cidade natal de Mozart. Muito antes de 1984 e de Milos Forman decidir gravar o filme Amadeus, sobre a vida de Mozart, outra produção hollywoodiana fez muito mais sucesso nos 1960. A Noviça Rebelde, com Julie Andrews, teve a maioria das cenas gravadas em Salzburgo, muitas delas nos jardins do Palácio Mirabell. Quem viu esse clássico do cinema irá lembrar de uma cena em que Julie canta com as crianças, correndo entre as estátuas de mármore e fontes dos jardins, subindo e descendo degraus, pulando e dançando, na maior agitação. Se não fosse um musical de Hollywood, até parece que estaríamos presenciando os sintomas de uma Síndrome de Sthendal coletiva, anos antes de sua descoberta.



Terra de Mozart pode ser minuciosamente observada do algo do castelo que leva o nome de Salzburgo. - Giovana Zilli / Divulgação
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