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Reutilizar para economizar e preservar

Oficina de produtos de limpeza a partir do reaproveitamento de materiais minimiza impactos no meio ambiente e contribui para o orçamento doméstico

Oferecer alternativas para o reaproveitamento de materiais de fácil acesso e que, muitas vezes, acabam sendo descartados de forma incorreta e contaminando o meio ambiente; além de promover uma reutilização sustentável, que possa gerar uma renda extra e, sobretudo, diminuir a dependência de industrializados. Com esses objetivos, há sete anos, a aposentada Jurema de Fatima Novello Secco, de 59 anos, transformou a paixão por ajudar as pessoas e pelo meio ambiente, em ações diárias.  
Na verdade, aposentada não é um dos melhores termos para defini-la: “Se me pedir uma profissão eu não sei, porque eu faço um pouco de tudo, eu já fui padeira, na pandemia eu fiz um curso de reflexologia podal, outro de alinhamento de ervas e comecei a fazer a bebida fermentada Kombucha. Mas eu tenho um amor muito grande pelo sabão e pelos produtos de limpeza, tem várias coisas que eu faço no decorrer dos meus dias e eu acho o máximo, muito bacana”, empolga-se Jurema, com um sorriso no rosto.  
Amor esse que chamou a atenção quando ela divulgou seu trabalho no 10º Encontro para Mulheres Agricultoras, promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha e Nova Pádua, no mês de junho. “Eu gosto muito de Flores porque eu acho uma cidade muito boa de viver e o pessoal é muito empreendedor, tem uma qualidade de vida boa e são pessoas trabalhadoras. Mulheres que trabalham na roça, fazem os serviços em casa e sempre tem tempo para aprender”, destaca a multitarefas, que explica que a relação com o município florense se fortaleceu pelo fato de a filha, a farmacêutica Gabriela Secco, ter uma linha de cosméticos naturais, a Ares de Mato, que é produzida pela Alavis Laboratórios, de Flores da Cunha.
E foi acompanhando a filha em cursos e feiras nas diversas partes do Brasil, que ela foi alimentando seu gosto pela produção natural e se dedicando a ela. “Comecei a pensar em fazer porque eu tenho uma filha que é alérgica a todos os produtos de limpeza que contêm lauril sulfato de sódio e parabenos. Há sete anos eu não compro nada, se tu me pedir o preço de algo no mercado eu não sei, porque eu faço sabão, sabão líquido, amaciante, itens para limpar o chão, para vidros, as minhas coisinhas”, conta, ao mesmo tempo em que se mostra preocupada com a sustentabilidade. 
“Se comprar qualquer produto forte no mercado, tu sabes que vai largar na natureza e ele vai agredir o meio ambiente. O que eu faço é a base de sabão e já tiro o óleo da natureza também, porque no dia a dia as famílias colocam muito óleo fora, no lixo ou largam em qualquer lugar. Eu tenho feito um trabalho com minhas conhecidas de pegar o óleo delas e trocar por artigos que eu produzo”, revela a aposentada, que também utiliza vinagre, açúcar, bicarbonato de sódio, sal e cal em suas produções. 
Essas criações deram tão certo que, hoje, Jurema também ministra cursos com foco no reaproveitamento de materiais: “Na minha oficina eu faço sabão de bicarbonato, a partir dele a gente vai desenvolver o amaciante, depois o trifásico. O multiuso é muito básico também, é a base de água oxigenada, vinagre de álcool (ou o próprio álcool), bicarbonato e açúcar. São todas fórmulas minhas, fórmulas que limpam, e tudo é feito sem bases prontas, a partir do zero”, evidencia e acrescenta que com o trifásico, por exemplo, é possível realizar uma limpeza pesada nas paredes, lavar o banheiro e remover a gordura, tudo isso sem utilizar a tradicional água sanitária e a lã de aço. 
“Como eu lancei esse projeto da oficina, eu fiz tudo sobre limpeza e queria algo que a pessoa também pudesse usar na mão, na pele, que não ressecasse. E quando vai usar algo na pele tem que ter um cuidado, não pode colocar um óleo que já foi usado. Então o sabonete de erva-mate é o único que foge um pouco dos meus critérios, optei por uma essência de erva-doce”, explica a aposentada, que também utiliza óleo de coco na composição do mesmo. 
Além dos produtos mencionados – os mesmos que as pessoas podem aprender nos cursos de Jurema – ela também criou sabões feitos com fruta de coco e açúcar, sabonetes de mamão e glicerina, e pastas multiuso, que garantem a limpeza de calçados e objetos em alumínio, sem riscar. “Eu não coloco tudo na minha planilha, mas são coisas que faço. Quando dou o curso, eu sempre coloco essas coisinhas à parte para as turmas”, adianta.
Oficinas que ela começou a ministrar há seis meses e, de lá para cá, já foram cerca de cinco encontros nos municípios de Jaquirana, Cazuza Ferreira e Caxias do Sul. De acordo com ela, o número de pessoas interessadas está crescendo e, hoje, as turmas variam de 10 a 14 integrantes. 
Os cursos – cujo contato para participar pode ser feito pelo telefone/WhatsApp (54) 9.9932.5173 – costumam ser realizados em capelas de comunidade, sedes de clubes de mães ou associações, e têm duração média de sete horas, divididas em dois dias de 3h30min cada: “Quase sempre a gente faz em uma tarde os sólidos – como o sabão e o sabonete – porque eles têm que ser feitos hoje para serem retirados da forma amanhã, eles precisam de 24h. E, no outro dia vamos lá, desenformamos, identificamos e finalizamos, porque uma parte desses produtos é utilizada para fazer o multiuso, o amaciante e o trifásico”, revela, acrescentando que sempre leva alguns artigos  prontos para adiantar as aulas e toda a produção é dividida entre as alunas. 
“Têm algumas que já estão fazendo um sabãozinho para vender e, às vezes, isso ajuda até em um ganho para a família. Aprende ali no curso e faz para vender”, comemora a multitarefas, ao mesmo tempo em que destaca que, hoje, as produções e as oficinas são uma fonte de renda que auxilia em seu orçamento mensal. Jurema também evidencia que, por vezes, as pessoas dizem que os custos de seus cursos – que variam de R$ 110 e R$ 140 – são muito elevados, mas, ela explica que o mesmo valor utilizado no mercado, para comprar itens de limpeza, seria gasto em um instante.
No entanto, se tivesse condições, a aposentada conta que ministraria as oficinas de forma voluntária, pelo simples fato de ensinar e aprender com suas alunas: “Ninguém sabe o suficiente, aprendemos todos os dias, mas eu gosto muito disso, de estar passando os meus conhecimentos, aquilo que eu aprendi, para que as outras pessoas aprendam também”, emociona-se. 
Com o intuito de divulgar suas criações, ela explica que participar de feiras em diversos locais está sendo de grande importância e fazendo com que seu trabalho seja bastante aceito. “Esses produtos de limpeza pesada eu faço mais para mim, mas muitos me pedem: ‘me faz um galão de multiuso que eu gostei’, ‘me faz um galão de trifásico’, ‘gostei do teu sabão, traz uns 4 ou 5 para mim’, é assim, um vai comentando com o outro, a gente vai vendendo e vira uma fonte de renda”, empolga-se e ressalta que os sabões em barra, com cerca de 500gr – que variam de R$7 a R$8 – são os mais procurados. 
“Se Deus quiser e me der saúde eu ainda quero ter meu sabãozinho registrado, porque hoje se tu procurar em um mercado tu não acha um produto que não tenha lauril, que não tenha parabeno, acha o sabão que as grandes indústrias fazem, mas todos eles têm componentes agressivos para a pele. Então uma pessoa que é alérgica, por exemplo, não pode usar e esses que eu faço pode, porque eles não vão fazer mal”, conclui Jurema, orgulhosa. 

Há sete anos, Jurema Secco se dedica ao reaproveitamento de materiais  por meio da produção de itens de limpeza. - Karine Bergozza
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