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Resultado da Safra 2012 aumenta preocupação do setor vitivinícola

Números positivos da produção de uva contrastam com a quantidade de vinho estocada nas cantinas do Rio Grande do Sul, que atualmente têm 268,9 milhões de litros guardados. Jornada Vitícola em Garibaldi serviu para discutir o assunto no dia 15

Mais da metade da produção de uvas do Rio Grande do Sul está sendo investida em suco de uva, e não mais em vinhos. Essa é uma das revelações apresentadas durante a 13ª Jornada da Viticultura Gaúcha, que aconteceu no último dia 15, em Garibaldi. Conforme levantamento da Comissão Interestadual da Uva sobre a safra 2012, menos da metade da uva produzida foi destinada à elaboração de vinhos. Dos 696,1 milhões de quilos produzidos no Rio Grande do Sul, 56,1% foram para produção de suco. Uma estatística que vem se modificando nos últimos oito anos. Em 2004, 75,5% da produção de uvas comuns virava vinho, contra 24% de suco.

Em 2011, o destino das frutas para a produção de vinho se igualou com a do suco. Foram 49% para a produção de sucos e 51% para a elaboração de vinhos. “Se não tivéssemos a alternativa do suco, com um mercado crescente, teríamos dificuldades com o destino da produção caso houvesse apenas a dependência da elaboração de vinhos”, alerta o coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin.

Para o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Alceu Dalle Molle, a destinação das uvas para a elaboração do suco revela o crescimento deste mercado. “É uma alternativa viável para o equilíbrio econômico e uma saída para enfrentar os altos estoques de vinhos de mesa”, diz Dalle Molle, que destaca que a próxima safra pode estar comprometida. “Acredito que teremos problemas na próxima vindima. E chegou a hora de repensar o setor, rever os erros e tomar decisões fortes. Chegamos ao limite”, sentencia.

No comparativo com os quatro primeiros meses do ano passado, o consumo de vinhos diminuiu em 2012. Foram 14% a menos nos vinhos comuns e 8% a menos nos vinhos finos. Enquanto isso, o suco de uva teve um acréscimo de 5%, assim como os espumantes, de 6%. Porém, isso não é um alento, já que nos anos anteriores o consumo de suco chegou a 25%.

De acordo com os líderes do setor, a mudança ocorre por alguns fatores: o aumento da produção – o Estado tem uma área para produzir até 1 bilhão de quilos; a consequente sobra de vinhos (existe um excedente de mais de 100 milhões de litros); a concentração da compra da uva; e a diminuição do consumo da bebida no mundo todo. “A Europa vai gastar 150 milhões de euros para erradicar 177 mil hectares de parreiras. A Itália consumia, há alguns anos, em torno de 80 litros per capita e, hoje, consome a metade disso”, compara Schiavenin.

De acordo com os líderes do setor, a mudança ocorre por alguns fatores: o aumento da produção – o Estado tem uma área para produzir até 1 bilhão de quilos; a consequente sobra de vinhos (existe um excedente de mais de 100 milhões de litros); a concentração da compra da uva; e a diminuição do consumo da bebida no mundo todo. “A Europa vai gastar 150 milhões de euros para erradicar 177 mil hectares de parreiras. A Itália consumia, há alguns anos, em torno de 80 litros per capita e, hoje, consome a metade disso”, compara Schiavenin.

Superssafra
A superssafra de uva colhida e processada este ano também agravou os problemas. Os vitivinicultores gaúchos processaram a segunda maior safra da história. As uvas viníferas somaram 75,7 milhões de quilos e, as comuns (americanas ou híbridas), 620,3 milhões de quilos. Mesmo com a estiagem e com a ocorrência de granizo, a produção foi farta. Atualmente, as vinícolas instaladas no Rio Grande do Sul têm 268,9 milhões de litros em estoque. “O volume excedente está mais de 100 milhões de litros acima do normal, que é um estoque de passagem ao redor de 150 milhões de litros”, afirma o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Raimundo Paviani. Com a nova safra, que deve gerar 436,4 milhões de litros de vinho e derivados, a projeção é fechar o ano com 306 milhões de litros estocados, o maior volume desde 2009, quando havia um acúmulo de 313 milhões de litros de vinhos e derivados. “A grande safra de uva deste ano coloca o setor em alerta, pois os estoques são ainda maiores. Estamos esperando desde 2010 por medidas de redução dos estoques de vinhos finos e de mesa”, observa Paviani.

Perspectivas
Dessa forma, o setor vitícola tem como perspectivas o apoio do governo para o cumprimento de uma série de reivindicações, como a inclusão das pequenas cantinas no Simples Nacional, a diminuição da carga tributária, a regulamentação do vinho artesanal, o aumento da fiscalização, o auxílio para escoar os estoques e a aplicação de medidas de salvaguarda para a produção nacional. Os pedidos foram entregues ao assessor de gabinete do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Marcos Carlos Regelin, que esteve na Jornada Vitícola representando o ministro Pepe Vargas.

Conforme Dalle Molle, se há o interesse de manter as famílias no interior, produzindo e se desenvolvendo, é necessário elaborar um plano para que o setor possa agregar valor, promover a qualidade e diminuir os custos de produção para enfrentar o mercado com competitividade.

Conquistas e desafios foram analisados
A 13ª Jornada da Viticultura Gaúcha apresentou um retrato da viticultura no Rio Grande do Sul. O encontro, que reuniu mais de 500 produtores de dezenas de cidades da região, discutiu o momento, além de apresentar os desafios e reivindicações do setor.

A grande expectativa do evento era a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, frustrada com a notícia de sua ausência devido a uma convocação de última hora da presidente da República, Dilma Rousseff (PT). Mesmo assim, um documento com as demandas de produtores e entidades representativas foi entregue ao assessor de gabinete do ministro, Marcos Carlos Regelin. Ao receber o documento, Regelin destacou que muitas das reivindicações estão na pauta do governo federal.

O secretário-adjunto da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa), Claudio Fioreze, que representou o secretário Luiz Fernando Mainardi, destacou que o aumento de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis) para o Ibravin, que passaram de 25% para 50%, possibilitou o desenvolvimento de projetos orçados em R$ 5,1 milhões para o fortalecimento do setor ainda neste ano. Também destacou o trabalho que vem sendo realizado junto ao Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem), ao qual serão apresentados projetos de aproximadamente US$ 15 milhões também para promover o desenvolvimento da cadeia vitivinícola gaúcha.

A Jornada da Viticultura Gaúcha, que teve como tema Unir para despertar – Avaliando o presente e projetando o futuro da viticultura, foi realizada no parque da Fenachamp numa promoção da Comissão Interestadual da Uva; Ibravin; governo do Estado; STR de Garibaldi, Boa Vista do Sul e Coronel Pilar; prefeitura de Garibaldi; e Cooperativa Vinícola Garibaldi.

Mais de 500 produtores debateram, em Garibaldi, estratégias para o setor. - CASSIUS ANDRÉ FANTI/ESPECIAL
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