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Resgatar o passado para planejar o futuro

Documentário “Nostre Radise, Nostra Stòria”, da Associação Amigos do Museu Pedro Rossi, evidencia o Talian e a cultura italiana no dia a dia dos florenses

Disseminar o Talian de uma maneira que fosse muito além da gramática e despertar o interesse das pessoas em conhecer a história desta língua, por meio de uma contextualização que contemplasse a chegada dos imigrantes italianos, a evolução da educação e da moda, além dos pilares do trabalho e da fé, foi o que serviu de motivação para a presidente da Associação Amigos do Museu Pedro Rossi, Lorete Calza Paludo, tirar do papel o documentário “Nostre Radise, Nostra Stòria”.
A ideia surgiu em meio à pandemia de Covid-19, na qual as oficinas de Talian – uma contrapartida do recurso oriundo da Lei Aldir Blanc – deveriam ser ministradas online. Essa mudança de formato fez com que um público menor participasse das aulas, fato que motivou Lorete a pensar em alternativas mais atrativas. “Eu fui amadurecendo as ideias e colocando no papel, reuni quatro integrantes da associação para conversar sobre, sendo que um deles era o Alex Eberle, o meu braço direito, que fala e escreve fluentemente o Talian; também tinha a Fátima Caldart Galiotto e a Adriana Bulla, professoras”, lembra a presidente da associação que complementa afirmando que se surpreendeu por todos terem apoiado a proposta. 
As gravações do documentário iniciaram em setembro deste ano, na comunidade de São Valentim, e já percorreram diversas localidades do interior, tais como: São Caetano, Santa Bárbara, São Martinho, Santa Líbera, São João, Capela Fulina, além de filmagens dentro da casa de pedra da Revolução de 1923, da família Poleto, que hoje é de propriedade da família Polo, e do Casarão dos Veronese, em Otávio Rocha. “Começamos com a saída da Itália e a chegada aqui, após entramos diretamente na fé, porque a religiosidade foi algo que levaram com eles. Depois partimos para a educação, a gastronomia, a agricultura e mostramos uma oficina com ferramentas bem antigas utilizadas para o trabalho na roça”, salienta Lorete. 
O objetivo do trabalho é de resgatar os valores da imigração italiana, mas de uma forma mais local, abordando elementos específicos da nossa região e evidenciando o quanto devemos ser gratos e valorizar tudo que os imigrantes construíram, em uma época na qual os recursos eram escassos. Também terá destaque a maneira de falar, os gestos e como uma mesa farta se tornou sinônimo de bem viver. 
“Dentro da literatura vamos mostrar poesias em Talian, porque nós temos diversos autores, também falaremos com o Ivo Gasparin. Vamos fazer a parte da música com o Coral Nova Trento e o Grupo Ricordi. Na dança vamos destacar o Funiculì Funiculà e o Quel Mazzolin Di Fiori”, comenta a coordenadora do documentário, que também escreveu grande parte dos textos. Ela garante que o que diferencia este de outros produtos audiovisuais é o fato de ser falado em duas línguas: no Português e no Talian. Além disso, se possível, os integrantes pretendem colocar as legendas nas duas línguas. Tudo para alcançar um público maior. 
As gravações estão sendo desenvolvidas pela Cosmos Produções, de Guilherme Dias, e acompanhadas por Lorete e Alex. Contudo, como a associação é pequena, em torno de 45 pessoas estão colaborando para a organização de “Nostre Radise, Nostra Stòria”, uma dedicação que, em breve, poderá ser conferida. Afinal, as filmagens devem ser finalizadas ainda neste ano, com um filó que contará com a presença de personagens icônicos da nossa cultura, como o Nanetto Pipetta e o Sanguanel. 
Após, a edição deverá ser criteriosamente acompanhada pelos integrantes, para a criação de legendas e seleção de trechos emblemáticos. “O documentário pronto nós não vamos conseguir para logo, mas vamos dividi-lo em pequenas partes, pequenos vídeos, separados por tema e que juntando totalize o documentário, que terá em torno de 50min. Assim, as pessoas terão a possibilidade de assistir inteiro ou por partes, como preferirem”, destaca.  
A coordenadora acredita que o lançamento seja no início de 2022, porque a Associação Amigos do Museu pretende entregar uma cópia para as escolas, juntamente com um dicionário, uma gramática, um almanaque e diversos livros, tudo no Talian. “Eu não sei quantas pessoas nós vamos atingir, mas eu sentia que nós tínhamos a necessidade de deixar alguma coisa para a posteridade. O documentário vai estar lá, pronto, se interessar, e nós vamos distribuir para as escolas, colocar na internet e quando alguém precisar saberá onde buscar”, relata Lorete, que também menciona sobre a preocupação com o futuro dessas tradições, sobretudo a preservação do Talian. 
“A pouca participação dos jovens faz com que eu tenha medo que tudo isso, daqui alguns anos, se perca. Por isso, enquanto eu estiver aqui, vou continuar batalhando pela cultura, afinal o objetivo da Associação dos Amigos do Museu é a preservação do patrimônio, tanto material quanto imaterial”, finaliza.

Associação Amigos do Museu Pedro Rossi está à frente do projeto.   - Alex Eberle/ Divulgação
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