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Relatos do medo: “Pensava que era o fim do mundo”

O Florense conversou com o casal Ivete e Jorge Terazaki, ela uma florense que reside no Japão há sete anos

“Ainda estou muito assustada, com muito medo”. Essa foi a frase que a florense Ivete Mezzomo Terazaki, que reside há sete anos na cidade de Ageo-shi (400 mil habitantes), Província de Saitama-ken (3 milhões de habitantes), distante 300 quilômetros de Sendai, local mais atingido pelo terremoto e pelo tsunami que destruiu parte do Japão, disse por várias vezes durante entrevista, feita por telefone, pela reportagem de O Florense na quarta-feira, dia 23, quinze minutos após sentir mais um tremor de terra. A cidade onde ela e o marido, Jorge Terazaki, residem não foi destruída, apenas foram sentidos fortes abalos. Jorge é filho de japoneses e nasceu no Brasil. Há 22 anos decidiu se transferir para o Japão. No período em que moraram em Flores o casal era proprietário da Fruteira Terazaki, que estava localizada onde hoje é a lojas Colombo. Atualmente, o casal é proprietário de uma empresa ligada a construção civil.

Mesmo residindo a 300 quilômetros das localidades mais atingidas, Ivete conta que o dia 11 de março foi assustador. “Era por volta das 14h45 min. Eu estava na empresa junto com o Jorge e um funcionário quando tudo começou a tremer, os prédios e os carros pareciam que andavam. Tinha um caminhão que ia para frente e para trás. Foram dois minutos de pânico, parecia que tudo aquilo não terminava nunca. Eu só gritava e pedia que Deus ajudasse, que não deixasse que nós morrêssemos. Pensava que era o fim do mundo, o fim de tudo”, conta Ivete. Nesse momento Ivete e o marido nem imaginavam que nem tão longe dali a cena era de destruição completa. Na cidade onde eles moram apenas algumas casas tiveram pequenos prejuízos, mas em outras localidades a destruição foi completa. “Estamos assistindo tudo pela televisão. O que vocês vêem no Brasil não é quase nada do que está por aqui. É muito triste. Não dá para ligar a televisão porque é o dia inteiro tristeza e morte”, diz Ivete. “Em algumas cidades a terra se abriu”, descreve Jorge.
Hoje, duas semanas depois, a florense afirma que ainda sente o corpo tremer. “Fiquei uma semana com vontade de ir dormir no carro. Parecia que lá eu estava segura. As pessoas por aqui não falam de outra coisa a não ser disso”. Hoje, em grande parte das cidades do Japão o maior problema é a radioatividade e isso tem preocupado muito os japoneses. “Não podemos beber água da torneira, está proibido porque pode causar danos à saúde”, relata Jorge. Nos supermercados há falta de alimentos. “Logo depois do acontecido as pessoas correram para os supermercados para se abastecer porque sabiam que a situação iria ficar difícil. Ontem, por exemplo, saí para comprar leite, mas só consegui o de soja. Não há biscoitos, enlatados, nada, está tudo vazio. Mas nós tínhamos um bom estoque em casa, então não passamos necessidade, destaca.

De acordo com o casal, além da água, a energia elétrica também é precária. “Ou temos água ou temos luz. Uma das duas sempre falta no dia”, diz Ivete. Também há falta de combustível, o que faz com que as pessoas não possam se deslocar. “Até mesmo os moradores daqui, pessoas de mais idade, dizem que nunca viram nada igual, diz Jorge.

Mas a situação aos poucos volta ao normal. “Na primeira semana queria volta ao Brasil, não queria mais ficar aqui por nada. Mas, aos poucos, a situação volta a sua rotina. Tenho muita saudade do Brasil. Estou aqui há sete anos e o Jorge há 22, mas não esquecemos de ninguém. Lembramos de todos os nossos amigos e sentimos muita falta de todos”, finaliza Ivete. Até o momento mais de nove mil pessoas morreram e outras milhares estão desaparecidas.

Sugestão enviada pela leitora Loire Lusa Viapiana

Confira abaixo imagens de Sendai, no Japão, antes e depois da tragédia.

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