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Pura inspiração

Florense Emilio Finger completou 60 anos na sexta-feira, dia 7, e compartilha sua trajetória repleta de aprendizados e gratidão à vida e às pessoas

É praticamente impossível sair de uma conversa com o florense Emilio Finger sem se emocionar, repensar algumas atitudes e a importância que damos ao que acontece no nosso dia a dia. É como sair de uma sessão de terapia e pensar em como podemos nos tornar pessoas melhores. Contando a sua própria história ele nos mostra que o equilíbrio entre o corpo e mente precisam andar juntos e complementar um ao outro, sempre. 
Após ter contraído paralisia infantil aos seis meses de idade, o menino Emilio nos dá exemplos de determinação e persistência ao conseguir ficar em pé, pela primeira vez, aos 7 anos. A coragem e o foco aparecem na vida do homem Emilio, que precisa fazer escolhas diárias (como todos nós) em busca da realização de seus objetivos. Inquieto, sempre motivado e grato, ele é dono de um sorriso capaz de superar um dos maiores obstáculos da humanidade: a nossa mente. 
Nascido em julho de 1963, Emilio Finger completou exatos 60 anos na sexta-feira, dia 7, o canceriano é filho de Ary e Luiza Maria ‘Luizinha’ Mambrini Finger (In memoriam) e possui mais 14 irmãos. Também é pai da jovem arquiteta Rafaela Finger, de 29 anos. 
Trabalha nas empresas Randon há 27 anos e, atualmente, é diretor-proprietário (juntamente com mais três sócios) de uma das maiores másters franquias de todo o Brasil na área de imóveis e automóveis da marca que atende toda a Serra Gaúcha: a Racon. Divide sua rotina com as palestras, nas quais conta sua história de vida, desde 2016; a prática de esportes das mais diversas modalidades, e; ainda sobra tempo para, como ele mesmo diz, ‘brincar’ com seu violão, já que, quando jovem, tocava violino na Orquestra Sinfônica de Caxias do Sul. Conheça a história deste inventivo, que todos os dias busca novos significados para a arte de viver.

O Florense: Como foi ter nascido e crescido em uma família de 14 irmãos e quais as suas principais memórias de infância? 
Emilio Finger: Foi uma infância um pouco diferente porque aos seis meses de idade eu contrai paralisia infantil e eu sempre digo que os meus irmãos acabaram sendo os meus protetores, os meus anjos da guarda. Posso dizer que foi uma infância praticamente igual a de todas as crianças porque eles me proporcionaram isso, me incentivaram a fazer tudo que uma criança ‘normal’ faz, então foi uma infância muito proveitosa, alegre, feliz e muito bonita, porque eu me sentia acolhido, protegido e sem diferenças. Eu tenho muitas lembranças boas da minha infância, mesmo com todas as dificuldades que tive, e acho que quando eu nasci foi a escolha certa da família que eu precisava em função do meu problema, porque eu tinha praticamente 14 protetores, 14 cuidadores e, ao mesmo tempo, 14 incentivadores. Todos sentiram que a família tinha que ser a primeira a me aceitar e me conduzir para uma vida ‘normal’, por isso eu posso dizer que eu tive um convívio na infância e da infância para a adolescência que traduziram o Emilio como uma pessoa ‘normal’ e, na verdade, é uma pessoa ‘normal’, só com diferenças físicas. 

OF: Depois de muitas cirurgias e sessões de fisioterapia conseguiu ficar de pé, sozinho, aos 7 anos de idade. Como descreve esse momento e como ele influenciou para se tornar a pessoa que é hoje?  
Finger: Quando falo isso eu me emociono, porque naquele dia eram os gritos dos meus irmãos me pedindo para não cair, para dar apenas um passo, e eu lembro de ter ficado de pé menos de um minuto, mas ali não representava o tempo, e sim a vontade que eu tinha de caminhar, incentivado pelos meus irmãos. Naquele momento, não ficou de pé só o Emilio, ficou de pé uma família inteira, foi uma conquista de todos nós. 

OF: Teve ou ainda tem que lidar com algum preconceito por conta da paralisia infantil?
Finger: Eu sou uma pessoa, para quem não me conhece, que um dos meus registros é o meu sorriso. Eu digo que ele abre as portas do coração e da alma, ele conquista qualquer pessoa, então por mais que alguém tenha um pré-conceito, a partir do momento que enxerga o sorriso do Emilio vê que ele é uma pessoa diferente e que já superou o que tinha que superar; e foi assim desde criança, eu conquistava as pessoas pelo sorriso e pela vontade que tinha de andar. É evidente que o preconceito existe, ele também faz parte da nossa vida e eu tenho que tentar entender o outro lado, pode ser que sejam pessoas que ainda não estejam bem esclarecidas e que ainda não sejam tão iluminadas, mas que vão crescer, porque se eu julgar elas eu vou estar tendo o mesmo pré-conceito e eu sempre digo que o preconceito começa quando damos importância a algo que poderíamos levar um pouco na esportiva, na brincadeira. O Emilio é uma pessoa muito alegre, eu brinco com as minhas situações, então muitas vezes as pessoas falam algo que eu consigo levar para o lado da brincadeira para eles perceberem que não existe diferença entre nós e vejam que o Emilio não é tão diferente, que ele é igual a todo mundo, ele só caminha diferente. Então nós temos que entender que a vida é dura, a vida não é um mar de rosas, no entanto, nós podemos conduzir a vida, mesmo dura, como um mar de rosas; mas, para isso, nós temos que ser emocionalmente fortes e isso a gente conquista quando temos valores resgatados da família, são eles que começam a dar esse alicerce para a gente. 

OF: De que forma surgiu o interesse pelas diferentes práticas esportivas? 
Finger: Surgiu desde criança, e ali eu acho que eu posso dar uma glória muito grande aos meus irmãos e aos meus amigos, porque eu gostava muito de futebol e o meu tio, Remi, foi um incentivador de eu torcer para o Internacional. Eu também gostava muito de goleiros e fui um grande goleiro no futebol de salão aqui em Flores da Cunha. Joguei muitos anos, com muitas pessoas, tive que me treinar para poder jogar com eles, isso porque eu tinha diferenças muito grandes e precisava superá-las treinando, assim todos os meus irmãos e meus amigos me treinavam, até eu começar a conquistar espaço e perceber que o meu corpo reagia melhor com o esporte, que era um grande incentivo para eu me movimentar e, até hoje, continua sendo, ao ponto de eu já ter surfado, esquiado, ser mergulhador profissional, já ter feito o Caminho de Santiago de Compostela (na Espanha), ter jogado muito vôlei com os meus amigos. Eu estava na Europa, em maio, e caminhava de 12 a 13mil passos por dia, coisa que pouca gente faz. Eu também jogava padow, três horas em uma quadra sem parar, até quebrar o joelho em uma das partidas e ter abandonado e aí ter aderido à duas bengalas, primeiro uma e depois outra. Mas o esporte sempre foi uma forma de incentivar o Emilio a exercitar o seu corpo, porque ele sabia que só a mente não ia adiantar, que a mente precisava do corpo junto. O esporte está sempre muito vivo e hoje, como eu não consigo participar de eventos esportivos, eu me exercito caminhando, faço academia, natação, tudo que posso para manter o meu corpo em dia, porque eu estou completando 60 anos e 60 anos para uma pessoa que saiu de uma paralisia infantil de seis meses e ter a condição física que eu tenho, é muito raro, e isso eu atribuo ao esporte.

OF: O que representa se desafiar todos os dias, conseguindo transformar dificuldades em oportunidades? 
Finger: Eu acho que a primeira coisa que nós temos que fazer é acordar dispostos a entender que estamos vivos e temos que enfrentar o que vier pela frente. Todas as manhãs eu acordo com dores muito fortes no meu joelho e no meu tornozelo esquerdo, devido à falta de cartilagem, de desgaste natural de um ser humano, então imagina de uma pessoa de 60 anos de idade e que já passou por uma deficiência física. Eu tenho dores e tenho que escolher, naquele momento, o que é que vou fazer com elas, eu escolho deixar elas em um canto, conviver com elas, e continuar trabalhando, praticando exercícios e fazendo as escolhas do trajeto da minha vida. Afinal, nós somos escolhas desde o momento em que acordamos até o momento em que vamos dormir, e no dia seguinte começa tudo de novo. As escolhas nos amparam para os resultados daquilo que queremos ter, nós temos que fazê-las para colhermos aquilo que nós queremos e, muitas vezes, as tempestades não nos deixam fazer a colheita e aí nós temos que plantar de novo! A persistência, a disciplina e o foco, essas são escolhas que nós temos que ter na vida, e eu escolho ter, porque transformar os meus sonhos em realidade depende só de uma pessoa: do Emilio. Eu vou precisar de ajuda? Sim, todos nós precisamos de ajuda.

OF: Ao que atribui essa capacidade de resiliência? 
Finger: A resiliência, eu não tenho nenhuma dúvida, vem de uma pessoa muito especial que foi a minha mãe, dona Luizinha. Ela era uma pessoa muito resiliente, tinha um entendimento, uma capacidade de entender, de compreender e de aceitação, que é de poucas pessoas. E isso a gente tem que treinar, não se conquista do dia para a noite. Eu abro a minha palestra dizendo que vou contar a história de um menino, o que ajudou este menino a entender, a compreender, mas principalmente a aceitar. Aceitar que este era o corpo que eu tinha, mas que eu podia transformar tudo isso através da minha mente. 

OF: O Emilio também tem dias ruins. Como enfrentá-los?
Finger: A primeira coisa é nós aceitarmos que nem tudo são maravilhas na nossa vida, vamos ter dificuldades para enfrentar e nós temos que enfrentá-las de frente, não adianta desviar do caminho e, se possível, enfrentá-las com um sorriso no rosto. O sorriso pode transformar um monte de coisas na vida, porque quando você sorri você leva isso para dentro de si. Também é importante saber que as coisas ruins não persistem para sempre, elas têm um período e se eu conseguir transformar aquilo numa coisa boa, numa coisa melhor, superar, aquilo é uma experiência que eu já vou ter e quando acontecer de novo já saberei como fazer. Então as coisas vão se tornando menos difíceis e vamos encarando os problemas com leveza. Não podemos transformar o que já é ruim em pior, simplifique as coisas, peça ajuda às pessoas que você ama, não tem demérito nenhum em pedir ajuda, pelo contrário.
 
OF: Como surgiu a ideia de ministrar palestras? Como concilia com seu dia a dia?  
Finger: Eu estava na faculdade e um professor que gostava muito de me ouvir pediu se eu poderia, um dia, dar aula no lugar dele. Na ocasião, quando cheguei, não era uma turma, eram duas juntas em um auditório para 60 pessoas e misturei um pouco do que eu tinha para dar aula com a minha vida particular. Contei um pouco da história do menino Emilio, de como fui superando as dificuldades, o quanto é importante a gente fazer o que ama e quando o professor voltou, ele disse: “Emilio, é o seguinte, tem mais turmas querendo te ouvir, o que tu fez?”. Eu disse que não tinha feito nada, que, na verdade, o que menos tinha feito era dar aula (risos), mas ele me pediu se eu faria de novo, foi quando começou um convite atrás do outro, até que um dia ele sugeriu que eu poderia criar uma palestra dessa história. Então eu fui fazendo, fui modificando até que contratei uma empresa especializada em vídeo e apresentações, montamos uma palestra profissional, procuramos uma agência de publicidade e criamos a palestra “Gestão do Coração”, com imagens e vídeos extremamente exclusivos, criamos um roteiro e ela é, hoje, um sucesso, foi vista por mais de 100 mil pessoas. Comecei em 2016 e digo que dá para conciliar com o meu trabalho porque eu conto com a compreensão dos meus sócios e da própria empresa que percebe que essa é uma missão legal, porque levo sempre o nome da empresa junto comigo, e essa é uma coisa que faz bem para as pessoas. Pretendo continuar, claro que reduzindo um pouco o número porque é humanamente impossível seguir com 60 palestras em um ano, hoje eu restringi a 30. Também tem o livro que comercializo nas palestras, agora estou acertando um contrato para mais uma edição, esta deverá ir para as livrarias.

OF: A necessidade de nos tornarmos líderes de nós mesmos é um dos aspectos que procura transmitir ao público em suas palestras. De que forma você busca se tornar líder de si mesmo todos os dias? 
Finger: Nós temos três pilares muito importantes na liderança, o primeiro é a disciplina; o segundo é o propósito, sem ele você não chega a lugar nenhum, e; o terceiro é você entender que toda pessoa é individual e saber respeitar essa individualidade é o que determina um bom líder; se você não souber respeitar as suas individualidades você não consegue ser líder de ninguém, e um exemplo disso é que nós damos pesos diferentes para o sim e para o não e eles tem pesos iguais. Nem todos vão ter os mesmos sonhos e os mesmos valores de conquista que o seu e isso não significa que os seus valores de conquista são melhores ou maiores que o outro, significa simplesmente que são diferentes. A felicidade não pode ser banalizada por conquistas, mas sim pelo valor de cada conquista e, da mesma forma, pode ser que o que eu conquiste não tenha valor nenhum para você e eu tenha que respeitar isso. 

OF: Qual é o segredo para se manter motivado? 
Finger: Eu acho que a motivação é uma coisa que tem que ser treinada, independente do que seja o seu dia. É como um jogador de futebol, um atleta, tem que treinar a tua mente a ser uma mente motivada, independente das coisas, porque as pessoas se motivam, na maioria das vezes, quando a coisa é grande, mas por que não se motivar pelas coisas pequenas que tem tanta importância na nossa vida? Treinar motivação pode ser uma ‘sacada muito grande’, mas como treinar? Acordar e dizer: hoje vai ser um bom dia, hoje eu vou conquistar, hoje eu vou realizar, assim se treina uma mente a ser motivada, não tem outro jeito, se conseguirmos isso nós vamos nos motivar para qualquer coisa. Treinar a mente para saber que aquilo é passageiro, tanto quando é bom, quanto quando é ruim. A nossa vida é uma linha tênue e treinar a nossa mente é interessantíssimo. 

OF: Um conselho de vida?
Finger: Viva! Quando eu escalei o Caminho de Santiago de Compostela, conversando com um português que fazia o trajeto com a esposa dele que estava acometida de uma doença de degeneração cerebral e eu perguntei porque ele estava fazendo o caminho pelo 7º ano, tendo que carregar a esposa na bicicleta adaptada ou no colo, dar comida e dar banho, ele disse: “Porque é o nosso sonho e as pessoas sem sonho elas só sobrevivem, as pessoas que tem sonho é que vivem”. Então nós temos que conseguir acreditar nos nossos sonhos e fazer com que eles sejam realizáveis, assim nós estamos vivendo, muitas pessoas apenas sobrevivem e as que sobrevivem só estão esperando por uma coisa: pela morte. Nós não somos morte, nós somos vida e cabe a nós enxergamos isso, então viva, só temos um caminho pela frente: viver, e viver com emoção, com o coração, sabendo que a nossa vida vai ter altos e baixos, que vai ter coisas boas e ruins, nós vamos um dia sorrir e no outro chorar. Vamos errar, nós estamos aqui para um aprendizado do universo e nós temos que partir sabendo que mais aprendemos, mais fizemos do que erramos, mas que sirva de aprendizado para que a gente possa fazer melhor e ajudar as pessoas sempre que a gente puder, porque nós estamos aqui de passagem e vamos deixar um legado, só o legado, as conquistas de bens são esquecidas aqui. 

OF: Como é chegar aos 60 anos, olhar para trás e ver tudo que já conquistou e segue conquistando?
Finger: Tem muitas coisas ainda pela frente para acontecer, que vão acontecer. Em meus planos está Flores da Cunha, que eu amo, adoro essa cidade, acho um município encantador, que consegue se transformar, se equilibrar, que consigo enxergar no Roteiro do Turismo, é uma questão de detalhe, acho que é ‘a bola da vez’, ao ponto de eu estar construindo uma casa em Flores da Cunha para me aproximar dos meus irmãos e da comunidade. Hoje, quando olho para trás, tenho a clareza de todos os meus erros, das minhas falhas, mas também valorizo isso porque todos meus erros são aprendizados para que eu não corra no mesmo caminho de novo, se nós conseguirmos entender que os erros não vão mais acontecer por escolhas e por entender que aquilo não leva a nada. Nos tornamos pessoas melhores e eu tenho orgulho da vida do menino Emilio, do homem Emilio e sei o quanto as pessoas admiram o Emilio pela passagem, pelo que ele representa hoje, mas tenho certeza que todos me ajudaram a me tornar uma pessoa melhor, os meus irmãos, os meus pais, os meus tios, a família e os meus amigos, a amizade é uma coisa eterna, é quase uma irmandade. Eu acho que a maior mensagem da minha vida é que todas as conquistas têm que ser admiradas e se você quer conquistar alguma coisa agradeça o que você tem, eu sempre tive gratidão pelo meu corpo, mesmo ele sendo diferente de todo mundo, e acho que essa gratidão me fez entender que eu podia ir muito longe e conquistar tudo o que conquistei.

OF: Um legado que gostaria de deixar: 
Finger: Eu não quero ser visto como um ‘Superman’, como um cara que se superou por causa do corpo, mas sim pela bondade. Acho que o meu legado é de uma pessoa que acabou entendendo que tinha que ser disciplinado, manter o foco, ter coragem para enfrentar tudo o que tinha que enfrentar, que tinha que acreditar nos seus sonhos e que deixa uma mensagem final de conquista através dessas palavras e não porque ‘simplesmente agora ele superou’, não, ele supera quando ele faz esse trajeto, essa soma de todo esse caminho, e não uma pessoa que superou porque é melhor do que as outras que tiveram paralisia na época, não, nem todos tiveram as mesmas possibilidades, as mesmas condições que eu tive. Superei porque eu fui aprendendo com as pessoas e elas foram me ajudando a ir conquistando, sem as pessoas eu não seria nada, sem a família, sem os amigos, nada disso seria possível. 

Cheio de planos para o futuro, Emilio Finger apresenta a melhor versão de si mesmo. - Karine Bergozza Ao completar seis décadas de vida, Finger comemora fazendo planos, um deles é saltar de paraquedas, em breve. - Arquivo Pessoal/Divulgação Emilio é mergulhador profissional e considera o esporte um grande incentivo para se movimentar. - Arquivo Pessoal/Divulgação Emilio Finger ministrou palestra em prol do Mão Amiga Flores da Cunha, em maio deste ano. - Luizinho Bebber/Divulgação
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