Projeto ‘Vozes do Tempo’ resgata histórias dos imigrantes
Para resgatar o máximo de informações, documentos e objetos dos antepassados de Flores da Cunha, o Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, por meio do Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, realiza desde março de 2015 o projeto Vozes do Tempo. A iniciativa fez parte das comemorações dos 140 anos da Imigração Italiana. Desde então, foram gravadas entrevistas com mais de 60 idosos entre 75 e 94 anos, os quais contaram a história de suas famílias e de fatos que ocorreram desde a chegada dos primeiros habitantes na então Nova Trento.
O projeto também tem coletado santinhos, cartas, documentos, livros, manuscritos, fotos, quadros, imagens e outros objetos que atravessaram gerações. Assim, o acervo do Museu e Arquivo Histórico será ampliado e enriquecido. O trabalho também ressalta importância da fotografia como suporte visual de memória privada e pública, sua preservação e guarda.
A pesquisa é realizada pela professora e escritora Maria de Lurdes Rech Pianegonda. Ela conta que o projeto tem permitido a reconstrução do cotidiano e dos hábitos dos antigos moradores da cidade. “No material que recolhemos, há preciosidades datadas de 1868. São objetos que comprovam, por exemplo, a intensa e ativa religiosidade dos imigrantes, a força do trabalho e a importância dos vínculos familiares e relações interpessoais na comunidade”, diz.
Segundo a pesquisadora, os colaboradores têm manifestado satisfação em participar do Vozes do Tempo, com disponibilidade no fornecimento de informações, dados, relatos, experiências e acervo das famílias. Um exemplo é a doação de 12 livros com capas confeccionadas artesanalmente por Virginio Carletti, o Gino, com partituras que datam de 1915 a 1939 de músicas tocadas pela Banda Municipal Garibaldi. O grupo, que contou com diversos músicos, entre eles os irmãos Adão, Carlos, José, Benedeto e João Mambrini, Francisco Rizzon, Ernesto Coin, Valerino Cioqueta, Sixto Rosseto, Domingos Mascarello e Lino Garibaldi, se apresentava no coreto da Praça XV de Novembro, atual Praça da Bandeira, em cidades vizinhas, nas comunidades do interior e acompanhava funerais de pessoas ilustres de Nova Trento, entoando La Marcia Funebre.
Foram encontradas, também, cartas de famílias que sempre se corresponderam com parentes da Itália e continuam a fazê-lo até os dias de hoje. Entre as imagens reunidas há, ainda, uma foto de Luigia Morelli Marchioro. Nascida em 1877, na Itália, ela foi a mestra que deu origem à Vila Maestra, local onde ministrava aulas em italiano para mais de 60 crianças. A fotografia tem uma dedicatória ao seu genro, Giuseppe Curra, e a Zaida Marchioro, que em 1930 eram fabricantes de cervejas no centro de Nova Trento e atendentes do Banco do Estado, que funcionava junto à própria residência.
Segundo Maria de Lurdes, “o desenvolvimento do trabalho chamou a atenção para a necessidade de termos registradas e digitalizadas as histórias de vida de pessoas que construíram Flores da Cunha desde 1877, ano em que vieram as primeiras 30 famílias para povoar nossas terras”. Ela destaca personagens como frei Eugênio Brugalli, que permaneceu na cidade por muitos anos; a professora Maria Dal Conte, nascida na Itália em 1844; a atriz Maria Della Costa, além de médicos, prefeitos, religiosos, professores, fotógrafos, alfaiates e enfermeiras. Também há registros sobre a infraestrutura que movimentou o comércio, a cultura e a indústria do município – hotéis, escolas, clubes, comércios, cantinas, fábricas, entidades. “Há um intenso trabalho de pesquisa e registro de dados a ser feito, além do que já existe no Arquivo Histórico”, complementa.
A pesquisa, em desenvolvimento há mais de um ano e meio, ainda não chegou ao fim. Conforme a professora, o levantamento de dados, as entrevistas e a busca por material terão continuidade. “Muitas famílias ainda serão visitadas para darem sua contribuição ao Vozes do Tempo”, complementa Maria de Lurdes.
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