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Projeto estimula a permanência de estudantes no interior

Nova edição do projeto ‘Jovem na Zona Rural’ será finalizada em Flores da Cunha nesta segunda-feira, dia 26 de outubro

Ao longo da história, setores econômicos denominados familiares eram considerados sinônimos de artesanais e, muitas vezes, confundidos com ineficiência, atraso e pouca importância para a economia. Para derrubar de vez conceitos como este, o projeto Jovem na Zona Rural, promovido pela prefeitura de Flores da Cunha, leva a estudantes do 9º ano do ensino fundamental de cinco escolas municipais que a propriedade dos pais, que é um negócio familiar, pode ter viabilidade econômica, além de grandes ganhos sociais. O agricultor pode ser um empresário do agronegócio tendo qualidade, vantagens em produtividade e incentivando a permanência do jovem no interior.

Em 2015 a proposta encaminhada pelas secretarias de Educação e Agricultura chega à terceira edição com a parceria da Emater-RS/Ascar, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), da Sicredi Serrana e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O principal objetivo é levar ao currículo escolar das instituições de ensino do interior um diferencial ligado ao contexto social dos alunos, abrindo horizontes na escolha profissional que é estimulada para a área agrícola. “Com isso os conteúdos trabalhados em sala de aula ganham uma aplicação no dia a dia, com o contexto do local onde moram esses estudantes. O que se aprende na escola não é para escola, é para a vida. Além de, também, mostrar que uma propriedade com boa gestão é muito mais lucrativa”, descreve a secretária de Educação, Cultura e Desporto, Ana Paula Zamboni Weber.

Neste ano, as atividades realizadas com o objetivo de evitar o êxodo rural de grande parte dos sucessores das propriedades agrícolas foram relacionadas à gestão da propriedade, proporcionando aos 54 alunos participantes aprendizados de educação financeira com ênfase em economizar e planejar, envolvendo também financiamentos, créditos e renda agrícola.

Na próxima segunda-feira, dia 26, alunos das escolas Tiradentes, Antônio de Souza Neto, Francisco Zilli, Rio Branco e Benjamin Constant apresentarão suas propriedades criadas a partir de todos os conhecimentos adquiridos no turno inverso ao da aula desde o mês maio. O evento se inicia às 19h30min, no Espaço Cultural São José, com o lançamento do jornal do projeto e a presença de alunos, professores, pais e envolvidos nas atividades. Alunos das escolas São José, Tancredo Neves e 1º de Maio, que tiveram aulas de educação financeira, também apresentarão seus trabalhos.

Agronegócio renovado
Segundo o titular da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Jones Piroli, o intuito do projeto Jovem na Zona Rural é instigar os alunos na procura por conhecimentos que melhorem e modernizem as propriedades, tanto na gestão administrativa, como na diversidade de produtos. “Os alunos visitaram propriedades que são consideradas modelos em diferentes fatores. Eles precisam entender que é necessário pesquisar, saber quanto custa a produção, quais os investimentos necessários, a rentabilidade, a venda, e a diversidade que é cada vez mais importante, assim como os produtos alternativos, como os orgânicos”, lista Piroli. Ele complementa que para incentivar que jovens invistam na colônia é preciso também ter autonomia e a confiança dos pais.

Além disso, deixar de pensar na quantidade e investir na qualidade é uma tendência cada vez mais forte quando se fala em produtos agrícolas. A engenheira agrônoma Stella Mari Pradella, que acompanhou os alunos durante o projeto, destaca que este é um dos pontos mais abordados nas atividades. “Mostramos que o que queremos é uma qualificação no campo, incentivando que eles fiquem na colônia, e que olhem para as propriedades dos pais com outros olhos. Que eles vejam que tem futuro, que podem mudar, modernizar e é importante que administrem como se fosse uma empresa”, acrescenta. Stella destaca que a adesão ao último Pronatec Campo teve um aumento significativo, parte por alunos que passaram pelo projeto. Ao todo, cerca de 200 estudantes participaram das três edições do Jovem na Zona Rural.

A realização de políticas sociais públicas voltadas para a área rural constroem novas bases para a educação dos jovens que vivem no campo e a escola pode se transformar em um espaço de investigação, articulação e experiência de estudos, com o objetivo maior de educar e fixar o jovem à terra. “Flores da Cunha está com problemas quanto à sucessão familiar rural. Os pais hoje estão com dificuldades em passar a propriedade para os filhos, que vão buscar estudo e cargos de trabalho em empresas. O Jovem na Zona Rural consiste em fazê-los pensar que aquela propriedade, com mudanças, uma boa gestão e conhecimento, pode ser expandida e ser rentável para seu futuro”, valoriza a secretária de Educação, Ana Paula Zamboni Weber.



Permanecer ou não na agricultura?

Ao longo das últimas décadas é notável o êxodo rural, principalmente pelos jovens que deixam o interior para trabalhar em profissões no meio urbano. Segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS), a população da Zona Rural de Flores da Cunha teve um decréscimo de quase 34% de 2000 a 2010 – passou de 9.451 para 6.270. Esta estatística já alcançou a porcentagem de mais de 85% nas décadas de 1940 a 1980. Os números históricos preocupam quando se pensa em sucessão familiar das inúmeras propriedades agrícolas.

As alunas Júlia Pagno e Geovana Mantovani, de 14 anos, integraram a equipe da Escola Benjamin Constant, na comunidade de São Roque, no projeto Jovem na Zona Rural. Embora compartilhem de uma vocação pela agricultura, não sabem se realmente seguirão um futuro no interior. “Ainda não sei o que farei como profissão, porque gosto muito da colônia, mas vejo pelos meus pais que não é nada fácil trabalhar com a agricultura. Dependemos muito do clima e infelizmente ele não ajuda sempre. As contas, essas sim devem ser pagas todos os meses”, lamenta Júlia, filha dos viticultores Elaine e Gilmar Pagno.

Para Geovana, a instabilidade do tempo é o principal desmotivador em buscar um futuro no interior. “Já vi geada, granizo, chuva de mais e chuva de menos, tudo prejudica a produção e muitas vezes por mais de um ano. Isso nos desanima muito”, argumenta. Os pais de Geovana, Silvana Fortunatti Mantovani, 48 anos, e Claudir Mantovani, 47 anos, trabalham com vinhedos na comunidade de São Vítor e, embora se preocupem com a continuidade da propriedade, buscam encorajar que as filhas estudem e escolham uma profissão. “Meu avô era agricultor, assim como meu pai. Nós trabalhamos muito, o ano inteiro, e depois sofremos com casos como a geada. É difícil incentivarmos que elas fiquem aqui, embora ter o próprio negócio tem seu lado positivo”, lembra Claudir.

A irmã mais velha de Geovana, Luana, 18 anos, cursa Educação Física e não pretende tirar da terra seu sustento. “Sabemos que a Geovana gosta mais da colônia e se interessa pelo assunto, mas essa escolha será dela e deixamos isso bem livre”, adianta a mãe. “Eles ainda são jovens para a escolha da profissão, mas o projeto desperta isso neles. Mesmo que não permaneçam no interior, todo esse envolvimento faz com que os estudantes valorizem ainda mais o agricultor e seu trabalho. Levar ideias diferentes para casa também é sempre muito importante”, valoriza a engenheira agrônoma da prefeitura, Stella Mari Pradella.


Os pais de Geovana, Silvana Fortunatti Mantovani e Claudir Mantovani, têm propriedade em São Vítor. - Camila Baggio
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