Produtores florenses aderem à poda antecipada
Trabalho que gera qualidade na videira é realizado antes dos tratamentos de inverno do vinhedo
Os agricultores da Serra Gaúcha estão consolidando um novo período de poda das videiras. A poda de outono, ou antecipada, começou a ser experimentada há pouco mais de sete anos por um associado da Cooperativa São João, de Bento Gonçalves, e atualmente mostra-se conveniente. A nova técnica de limitar o número e o comprimento dos galhos produtores da parreira proporcionou um período de trabalho melhor distribuído, além de um número significativo de vantagens. Em 2015 muitos viticultores de Flores da Cunha e Nova Pádua utilizaram a prática de manejo do vinhedo, recomendada para o período estimado entre 15 de abril e 15 de maio. Entre os principais ganhos na antecipação estão a economia na mão de obra, a melhor qualidade de vida dos agricultores e o rendimento da produção.
Desde abril deste ano, a Emater-RS/Ascar estipula que, dos 38 mil hectares de vinhedos da Serra, pelo menos mil já foram podados de forma antecipada. O trabalho que acontece no outono é tendência e deve ganhar cada vez mais adeptos. “Se continuarmos neste ritmo, dentro de quatro ou cinco anos certamente mais da metade dos vinhedos serão podados antes. Realmente os benefícios são explícitos. O produtor deve fazer nas variedades indicadas”, indica o agrônomo da Emater Enio Todeschini.
Entre as vantagens está o aumento do período efetivo do trabalho de poda, que praticamente dobra. “Esse desafogo no trabalho é uma das principais vantagens, principalmente em agosto e setembro. O produtor não sofre com a sobrecarga nos meses tradicionais, tendo um tempo muito maior para distribuir o trabalho”, destaca Todeschini. Além disso, o produtor fica menos tempo exposto ao clima severo. “Abril e maio são meses normalmente de temperaturas amenas, menos umidade e chuvas. Neste novo período o clima não maltrata tanto os agricultores. É a saúde deles que está envolvida também”, acrescenta o agrônomo.
Tratamento como aliado
De acordo com Todeschini, as variedades mais indicadas para a poda antecipada são as com ciclo médio-tardio. As uvas consideradas precoces e subprecoces exigem uma atenção maior, pois a exigência de horas de frio é menor que o restante, o que pode resultar em uma brotação fora de hora. “Ainda é recomendada cautela nessas variedades que necessitam de menos frio, assim como o cuidado nos tratamentos de inverno. Nas videiras onde a poda já foi feita, o trabalho é facilitado”, explica.
A partir de junho o trabalho dos agricultores inclui a aplicação dos tratamentos de inverno nas videiras. “Ter uma atenção grande é fundamental. Não somente nas videiras que foram podadas, mas com todas as variedades. A sanidade da futura safra depende muito dessa etapa, principalmente visando a redução do número de propágulos (sementes dos fungos), das doenças como a popular mufa e a podridão”, aconselha o agrônomo. Com a poda de outono seguida pelos tratamentos adequados, a porcentagem de gemas das varas que brotam é maior que a brotação da poda do final do inverno. Isso proporciona um desenvolvimento mais uniforme dos brotos, principalmente das varas, ao contrário da poda nas épocas tradicionalmente realizadas.
Nova técnica é aplicada pela primeira vez
A Emater-RS/Ascar explica que a poda de outono não estimula a brotação das videiras antes do período normal, permitindo que seja realizada, inclusive, em áreas propensas a geadas da primavera. O resultado disso, conforme se observou nos vinhedos onde já é feita a poda antecipada, é o amadurecimento mais uniforme na uva. Foi pensando nisso que a família Caldart, do Travessão Martins, interior de Flores da Cunha, resolveu antecipar a poda pela primeira vez. Dos 14 hectares de vinhedos das variedades Isabel, Bordô e Niágara, 2,5 hectares da Isabel foram podados. O objetivo é produzir mais e com maior qualidade, além de economizar na mão de obra. “Ouvimos muito de vizinhos e conhecidos que já fazem essa poda, então neste ano resolvemos tentar. Agora é esperar e ver como vai ser”, conta o produtor Antônio Caldart, 55 anos, que trabalha com o pai Domingos e o filho, Tiago Panizzon Caldart.
O trabalho da família, que costuma colher em média 300 mil quilos de uvas por safra, iniciou com a poda no final de abril. Com o intuito de comparar com o antigo processo, foram cortadas áreas de diferentes locais. “Todas são da uva Isabel, mas queremos fazer um comparativo, por isso demarcamos bem onde já podamos. Se tivermos no mínimo o mesmo resultado de antes, podar antecipadamente já será um bom negócio”, adianta Tiago, 28 anos, que com a nova medida pretende contratar menos pessoas para a época da poda.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, a cada ano aumenta o número de famílias que aderem à poda de outono em ambos os municípios. “Não temos os números exatos em hectares nem de produtores, mas em termos gerais percebemos que a poda antecipada aumenta, pois a época do outono é um período mais tranquilo para o agricultor, fazendo com que ele divida o trabalho, em vez de acumular tudo no inverno”, constata Schiavenin.
Para Antônio e Tiago Caldart, a expectativa que fica é a de uma safra recheada de uvas de qualidade e com sanidade que resultem em ótimos vinhos produzidos na cantina da família. De acordo com a Emater-RS/Acar, o rendimento desses vinhedos será maior. “Sempre fui contra essa ideia de antecipar a poda, mas neste ano resolvemos tentar. Se valer a pena, será um trabalho a ser ampliado para os próximos anos”, garante Antônio.
Inverno terá menos frio
O ‘veranico’ de junho está com os dias contados. A partir de hoje, dia 12, e neste final de semana, uma massa de ar polar chega ao Rio Grande do Sul para ‘derrubar’ as temperaturas, deixando o clima da estação que se inicia no dia 21, o inverno, mais típico. De acordo com o meteorologista Glauco Freitas, do Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS), até o dia 21 as temperaturas devem oscilar entre as mais amenas e dias de frio intenso. “Mesmo durante todo o inverno teremos temperaturas altas. A nova estação será mais quente que as outras”, adianta Freitas. O Estado deverá ter temperaturas com 2,5°C acima da média para este período do ano. Já as chuvas devem ser acima da média e mal distribuídas ao longo da estação. “Teremos períodos quentes para a época do ano e outros com muitas chuvas, intercalando frios, com temperaturas negativas e condições de neve. Mas esses dias típicos do inverno não vão persistir por muito tempo como acontecia em outros anos, de sete a 10 dias, e sim de quatro a cinco dias”, complementa o meteorologista.
O técnico em agropecuária da Emater-RS/Ascar, Jair Carlin, explica que as temperaturas elevadas de junho ainda não devem prejudicar os vinhedos, que iniciaram a dormência há pouco tempo. Porém, se julho e agosto também registrarem essas condições, aí a brotação pode ser prejudicada. Assim como a videira, outras culturas dependem do frio para seu desenvolvimento, como o kiwi e a maçã. O técnico acrescenta que estudos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão mostrando que as videiras não precisam de tanto frio para se desenvolver. “Sempre trabalhamos com a média de 300 a 400 horas de frio, porém, os estudos mostram que 90 horas de frio são suficientes, entretanto, teria de ser um frio contínuo”, observa.
Desde abril deste ano, a Emater-RS/Ascar estipula que, dos 38 mil hectares de vinhedos da Serra, pelo menos mil já foram podados de forma antecipada. O trabalho que acontece no outono é tendência e deve ganhar cada vez mais adeptos. “Se continuarmos neste ritmo, dentro de quatro ou cinco anos certamente mais da metade dos vinhedos serão podados antes. Realmente os benefícios são explícitos. O produtor deve fazer nas variedades indicadas”, indica o agrônomo da Emater Enio Todeschini.
Entre as vantagens está o aumento do período efetivo do trabalho de poda, que praticamente dobra. “Esse desafogo no trabalho é uma das principais vantagens, principalmente em agosto e setembro. O produtor não sofre com a sobrecarga nos meses tradicionais, tendo um tempo muito maior para distribuir o trabalho”, destaca Todeschini. Além disso, o produtor fica menos tempo exposto ao clima severo. “Abril e maio são meses normalmente de temperaturas amenas, menos umidade e chuvas. Neste novo período o clima não maltrata tanto os agricultores. É a saúde deles que está envolvida também”, acrescenta o agrônomo.
Tratamento como aliado
De acordo com Todeschini, as variedades mais indicadas para a poda antecipada são as com ciclo médio-tardio. As uvas consideradas precoces e subprecoces exigem uma atenção maior, pois a exigência de horas de frio é menor que o restante, o que pode resultar em uma brotação fora de hora. “Ainda é recomendada cautela nessas variedades que necessitam de menos frio, assim como o cuidado nos tratamentos de inverno. Nas videiras onde a poda já foi feita, o trabalho é facilitado”, explica.
A partir de junho o trabalho dos agricultores inclui a aplicação dos tratamentos de inverno nas videiras. “Ter uma atenção grande é fundamental. Não somente nas videiras que foram podadas, mas com todas as variedades. A sanidade da futura safra depende muito dessa etapa, principalmente visando a redução do número de propágulos (sementes dos fungos), das doenças como a popular mufa e a podridão”, aconselha o agrônomo. Com a poda de outono seguida pelos tratamentos adequados, a porcentagem de gemas das varas que brotam é maior que a brotação da poda do final do inverno. Isso proporciona um desenvolvimento mais uniforme dos brotos, principalmente das varas, ao contrário da poda nas épocas tradicionalmente realizadas.
Nova técnica é aplicada pela primeira vez
A Emater-RS/Ascar explica que a poda de outono não estimula a brotação das videiras antes do período normal, permitindo que seja realizada, inclusive, em áreas propensas a geadas da primavera. O resultado disso, conforme se observou nos vinhedos onde já é feita a poda antecipada, é o amadurecimento mais uniforme na uva. Foi pensando nisso que a família Caldart, do Travessão Martins, interior de Flores da Cunha, resolveu antecipar a poda pela primeira vez. Dos 14 hectares de vinhedos das variedades Isabel, Bordô e Niágara, 2,5 hectares da Isabel foram podados. O objetivo é produzir mais e com maior qualidade, além de economizar na mão de obra. “Ouvimos muito de vizinhos e conhecidos que já fazem essa poda, então neste ano resolvemos tentar. Agora é esperar e ver como vai ser”, conta o produtor Antônio Caldart, 55 anos, que trabalha com o pai Domingos e o filho, Tiago Panizzon Caldart.
O trabalho da família, que costuma colher em média 300 mil quilos de uvas por safra, iniciou com a poda no final de abril. Com o intuito de comparar com o antigo processo, foram cortadas áreas de diferentes locais. “Todas são da uva Isabel, mas queremos fazer um comparativo, por isso demarcamos bem onde já podamos. Se tivermos no mínimo o mesmo resultado de antes, podar antecipadamente já será um bom negócio”, adianta Tiago, 28 anos, que com a nova medida pretende contratar menos pessoas para a época da poda.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, a cada ano aumenta o número de famílias que aderem à poda de outono em ambos os municípios. “Não temos os números exatos em hectares nem de produtores, mas em termos gerais percebemos que a poda antecipada aumenta, pois a época do outono é um período mais tranquilo para o agricultor, fazendo com que ele divida o trabalho, em vez de acumular tudo no inverno”, constata Schiavenin.
Para Antônio e Tiago Caldart, a expectativa que fica é a de uma safra recheada de uvas de qualidade e com sanidade que resultem em ótimos vinhos produzidos na cantina da família. De acordo com a Emater-RS/Acar, o rendimento desses vinhedos será maior. “Sempre fui contra essa ideia de antecipar a poda, mas neste ano resolvemos tentar. Se valer a pena, será um trabalho a ser ampliado para os próximos anos”, garante Antônio.
Inverno terá menos frio
O ‘veranico’ de junho está com os dias contados. A partir de hoje, dia 12, e neste final de semana, uma massa de ar polar chega ao Rio Grande do Sul para ‘derrubar’ as temperaturas, deixando o clima da estação que se inicia no dia 21, o inverno, mais típico. De acordo com o meteorologista Glauco Freitas, do Centro Estadual de Meteorologia (Cemet-RS), até o dia 21 as temperaturas devem oscilar entre as mais amenas e dias de frio intenso. “Mesmo durante todo o inverno teremos temperaturas altas. A nova estação será mais quente que as outras”, adianta Freitas. O Estado deverá ter temperaturas com 2,5°C acima da média para este período do ano. Já as chuvas devem ser acima da média e mal distribuídas ao longo da estação. “Teremos períodos quentes para a época do ano e outros com muitas chuvas, intercalando frios, com temperaturas negativas e condições de neve. Mas esses dias típicos do inverno não vão persistir por muito tempo como acontecia em outros anos, de sete a 10 dias, e sim de quatro a cinco dias”, complementa o meteorologista.
O técnico em agropecuária da Emater-RS/Ascar, Jair Carlin, explica que as temperaturas elevadas de junho ainda não devem prejudicar os vinhedos, que iniciaram a dormência há pouco tempo. Porém, se julho e agosto também registrarem essas condições, aí a brotação pode ser prejudicada. Assim como a videira, outras culturas dependem do frio para seu desenvolvimento, como o kiwi e a maçã. O técnico acrescenta que estudos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão mostrando que as videiras não precisam de tanto frio para se desenvolver. “Sempre trabalhamos com a média de 300 a 400 horas de frio, porém, os estudos mostram que 90 horas de frio são suficientes, entretanto, teria de ser um frio contínuo”, observa.
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