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Preço mínimo da uva está em negociação

Indústria vinícola oferece o repasse da inflação do ano, que foi de 6,5%, mas produtores reivindicam pelo menos o custo de produção, de R$ 0,76 o quilo

Enquanto as uvas florescem e brotam nos parreirais as entidades que representam os produtores rurais e as indústrias e cooperativas do setor vitivinícola estão reunindo-se para debater o preço mínimo para o quilo da uva da safra 2015 e sobre as tabelas de classificação da fruta, de acordo com a variedade e a qualidade. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua e coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, a proposta apresentada pela indústria até o momento foi de repassar aumento correspondente à inflação do período, que ficou em 6,5%. Hoje, o preço mínimo é de R$ 0,63 e, com o aumento sugerido chegaria a R$ 0,67. Vale lembrar que o preço mínimo refere-se à variedade Isabel com 15° Babo. “Nosso custo foi bem acima da inflação. Somente a mão de obra, da última safra para esta, teve um aumento de duas vezes o da inflação, chegando a 13%”, explica.

Olir aponta que a reivindicação dos produtores é que o valor mínimo seja de, pelo menos, R$ 0,76, mesmo preço do custo de produção. “Ou seja, precisaríamos mais do que o dobro da inflação somente para cobrir o custo de produção. Porém, também é preciso oferecer rentabilidade para o produtor, que está bem desanimado. Alguns estão desistindo e isso ocorrerá com mais pessoas se essa situação não mudar”, evidencia o líder sindical.

Ele observa, ainda, que os produtores estão projetando um custo de produção ainda maior para a safra de 2015 em virtude do vendaval registrado na metade de outubro, que quebrou galhos, comprometendo a produtividade de plantas em algumas regiões. “Ainda não temos um levantamento total de quantos foram atingidos e qual a porcentagem de perda, mas alguns produtores nos relataram que o vento foi intenso e muitos galhos foram quebrados. Agora será necessária mais mão de obra para recuperar o estrago. Uma ocorrência assim sempre traz prejuízos e tudo implica em custos”, avalia.

Além disso, Schiavenin destaca que nos últimos oito anos o preço mínimo da uva ficou congelado, sem ter nem o repasse da inflação. Em virtude disso, hoje o preço está defasado. “A gente sabe que na prática as indústrias oferecem bem mais do que isso. Por isso, não temos como aceitar uma proposta que está bem abaixo da expectativa e que não cobre nem os custos. Não iremos assinar um acordo que venha a prejudicar o produtor”, afirma.

Em Brasília
Por não estar de acordo com o amento de 6,5% proposto pela indústria vinícola e pelas cooperativas, o presidente do STR esteve em Brasília nesta semana para expor os argumentos e as necessidades do setor. Segundo ele, a ideia foi mostrar que houve uma melhora crescente nas vendas nos dois últimos anos e que por isso é possível remunerar melhor os produtores. “Sabemos que para as vinícolas a situação foi melhor do que nos anos anteriores (2012 e 2013), com o aumento na venda de espumantes, vinhos engarrafados e, principalmente, sucos de uva (de até 15%). Além disso, os estoques estão menores e as empresas querem comprar mais uvas do que no ano passado. Enquanto isso, os produtores estão desestimulados e sem capacidade de investir e progredir”, evidencia.

Schiavenin participou de reuniões no Distrito Federal com representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura (Mapa), da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Além do preço mínimo, ele debateu questões relacionadas ao plantio do alho – Schiavenin é presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa). “Como não houve acordo com relação ao preço da uva, nós apresentamos os nossos argumentos, assim como a indústria apresentou os dela. A partir disso, o governo irá decidir”, explica.

A expectativa do STR é que a portaria que regulamenta o preço mínimo da uva para a safra 2014-2015 seja publicada no Diário Oficial da União até 30 de novembro. “Iremos pedir que, na medida do possível, o governo faça um esforço para que o valor seja fixado no prazo que manda a lei para que a safra se inicie com uma tabela de preços estabelecida. Na safra de 2013, com o ágio estabelecido em 10%, o produtor foi ainda mais prejudicado e recebeu menos do que na safra de 2012. Foi uma miséria. Isso não pode continuar. O produtor pode receber mais, pois o custo de produção da Conab é idêntico ao nosso. Os dois lados precisam ganhar”, justifica.


Algumas definições entre produtores e indústria

Apesar de não terem chegado a um acordo sobre o preço mínimo que será pago pelo quilo da uva na safra 2015, produtores, indústria e cooperativas chegaram a um acordo com relação a outras pautas que definirão a próxima safra. Nas duas reuniões realizadas com o setor nos dias 16 de setembro e 8 de outubro ficou definido que o ágio e o deságio entre as variedades, acima e abaixo de 15° Babo, será de 5% e não mais de 10% praticado na safra anterior.

Segundo o presidente do STR de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, o acordo foi firmado para diminuir as perdas dos agricultores. “Por exemplo, se o valor pago fosse R$ 1, a uva com 16° Babo receberia R$ 1,05 e a de 14° Babo, R$ 0,95. Esse percentual é aplicado para cada grau acima ou abaixo. Uma uva com 17° receberá 10% a mais, já uma uva com 13° receberá 10% a menos. A fruta com 15° recebe o preço tabelado, ou seja, o produtor não ganha e nem perde”, explica o dirigente.

A questão da qualidade da uva também foi um consenso entre os representantes da cadeia produtiva. Schiavenin destaca que os produtores já estão cientes que precisam buscar mais qualidade e que as empresas precisam valorizá-la.


Enquanto frutas brotam os produtores aguardam um posicionamento do governo federal. - Camila Baggio
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