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Por um fio

A falta de interesse em aprender técnicas como o Macramê e o Crochê tem colocado em xeque o futuro do artesanato local

Na segunda edição da série de matérias em homenagem aos idosos, no mês dedicado a eles, o Jornal O Florense vai contar as histórias de duas mulheres que, por meio dos trabalhos artesanais com fios, dão vida a peças em Macramê e Crochê e são responsáveis por tecer e perpetuar uma tradição que vem tendo cada vez menos adeptos e, pouco a pouco, está se perdendo. 
Este é o caso das mãos habilidosas da aposentada Angela Scalcon, que há mais de 25 anos trança fios atados em nós e cria lindos artigos com a arte do Macramê. A artesã lembra que sempre gostou de trabalhos manuais, mesmo antes de sua aposentadoria, quando aprendeu a técnica com Terezinha Bianchetto – conhecida por adornar vestidos de embaixatrizes da Fenavindima e disseminar a cultura local por meio da vestimenta, aspectos que são preservados na atualidade, evidenciados nos vestidos das soberanas das festas locais. 
“Eu nem sei quantas peças eu já fiz. Foram encomendas de toalhas de banho, de toalhinhas de rosto, de mesa. Eu fiz muitas e continuo fazendo”, empolga-se a florense que também se dedica, mesmo que em menor quantidade, aos trabalhos com Crochê e Ponto cruz. 
Do grupo que integra a Associação dos Artesãos de Flores da Cunha, formado por 18 artesãos – quatro homens que trabalham a madeira e a ferragem – Angela é a única que se dedica ao Macramê e explica que, hoje, utiliza os fios adequados, mas, nem sempre foi assim. “Uma das vantagens é que esse trabalho pode ser feito com qualquer tipo de fio, seja grosso ou fino, antigamente era feito com as toalhas de saco mesmo. E tudo com as mãos, não precisa de agulha”. 
Com o passar dos anos, a artesã relata que tem notado uma redução na venda de materiais feitos à mão, especialmente do Macramê, bem como uma diminuição no interesse das pessoas em aprender essas tradições. Ela explica que ensinou apenas uma amiga, que conheceu por meio do Projeto Conviver. Os mais jovens nunca procuraram aprender, segundo Angela. 
“Eu gosto de fazer, eu adoro fazer, para mim é um passatempo”, destaca, ao mesmo tempo em que lamenta o fato de esta e outras técnicas artesanais estarem se perdendo. “Infelizmente, com o passar do tempo, eu acho que vai terminar, ainda mais nos dias de hoje”. 
Opinião compartilhada pela coordenadora da Associação dos Artesãos e linha de frente do Espaço Arte e Artesanto, há 25 anos, Realda Guaresi Mascarello. “Os trabalhos que vendemos aqui são demorados – para fazer e vender – e as pessoas de hoje são muito imediatistas, elas gostariam de fazer bem rapidinho, colocar aqui e vender logo, mas não é assim”, reflete. 
Imediatismo que é somado à funcionalidade, tão almejada em meio a correria do dia a dia. “As pessoas vêm olhar, acham bonito, pedem se dá para colocar na máquina de lavar ou no tanquinho e eu digo que não, aí elas não querem. Hoje todos querem praticidade, então o que mais vende são os trabalhos mais simples”, explica. 
Realda também menciona que grande parte das vendas não são destinadas aos turistas, mas sim, para pessoas do próprio município, que vão viajar para outros países e querem levar uma lembrança daqui. 
A artesã, que desenvolve bordados em pedrarias, bijuterias em Macramê, Ponto cruz, entre outros trabalhos, defende que o grupo é formado por aposentados e pessoas que não vem o artesanato como principal fonte de renda, e sim como um entretenimento. “Não dá para contar com o dinheiro do artesanato, ele tem que ser encarado como um passatempo, uma terapia, porque nunca se sabe se vai vender e quando vai”. 
Essa instabilidade nas vendas e a falta de interesse das pessoas não só em aprender as técnicas, mas também em participar mais ativamente de associações, especialmente os mais jovens, acaba colocando em xeque o futuro do artesanato, que já foi tão valorizado e faz parte da história da nossa região.

A concentração e o foco do Crochê
Concentração e foco são duas expressões que fazem parte do cotidiano da vice-presidente da Associação dos Artesãos de Flores da Cunha, Helena Reginato. Há décadas ela se dedica ao trabalho manual do Crochê, por meio de tapetes, bicos de toalha de mesa, louça, mãos, banho, guardanapos e muito mais.  
Ao contrário do Macramê, o Crochê exige a utilização de agulha e é dividido em quatro pontos básicos “Os pontos básicos do crochê são: correntinha, ponto alto, ponto baixo e baixíssimo. Por isso é tão importante ter habilidade com a agulha, se errar duas ou três carreiras tem que desmanchar porque o desenho não fica certo”, esclarece Helena, que também pinta lenços de seda e vasos de porcelana.
A artesã explica que a técnica se torna muito prazerosa, divertida e, até mesmo, terapêutica. “Eu acho que quando as pessoas fazem isso elas evitam a depressão, porque é uma terapia. Trabalhos manuais são indicados para quem tem dificuldade de concentração, para não deixar a mente ociosa”, lembra.
Uma apaixonada pela arte do feito à mão, ela comenta que gostaria de ensinar algumas pessoas, mas nota que, de forma geral, a procura não existe. “Não tem interesse em dar continuidade, os mais jovens ficam no celular ou, algumas pessoas que poderiam dar sequência acabam não tendo tempo”, lamenta. 

Dia Internacional do Idoso 
Com o objetivo de marcar o Mês do Idoso e provocar reflexões sobre a data, a prefeitura municipal de Flores da Cunha e o Conselho Municipal do Idoso já realizaram diversas atividades. Confira as ações previstas para as próximas semanas: 
20 de outubro: palestra em vídeo com o professor Jásser Panizzon, sob a temática “Qual é a melhor idade?”.
Às 18h: Missa especial do Mês do Idoso na Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes, também haverá transmissão online.
27 de outubro: encerramento da programação, com vídeo do Conselho Municipal do Idoso. 

Angela Scalcon é a única dos 18 integrantes da Associação de Artesãos que se dedica ao Macramê. - Karine Bergozza
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