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Poda: tempo de renovação

Após perdas decorrentes da estiagem, agricultores se preparam para a próxima safra

Depois dos desafios de diversos agricultores para lidar com os prejuízos da safra da uva 2021/2022, bem como as dificuldades impostas pelo pagamento parcelado, que ainda se estende, por parte de diversos compradores, é chegada a época da poda dos parreirais. Neste ano, o período de renovação da videira também é o momento de despertar a esperança de uma produção positiva em 2022/2023.
Otimismo que está presente no dia a dia do agricultor florense, Marcelo Golin, 49 anos, que lembra de ajudar a família na produção da uva desde os cinco anos: “O cultivo principal é da uva, mas a gente trabalha também com soja. Nós temos 9,5 hectares de parreiras da variedade Bordô, para vinho tinto, e mais 2 hectares que trabalhamos em parceria”, explica Golin, que esclarece que os vizinhos de sua propriedade, em Santa Líbera, se ajudam entre si, uns com maquinário, outros com mão de obra.
O agricultor revela que, para trabalhar na colônia, o lado mental deve se manter sempre bem para conseguir lidar com as adversidades, como as impostas pela seca da última safra. “A perda foi grande, passou de 30%, não comparada com a safra anterior – que foi boa, acima da média – mas em um ano normal. Foi bem complicado, mas, sempre tem que colocar nas mãos de Deus e aí a gente consegue, com trabalho, dedicação e tempo. Alcançamos uma produção de 70%, que nos ajudou bastante a manter o equilíbrio na propriedade”, esclarece o florense, que destaca a estiagem no início da brotação e a posterior melhora parcial com as chuvas nos meses de dezembro e janeiro.
No entanto, tudo indica que esses impactos ainda devem ser sentidos na quantidade e na qualidade da safra deste ano: “Com a seca, a parreira produziu menos galhos, que ficaram mais curtos. Então, pelo que a gente tem conhecimento dos anos de trabalho, vai ser uma safra menor, não se sabe quanto, mas a tendência é de ser uma safra menor do que as normais, até porque a videira entrou em um estresse hídrico, uma coisa jamais vista”, contextualiza Golin que, por outro lado, evidencia que tudo depende do tempo e fenômenos como granizo, seca e geada, que interferem no produto final. 
De acordo com o agricultor, a previsão de um inverno mais seco e muito frio é boa para a parreira, contudo, a chegada das baixas temperaturas muito cedo – cerca de 15 a 20 dias antes – ocasiona a quebra de dormência da planta, fator que, associado ao excesso de chuva dos últimos dias, à terra quente e a umidade, podem antecipar a brotação, o que pode significar um problema se ainda ocorrer geada em meados de setembro: “Mas, cada ano é um ano diferente, não adianta. Não existe uma receita de bolo que dê certo”, avalia. 
Mesmo assim, Golin trabalha para ter a sua própria fórmula e otimizar o aproveitamento da mão de obra familiar. Com esse objetivo ele apostou, há cinco anos, na implantação da poda de outono, ou antecipada. “A gente começa no dia 15 de abril e vai até 15 de maio, mas, estamos fazendo testes que até o final de maio não tem problema nenhum em podar, que a produção é normal. Ganhamos em questão de mão de obra, porque podamos metade da propriedade, com quatro pessoas, em 45 dias e agora, no dia 15 de julho, começamos de novo e leva mais 60 dias para fazer o ciclo dela”, destaca o florense.
“Eu comecei com pouca área, porque fiquei em dúvida, tinha pessoas que faziam e depois achavam que não dava o resultado esperado, mas nós fizemos aqui e vimos que não baixou a produção, muito pelo contrário. Podar no mês de maio atrasa de 8 a 10 dias a brotação, então o que acontece é que acabamos tendo uma chance de escapar da geada lá na frente, porque a parreira não brota antecipada”, esclarece Golin. 
Por isso, o agricultor pretende continuar com o modelo de poda precoce e, após, seguir se dedicando à amarração dos parreirais: “A gente vai um pouco podando e um pouco amarrando, assim conseguimos fazer o ciclo dela.  Eu digo que é um bibelô, a gente cuida com carinho para depois ter o retorno, porque é o nosso ganha pão”, emociona-se e revela que procura se manter atualizado no segmento, por meio de cursos de inovação e com o incentivo do Sebrae. 

Mãos na tesoura 
O inverno é a época mais aconselhada para a poda das videiras. O presidente da Emater, Raul Dalfolo, explica que nessa estação a planta se encontra em dormência e, esse estado, diminui a translocação de seiva, minimizando as chances de enfermidades.
No entanto, ele revela que essa opção tem se tornado uma questão particular de cada agricultor, variando conforme a disponibilidade da mão de obra. Nesse sentido, “a poda antecipada é aconselhada, porém, não deve exceder três anos consecutivos”, esclarece e recomenda que, no momento da poda, seja realizada a higienização dos materiais e a desinfecção a cada planta, com água quaternária ou água sanitária.
Diferente da poda convencional, a antecipada ocorre quando as gemas ainda estão dormentes, sem o vigor e sem perda de água, fazendo com que a parreira brote, até mesmo, posterior à convencional. “Pode ser uma alternativa para as áreas mais suscetíveis a geadas tardias. De um modo geral, ela é melhor assimilada por certas variedades, como Isabel, mas, vale muito a percepção da área feita pelo agricultor. Esse método também exige alguns cuidados, pois, não deve ocorrer logo após a colheita – período que a planta faz uma reserva de energia através da fotossíntese – e sim quando começa a ocorrer a queda natural das folhas”, esclarece o secretário da Agricultura, Ismael Fortunatti. 
Ainda conforme o secretário, as podas na nossa região costumam ocorrer da metade para o final do inverno, quando as plantas começam a dar sinais de vigor, que podem ser percebidos pelos pingos de água expelidos ao cortar os ramos: “Há um aumento de pressão na planta em virtude da elevação da temperatura e dos períodos de insolação, indicando que está prestes a iniciar a fase de brotação, também começam a aumentar o tamanho das gemas”, sinaliza. 
Em relação aos impactos da estiagem severa, registrados na última safra, Fortunatti avalia que a falta de água pode influenciar no vigor da planta para a próxima colheita, mas, muitas variáveis interferem nesse cenário: “Já tivemos períodos de frio e temos previsões de um inverno que possibilite uma boa produtividade, tanto para as uvas precoces, em torno de 200 a 300 horas, e principalmente as viníferas, que precisam de um volume entre 300 e 400 horas de frio. Outro fator que determina a produtividade com relação ao frio é que ele ocorra sem picos de calor durante a dormência, possibilitando uma brotação com maior vigor”, explica. 
No entanto, tratam-se de previsões e, justamente por isso, o secretário destaca que algumas ações podem minimizar os impactos no caso de chuvas abaixo da média, características do fenômeno La Niña: “O sistema de irrigação é um auxílio para os períodos mais críticos, as coberturas de solo, com espécies espontâneas ou cultivadas, possibilitam a melhoria da estrutura, da fertilidade e, consequentemente, armazenamento de água”, conclui Fortunatti, reforçando que os períodos de estiagem mostraram quais áreas e variedades mais sofrem na  propriedade de cada um, sendo elas, as primeiras a requerer uma atenção maior quanto à necessidade de água e manejo.

O papel do Sindicato
Após as dotações orçamentárias para o pagamento da equalização do Plano Safra 2021/2022, agora a preocupação do STR de Flores da Cunha e Nova é com as resoluções do Plano Safra 2022/2023, que entrarão em vigor nesta sexta-feira, dia 1º.  
O presidente da entidade, Olir Schiavenin, explica que a expectativa é que hajam recursos suficientes para atender às demandas de todas as políticas públicas direcionadas à agricultura familiar, ou seja: a política do crédito agrícola, do seguro agrícola, da assistência técnica e extensão rural e dos demais programas, do PAA (Programa da Aquisição de Alimentos) e o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar).
“Que os recursos sejam liberados sem muita burocracia e demora, e sejam suficientes para atender a agricultura familiar. Que não aconteça como esse ano, que faltaram recursos e os produtores tiveram atraso na liberação do dinheiro dos custeios e investimentos agrícolas”, desabafa Schiavenin. 
 “Por outro lado, nós temos uma preocupação com a taxa de juros do Pronaf – que hoje é 4% – e deverá ir de 6 a 7%, em função da taxa Selic, que até bem pouco tempo estava em 12,75% e atualmente está em 13,25%. Quando saiu o Plano Safra do ano passado, que estabeleceu juro de 4%, a taxa Selic deveria estar em torno de 11, 12%, então, diante dessa realidade, infelizmente, a taxa vai aumentar”, lamenta o presidente do STR, que conclui, afirmando que ainda é muito cedo para realizar uma previsão sobre o volume e a qualidade da safra desse ano, em comparação a do ano passado. 

 - Karine Bergozza
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