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Plantando lúpulo na terra da uva

Florense Filipe Mosquer aposta no cultivo da planta utilizada para conferir sabor e aroma à cerveja

Em uma cidade que se destaca pela grande produção de uva e vinho, investir em outro segmento é ir além, buscar o novo, o diferente, e romper paradigmas. Apostar em uma cultura, até então, inédita em Flores da Cunha, é o que tem feito o jovem Filipe Mosquer, de 24 anos. Ao lado dos pais, Rosani Maria Bastiani e Jatir Schmidt Mosquer, e do padrinho, Jandir Schmidt Mosquer, o formando em Direito tirou do papel a ideia de plantar lúpulo em solo florense. 
“Aqui todo mundo planta uva, moranguinho, tomate, então fomos em busca de uma coisa diferente. Um amigo meu apresentou os lúpulos, a gente gostou da cultura e fomos estudar sobre ela, fomos para Santa Catarina e aprendemos mais. Depois, chamamos um profissional para avaliar a nossa terra para ver se valia a pena, se iria dar certo, e a princípio deu”, revela o empreendedor, que nos recepciona com uma sugestiva camisa estampada com a marca ‘Lupulossauro’, um dinossauro com a flor de lúpulo nas costas – uma sugestão da mãe. 
Desde que despertou o interesse pelo lúpulo, até as primeiras mudas, se passaram dois anos, pois, conforme Mosquer, leva um tempo para conhecer sobre a planta e montar toda a estrutura necessária para seu desenvolvimento: “Ela consome bastante água, em torno de cinco litros por dia, cada planta, então é preciso ter uma fonte bem grande. Ela também precisa de luz solar e, por isso, temos uma iluminação, porque como tem pouca incidência solar durante o dia, temos que conseguir mais de noite”, esclarece, acrescentando que as lâmpadas comuns, de luz amarela e com 15 watts, ficam ligadas de quatro a cinco horas no período noturno.
Ainda sobre os principais cuidados a serem tomados no cultivo de lúpulo, o empreendedor enfatiza os relacionados à sustentação: “Montamos uma estrutura com fios de algodão – dispostos na vertical – para a planta crescer e ter suporte, porque ela é uma trepadeira e, conforme vai crescendo, vamos enrolando ela nesses fios até chegar lá em cima, fazemos isso todos os dias. Ela atinge de seis metros e meio a sete metros de altura, é bem alto”, revela Mosquer, comparando que, de modo geral, é como cultivar tomate, já que os tratamentos são os mesmos. 
Munido de todas as informações e com a estrutura pronta, chegou a hora de colocar a ‘mão na massa’, ou melhor, na terra: “Começamos a plantar agora, no início de outubro. Essa é a nossa primeira plantação e vai ser a primeira safra. As mudas vieram de Santa Catarina e nós só temos essas porque o lúpulo é uma planta perene, igual a uva, então elas têm uma durabilidade de 15 anos”, explica o florense, complementando que a planta apresenta um crescimento rápido e, já no final de dezembro, deve chegar à altura máxima para a colheita, que ocorre em janeiro.
Contudo, é preciso ficar atento ao frio intenso, sobretudo nos casos em que ocorre a formação de geada tardia, após o inverno: “Pode matar as plantas, mas aqui na nossa propriedade – no Travessão Sete de Setembro – é um lugar que não dá geada muito forte. Em locais mais quentes as pessoas conseguem duas safras de lúpulo por ano, mas aqui, como o nosso inverno é rigoroso, só conseguimos uma. As plantas entram em dormência e voltam na primavera, por isso, a época de plantio, na nossa região, é no fim de ano”, explica Mosquer. 
Se, por um lado, o lúpulo não exige tantos cuidados diários, por outro, a colheita deve ser realizada com um equipamento específico: “Aqui temos 1.400 pés plantados, então precisa ter uma máquina para colher e ela é muito cara. Conseguimos uma de Santa Catarina que irá colher para nós.  Ela corta embaixo e coloca o pé inteiro na máquina, onde consegue separar os cones de lúpulo. Depois disso fazemos a secagem e peletizamos (passa por uma peletizadora). É um processo bem trabalhoso, acredito que iremos precisar da ajuda de mais duas ou três pessoas”, adianta, ao mesmo tempo em que revela que a produção passará por esse processo para que o lúpulo seja comercializado pronto, como produto final.
Na propriedade do jovem, com 3 mil metros quadrados, ele apostou em três variedades de lúpulo: Comet, Pacific Gen e Saaz, esta última utilizada na produção de cerveja Pilsen, mais tradicional. De acordo com ele, a escolha se deve ao fato de serem as mais vendidas e, também, para ver como cada uma se adapta ao solo florense. “Essa é a primeira plantação de lúpulo em Flores da Cunha e uma das primeiras na região. Tem uma pequena em Caxias do Sul, em Nova Roma do Sul e em Gramado; agora vão plantar em Bento Gonçalves, mas, no geral, têm poucas. Justamente por isso estamos apostando nesse nicho”, destaca.  
Mesmo recém-plantados, os lúpulos de Mosquer já têm destino garantido: “Já estamos indo atrás de compradores e temos algumas microcervejarias interessadas aqui da região e, caso não consigamos vender para eles, a Ambev compra, eles ajudam”, enaltece o empreendedor que, a longo prazo, prospecta aumentar a área de plantio e, claro, buscar novos fornecedores e parcerias.
“Eu acho que vai crescer bastante a produção de lúpulo, porque tem muitas pessoas vindo aqui para ver como funciona, pedindo ajuda, e se eles começarem a plantar, como a gente comprou algumas máquinas, temos o planejamento de alugá-las, futuramente. Aqui em Flores da Cunha já vieram três pessoas me procurar – duas daqui mesmo e uma de Vacaria – dizendo que querem plantar. Eu indiquei o engenheiro que fez os projetos para nós, de Santa Catarina. Tenho notado que as pessoas estão buscando uma outra fonte, além das convencionais uva e moranguinho”, constata o formando em Direto, revelando que, mesmo após sua formatura, pretende seguir trabalhando com a ‘Lupulossauro’, sempre focando em inovações e diferenciais que reflitam na qualidade do produto desenvolvido por eles.
 

Um brinde à cerveja 
O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, atrás apenas dos EUA e da China, contabilizando mais de 14 bilhões de litros por ano. Os dados da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil) também mostram que o setor é um dos mais significativos na economia brasileira, com mais de 2,7 milhões de pessoas empregadas ao longo da cadeia produtiva, sendo responsável por 1,6% do PIB e 14% da indústria de transformação nacional.
Um estudo divulgado pela revista Cultivar, apontou que a produção de lúpulo teve um crescimento de 160% em 2021, em comparação a 2020, saltando de 9 para 24 toneladas. Apesar disso, o Brasil importa cerca de 3.200 toneladas por ano. Sinônimo de que o mercado ainda pode crescer muito em solo nacional.
No entanto, o país não se destaca somente pela produção de cerveja, mas também pelo consumo da bebida, que está entre as preferidas dos brasileiros. Dados do mais recente relatório Consumer Insights, da Kantar, revelam que, no terceiro trimestre de 2021, o mercado registrou o maior número de consumidores da bebida desde o terceiro trimestre de 2019, com alta de 127%. 

Filipe Mosquer, 24 anos,  literalmente ‘veste a camisa’ pela Lupulossauro.  - Karine Bergozza
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