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Pinceladas para reviver o passado e colorir o futuro

Em comemoração ao Dia do Patrimônio Cultural, saiba mais sobre a atividade ‘Eu crio por aqui’ e conheça os quatro patrimônios de Flores da Cunha

Sensibilizar e educar a população acerca da importância da preservação e proteção dos patrimônios históricos e culturais, além de provocar debates e ações em prol de sua conservação. Com esse objetivo lembramos, na última quarta-feira, dia 17, o Dia Estadual do Patrimônio Cultural, que desde 2019 é celebrado no terceiro final de semana de agosto – este ano nos dias 20 e 21. A data também é comemorada em âmbito nacional, uma vez que homenageia o nascimento de Rodrigo Melo Franco de Andrade, fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1937. 
Norteados pelo tema ‘Patrimônio Cultural, Cidadania e Ética’, definido pela Secretaria de Cultura do Estado e acolhido pela prefeitura municipal, iniciou na segunda-feira, dia 15, e encerrou na sexta-feira, dia 19, a atividade ‘Eu crio por aqui’. A ação consiste em dar cor aos tapumes no entorno da obra de restauro e requalificação do Campanário, com traços que traduzam elementos da diversidade cultural do nosso povo.
De acordo com o secretário municipal de Educação, Cultura e Desporto, Itamar Brusamarello, a Subsecretaria de Cultura avaliou ideias de ações que poderiam ser realizadas para fomentar e valorizar o patrimônio florense. “Levando em consideração que o Campanário é um patrimônio tombado e está passando por uma obra de restauro e requalificação, na qual está envolvido por tapumes brancos, muito semelhantes a telas de pintura, surgiu a ideia de realizar uma exposição a céu aberto para celebrar a data, tornando-a acessível para toda a população”, revela o secretário.
Dos 35 tapumes que envolvem o Campanário, 30 estão recebendo pinturas. “Foram convidadas para dar cor aos tapumes instituições, associações e entidades que possuem ligação com arte, cultura, turismo, entre outros aspectos dentro do município”, enaltece o secretário, além de destacar a participação dos alunos da rede municipal, estadual e privada e o apoio dos comércios locais de tintas. “A importância de incluir as escolas neste projeto é que nelas encontra-se a base de toda a sociedade. É na escola onde se estuda o patrimônio material e imaterial. Trazer nossos estudantes para perto de um patrimônio histórico e cultural físico do município é proporcionar que eles experimentem os ensinamentos vividos em sala de aula. É tornar concreta a relevância e a importância que o patrimônio histórico e cultural tem na vida das pessoas. Inserir o aluno nas pinturas dos tapumes é colocá-lo como protagonista da arte, da cultura, da preservação e da conservação de todo o patrimônio histórico e cultural”, destaca Brusamarello, que finaliza mencionando que após a inauguração da obra, os interessados em ficar com os tapumes expostos deverão entrar em contato com a Subsecretaria de Cultura e os demais serão devolvidos para a empresa responsável.

O valor dos bens está no reconhecimento da comunidade 
Apesar de se destacar por estar em fase de restauro e requalificação, o Campanário não é o único bem tombado pelo Patrimônio Histórico, em Flores da Cunha. Nosso município possui mais três locais com essas características de preservação: Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, Cemitério Campo Santo dos Imigrantes e Casarão dos Veronese.
“O reconhecimento desses bens, na categoria tombamento, é resultado da mobilização de setores estratégicos visando a preservação deles. É muito difícil a gente dizer se esse número (quatro) é baixo ou alto para o município porque, na verdade, um bem tem valor quando a comunidade o reconhece por seu valor histórico, cultural, arquitetônico, ou mesmo de ambiência”, revela a gestora cultural Cristina Seibert Schneider. 
Nesse contexto, Cristina esclarece que nem todo o patrimônio histórico precisa ser tombado, afirmando que muitos bens de relevância estão apenas em nível de reconhecimento e isso não os diminui em nada: “O que é importante é que a gente preserve essas referências para que as futuras gerações possam acessar e entender diferentes modos de vida e tecnologias utilizadas ao longo dos anos”, defende. 
O município e a comunidade também vêm se mobilizando para melhor aproveitar esses espaços, uma vez que Flores da Cunha tem um forte vínculo com a cultura local, seja pelos patrimônios materiais ou imateriais – língua, gastronomia e paisagem vitivinícola. “Ao preservarmos esses bens estamos reforçando o turismo cultural e os processos identitários locais. O projeto do Museu está entrando na Lei de Incentivo à Cultura (LIC), ele está dividido em duas etapas, com previsão de execução já no início do próximo ano. No Cemitério Campo Santo foram feitas algumas intervenções visando a sua conservação, e o Campanário está em processo de restauro. Já o Casarão dos Veronese, hoje existe uma mobilização das Secretarias de Cultura e Turismo, visando a possibilidade de abertura em horários mais regulares ao longo da semana e um atendimento mais sistemático voltado ao público escolar”, salienta Cristina. 
A gestora cultural adianta, ainda, que já está tramitando junto à LIC o projeto que visa fazer um inventário das 80 edificações do patrimônio municipal de Flores da Cunha. “Esse inventário vai nos dar a possibilidade de conhecer melhor onde estão essas edificações, em que estado elas estão e proporcionar que boa parte delas esteja atrelada ao Plano Diretor, ou seja, que nós consigamos, a partir desse inventário, construir políticas públicas urbanas para a área de preservação”, enaltece, acrescentando que tanto o inventário, quanto o restauro dos bens são demandas do ano passado, resultantes da Conferência Municipal de Cultura e que é nesse sentido que as ações do poder público municipal estão sendo direcionadas e buscando realizar melhorias nos quatro locais tombados como patrimônios históricos do município. 

Casarão dos Veronese
Considerado o principal símbolo arquitetônico da imigração italiana na cidade, o Casarão dos Veronese foi restaurado com recursos da LIC e inaugurado em dezembro de 2017. O local contempla salas de exposições e temáticas, espaço multiuso, oficina gastronômica, além de objetos que contam sua história e cultura.  
De acordo com a subsecretária de Cultura de Flores da Cunha, Nata Francisconi, o único patrimônio estadual do município tem ficado aberto em datas comemorativas que levam turistas e visitantes a Otávio Rocha, rota em que está localizado. “A Subsecretaria de Cultura está buscando alternativas, junto à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, para que haja atendimento regular, com visitas guiadas em horários preestabelecidos. Procuramos atender qualquer número de pessoas, mas é necessário que o agendamento seja feito com antecedência”, revela Nata. 
Para otimizar o aproveitamento do local, tendo em vista que conta com uma ampla estrutura física interna e externa, em maio do ano passado se pretendia viabilizar a exploração de um bistrô, em conjunto com a pasta do Turismo, com foco na cultura e na história do local. “Para que o bistrô seja explorado pela iniciativa privada é necessário que a atividade seja economicamente viável, pois deve garantir não somente o atendimento no bistrô, mas também o das visitas, de acordo com o cronograma que venha a ser desenvolvido nessa parceria”, esclarece a diretora do departamento. 
Os principais aspectos a serem contemplados pelo Casarão dos Veronese, conforme Nata, estão relacionados à propagação da cultura que se desenvolveu em decorrência da imigração italiana: “O Casarão é uma obra documental, por si só, que desperta o interesse das mais diversas faixas etárias. A partir do momento em que ele passar a estar aberto, deverá atender a todos os públicos, pois, cada um absorve as informações de forma diferente e de acordo com o seu foco de interesse”.
Atualmente as visitas podem ser agendadas pelo telefone (54) 3279 3672.

Cemitério Campo Santo dos Imigrantes
O antigo cemitério da Capela São Martinho, no Travessão Martins, se tornou o primeiro patrimônio histórico cultural tombado pelo município de Flores da Cunha, em agosto de 2018. A área possui uma cerca feita em pedras, covas subterrâneas, cruzes com desenhos em arabesco artesanalmente forjadas e um limbo, construído fora dos limites bentos do cemitério, onde eram enterrados os não batizados e os desconhecidos. No Campo Santo também foram sepultados os soldados da Revolução de 1923. 
Após a revitalização e ampliação do espaço, no fim de 2019, o próximo passo para incentivar os visitantes a conhecerem o lugar, cujo fluxo de pessoas ainda é restrito, é incluir o destino em uma rota do chamado turismo religioso. Conforme Nata Francisconi, esse roteiro inclui a celebração de Corpus Christi, a Romaria ao Frei Salvador, o Caminho de São Tiago e o túmulo do poeta Angelo Giusti, que também precisa de atenção especial. “Até o momento não existe uma rotina de manutenção do local. A Subsecretaria de Cultura faz visitas periódicas para verificação das condições. A maior guardiã do Campo Santo dos Imigrantes é a comunidade de São Martinho”, destaca. 

Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi
O tombamento do prédio que abrigou a antiga Prefeitura Municipal ocorreu em novembro de 2018. A construção foi erguida em 1945 e carrega não somente as memórias de seu rico acervo de peças e documentos, mas também importante parte da história do desenvolvimento da cidade, de sua organização política, social e cultural, além de fortes características do estilo arquitetônico Art Déco.
Segundo a subsecretária de Cultura, o processo de restauro prevê a realização em duas etapas: “A primeira compreende uma nova edificação, que abrigará espaço para as lojas de artesanato, reserva técnica do acervo do Museu e o Arquivo Histórico. O projeto será encaminhado pela LIC”, explica, complementando que a realocação dos documentos no novo prédio garantirá sua preservação e facilitará o acesso às informações.
“A segunda contemplará a recuperação do prédio, tanto no aspecto arquitetônico quanto funcional. Serão corrigidas as alterações causadas pelas mãos do homem, pelas reformas realizadas ao longo dos anos e também aquelas decorrentes da ação do tempo e do clima. Feito isso, a expografia será readequada, tendo em vista que a Biblioteca e o Arquivo já não farão mais parte desse prédio, de forma a apresentar com valorização ainda maior dos objetos que compõem o acervo do Museu”, esclarece Nata, ao mesmo tempo em que revela que o detalhamento técnico do prédio está em andamento, assim como o novo projeto expográfico, e que a expectativa é que a obra de restauro tenha início em 2023.
O Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30min e das 13h às 17h. O telefone para contato direto é (54) 3292 2777.

Campanário
Em outubro de 2019 o Campanário tornou-se um bem tombado pelo patrimônio histórico municipal. O ato configurou a liberação legal para iniciar o projeto e restauração daquele que é um dos principais pontos turísticos do município. A obra arquitetônica de valor cultural e religioso, que possui 55 metros de altura e 11.122 pedras de basalto assentadas, foi entregue à comunidade florense em 1949.
De acordo com a subsecretária de Cultura de Flores da Cunha, o Campanário é uma edificação pertencente à Mitra Diocesana, sob a proteção da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. “O acompanhamento do poder público municipal se dá no âmbito do apoio técnico e institucional, especialmente no desenvolvimento do projeto para captação de recursos e na supervisão da execução da obra de restauro e requalificação, que tem como proponente a Associação dos Amigos do Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi. O município participa, ainda, com a iluminação externa, e com o apoio institucional desse bem, que é tombado como patrimônio histórico, mas não possui gerência sobre a edificação, propriamente dita. A gestão do Campanário no aspecto turístico, de manutenção e segurança, será definida em breve em uma parceria entre todos os envolvidos”, explica Nata Francisconi.  
Em relação ao espaço para exposições, que deverá localizar-se junto ao hall de entrada, a subsecretária revela que está sendo desenvolvido um projeto de expografia, com o intuito de mostrar a história que envolveu o processo de construção do Campanário: “A definição da forma como esse espaço será administrado se dará entre todos os envolvidos com o restauro, capitaneados pela Paróquia”. E para aqueles que estão ansiosos em subir as escadas até o topo do Campanário e ver Flores da Cunha de cima, Nata pondera: “O acesso deverá continuar sendo restrito, a exemplo do que acontece atualmente, pois oferece acessibilidade bastante limitada. A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes deverá definir em que circunstâncias será permitido acessar o topo do Campanário”, conclui.

 - Valdinéia Tosetto
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