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Perdas na agricultura somam mais de R$ 115 milhões

Granizo da última semana afetou 100% da área plantada de culturas agrícolas em Flores da Cunha e Nova Pádua e prejuízos são ainda maiores se pensados em longo prazo

Chuva, granizo, vento. Um pacote perigoso quando se pensa em primavera e safras ganhando volume. A junção desses dois cenários teve como resultado perdas significativas em propriedades rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua – os municípios de Nova Roma do Sul e São Marcos também registraram estragos –, nas mais diversas culturas. No Pequeno Paraíso Italiano, onde a agricultura é responsável por mais de 80% da economia local, a Secretaria da Agricultura e a Emater estimam uma perda total de R$ 45 milhões, tendo a uva como a cultura mais afetada. Na Terra do Galo, os prejuízos chegam a R$ 70 milhões, de acordo com a prefeitura, número também puxado pela produção vitícola. O total é um montante de mais de R$ 115 milhões que deixam de fortalecer a economia local e fragilizam uma importante parcela da população, a dos agricultores.

Em Nova Pádua, estima-se que na uva as perdas cheguem a 85% – mais de 29 mil toneladas da fruta destruídas. A cebola chega a 75%, com 100% da área plantada atingida e um prejuízo em toneladas de 5,6 mil. O pêssego também teve 100% de área atingida, chegando a 95% de perda e 3,7 mil toneladas de fruta inutilizadas (confira o levantamento abaixo). De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Willian Heintze, os prejuízos certamente são ainda maiores. “Esses números representam apenas a produção, não estão consideradas perdas indiretas, como com os tratamentos necessários para a recuperação das plantas, além da falta de produtividade nas próximas safras nas culturas fixas como uva e pêssego, por exemplo”, lista o agrônomo. Segundo ele, vai levar de dois a três anos para que os produtores tenham novamente uma expectativa de produção cheia.

De forma geral, Nova Pádua perdeu praticamente 85% de sua produção agrícola e 98% da área plantada existente na cidade foi atingida, o que irá impactar diretamente na economia do município. “De imediato sabemos que teremos um problema em termos de festa, a Feprocol está aí e isso nos preocupa. Na próxima semana vamos nos reunir para avaliar possibilidades e estratégias. Em um segundo momento, é claro que nos aflige a questão econômica, porque são valores que deixam de circular internamente, seja nos serviços, em investimentos, e isso tudo vira um efeito dominó no município. Em termos de receitas, mais adiante teremos reflexos também, que só não serão maiores porque 60% do nosso orçamento vêm do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Certamente lá na frente nosso Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) também terá alterações”, estima o prefeito Ronaldo Boniatti. Vale lembrar que os agricultores que possuem seguro receberão por esta produção perdida, contudo não pelos danos futuros.

Prejuízos também na produção florense

Em Flores da Cunha, técnicos da Secretaria da Agricultura e da Emater estimaram em mais de R$ 70,3 milhões as perdas na área agrícola – só na produção da uva são mais de R$ 61,9 milhões. Diferente de Nova Pádua, onde praticamente todo o município teve granizo, em Flores as principais regiões prejudicadas foram Santa Juliana, São Tiago e São Vitor, no distrito de Mato Perso; Travessão Carvalho, no distrito de Otávio Rocha (parcial); Nova Roma; Monte Bérico; Santa Libera; Fulina; Restinga; Nossa Senhora do Carmo; São Vitor; Serra Negra; Sete de Setembro; Capela São Paulo; Travessão Martins; Medianeira; Linha 40; Alfredo Chaves; Linha 100; Lagoa Bela e São Roque.

Cerca de 80% dos vinhedos florenses foram atingidos e 100% de pessegueiros e produções de ameixa. Maçã, caqui, alho e cebola também registraram perdas de mais de 60% (confira abaixo).

Orientações

Depois do temporal, técnicos e agrônomos orientam os produtores sobre o melhor manejo das plantas machucadas pelas pedras de gelo. “No caso da uva, em danos bem graves recomendamos uma poda semelhante a de inverno e, em seguida, que seja feita uma aplicação de fungicida, para tratar os ferimentos e, na sequência, fazer uma adubação nitrogenada para nutrir as plantas. No pêssego, a orientação é tratar os ferimentos para evitar a entrada de doenças e, então, na poda do próximo ano eliminar boa parte dos ramos danificados. Cebola e alho recomendamos que os agricultores façam um tratamento curativo para tentar recuperar alguma produção, mas toda cebola que foi afetada perdeu sua capacidade de armazenamento, então é importante que o produtor venda imediatamente após a colheita”, orienta o agrônomo Willian Heintze.

A extensão de terras atingida pelo granizo também chamou a atenção de técnicos. Normalmente, o fenômeno alveja uma área zoneada, ou seja, pequenas regiões com até seis quilômetros de comprimento. Contudo, na madrugada do último dia 31, de acordo com dados da Emater, a faixa prejudicada chegou a 120 quilômetros e abrangeu diversos municípios da região. Tanto Nova Pádua como Flores da Cunha decretaram situação de emergência. A medida visa facilitar a prorrogação de algumas dívidas de crédito rural, entre outros benefícios.

Levantamentos de perdas

Em Nova Pádua

Uva: 85% de perda – R$ 29.155.000,00 de prejuízo

Pêssego: 95% de perda – R$ 3.700.000,00 de prejuízo

Ameixa: 97% de perda – R$ 642.000,00 de prejuízo

Pera: 97% de perda – R$ 1.730.000,00 de prejuízo

Maçã: 97% de perda – R$ 756.000,00 de prejuízo

Cebola: 75% de perda – R$ 5.625.000,00 de prejuízo

Alho: 75% de perda – R$ 2.835.000,00 de prejuízo

Tomate: 70% de perda – R$ 588.000,00 de prejuízo

Valor Estimado dos Prejuízos: R$ 45.031.000,00

Em Flores da Cunha

Uva: área atingida 80% - R$ 61.950.000,00 em perdas

Pêssego: Área atingida 95% - R$ 891.000,00 em perdas

Ameixa: Área atingida 80% - R$ 3.000.000,00 em perdas

Maça: Área atingida 90% - R$ 1.386.000,00 em perdas

Caqui: Área atingida 90% - R$ 333.200,00 em perdas

Alho: Área atingida 80% - R$ 2.160.000,00 em perdas

Cebola: Área atingida 80% - R$ 672.000,00 em perdas

 

Depois da tempestade, fé para se reerguer

Com olhos marejados, mas muita esperança no peito. Foi assim que o casal Antonia Molon Salvador, 57 anos, e Natal Salvador, 62 anos, recebeu o Jornal O Florense uma semana após o verdadeiro pesadelo da madrugada do dia 31 de outubro. A propriedade da família, no Travessão Divisa, ficou irreconhecível da noite para o dia. Árvores arrancadas pela raiz – entre elas uma nogueira que media mais de 50 metros –, estragos nas construções do galinheiro, do chiqueiro, na estrutura do poço artesiano, nas hortas, jardins, e também nos vinhedos que dão sustento ao negócio familiar.

Os quatro hectares de área plantada da variedade Isabel foram dizimados pelos mais de 10 minutos de muita chuva, granizo e vento forte. “Acordamos muito assustados com o barulho que a chuva fazia, as janelas não aguentavam e a água entrava mesmo com tudo fechado. Era assustador olhar pela janela”, conta Antonia. Os estragos puderam ser vistos de fato na manhã seguinte – a família estima que perdeu mais de 95% da produção de uvas. “Eu nunca tinha visto algo parecido e jurei que nossa casa também não aguentaria a força do vento. Graças a Deus foram apenas os danos materiais e da produção que, contudo, não foi afetada somente neste ano, mas também nas próximas safras ”, complementa Natal. Apesar do susto e do desânimo de ver uma produção inteira no chão, o casal, que tem os filhos Morgana, Ana Paula e Renato, já encontrou forças para começar a luta novamente.

Para isso, eles tiveram apoio da família, vizinhos e amigos que se prontificaram a ajudar na reorganização da propriedade herdada da família Salvador. E a fé, funciona como um efeito mobilizador, tendo um fato incomum que veio com o temporal. A família mantém com muito zelo uma capelinha protegida por arbustos cuidadosamente podados em frente a casa. Dentro dela, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Apesar da fragilidade da imagem, ela ficou intacta, não foi levada pelo vento, muito menos danificada pelo granizo. “Naquela manhã após o temporal, eu olhei para ela e pensei que a Antonia tivesse colado a imagem na estrutura de concreto, mas não, ela estava solta e pesa menos de 100 gramas”, conta Natal. “E eu, quando vi, pensei que o Natal a tivesse encontrado em alguma parte do pátio, mas não, ela nunca saiu da capelinha. Acredito muito que Nossa Senhora protegeu nossa casa, nos protegeu e também a nossa família. Por isso vamos levantar a cabeça e começar a luta novamente”, reconhece Antonia. “Naquela noite do temporal, que fez eles perderem toda a produção, a santinha ficou intacta, continuou de pé, firme e forte, embora todo o jardim ao redor dela estivesse destruído. Ela suportou o vento que arrancou árvores e pudemos nos dar conta que, apesar de tudo, a casa de nenhum agricultor foi danificada, inclusive a dos meus pais”, conta a filha Ana Paula.

A fé, aliás, é o que vem ajudando os paduenses atingidos pelo temporal a buscar forças para tratar vinhedos, pessegueiros, parreiras, áreas de alho e cebola, e outras culturas que foram totalmente destruídas em  minutos. “Apesar do susto, no feriado recebemos a família toda e pudemos agradecer por estarmos todos bem, com saúde e tendo nossa casa de pé. Os bens materiais vamos reconstruir com o tempo”, acredita Antonia, que é complementada pelo marido: “O tombo foi grande, mas vamos nos reerguer. O que o agricultor mais tem é esperança”, reconhece Natal, emocionado. Seguindo orientação técnica, nesses últimos dias o casal já trabalhou no tratamento do vinhedo, que está segurado.

 

 

Antonia e Natal tiveram perca em 95% da produção de uva - Camila Baggio
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