Geral

Passeio ciclístico para ser alternativa de mobilidade

Para tentar melhorar a trafegabilidade no trânsito CDL Jovem de Flores da Cunha promoverá evento neste domingo

Bem-estar para trabalhadores e moradores, transporte público de qualidade e vias de acesso. São assuntos que crescem nas rodas de debates e abrem um questionamento: como uma cidade pode crescer, gerar renda, emprego e, ao mesmo tempo, renovar suas estruturas de transporte? A mobilidade urbana hoje é mais do que uma estrutura física: pode quantificar e definir a tão buscada qualidade de vida. E umas das principais ações que envolvem a mobilidade urbana é o tráfego de veículos. A lentidão e falta de lugar para estacionar tiram a paciência de qualquer um. É por esse bem-estar que o Departamento Jovem da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Flores da Cunha organiza a primeira edição do projeto Pedala + Flores! Por um carro a menos nas nossas ruas!. O encontro está marcado para este domingo, dia 9, e busca conscientizar a população de que a bicicleta é mais que esporte e diversão: pode ser um eficiente meio de transporte.

Com o objetivo de conscientizar a população sobre a adoção de hábitos mais saudáveis e menos poluentes, o projeto ciclístico pretende, também, despertar ações como a utilização da carona solidária, que contribui para a redução de carros nas ruas e a criação de mais ciclovias na cidade. A saída do passeio será às 9h na frente da Vinícola Monte Reale (pórtico do Acesso Sul), com chegada prevista para as 11h em frente ao Clube Independente, na Rua Borges de Medeiros, totalizando um percurso de 4 quilômetros. A inscrição é 1kg de alimento não-perecível e a programação inclui alongamento antes do passeio e carro de som para animar os ciclistas.

De acordo com o diretor de Marketing e Ação Social da CDL Jovem, Jonas Rigotto, o passeio ciclístico quer estimular o uso de bicicletas como uma alternativa viável de transporte em Flores da Cunha para dar maior mobilidade e fluxo nas principais vias. “Não existe uma lei para o uso da bicicleta, mas acreditamos que esse seja um começo. Os problemas pelo alto número de veículos nas ruas já conhecemos, queremos propor uma solução para isso, além de chamar atenção para mais espaços como a ciclovia. É um estímulo para que o carro fique em casa e a bicicleta seja mais utilizada”, explica Rigotto. O projeto Pedala + Flores! é uma realização da CDL Jovem florense com apoio da prefeitura e Brigada Militar (BM) e patrocínio da Keko Acessórios.

As inscrições podem ser feitas na CDL, Walcolor, lojas Dádiva e Lima Limão, Ferragens Rigotto, Louise Joias e Sapatos, Guarezi Informática, Casa da Beleza Waleska Fingers, Auto Elétrica Maioli e, no dia, no local de saída do passeio. Em caso de chuva o evento será transferido para o dia 16.

Presença confirmada no ‘Pedala + Flores’

O contabilista Paulo Roberto Finger, o popular Beto, já confirmou presença na primeira pedalada sustentável de Flores da Cunha. Aos 62 anos e com o incentivo do filho Felipe, 24 anos, ele quis tirar pelo menos um carro das ruas florenses e há alguns meses sai de casa, no bairro São José, e vai até o Centro, onde trabalha, de bicicleta. Além da economia com gasolina, ele sente que está fazendo bem para o organismo e para o meio ambiente. “Sabemos que o mundo está cada vez mais degradado. O meio ambiente precisa de ações que o ajudem a se recuperar. E comecei tirando um carro das ruas. Além de fazer bem para a minha saúde, me dando bem-estar, sei que estou praticando a sustentabilidade”, valoriza Finger.

A bicicleta foi uma ideia do filho Felipe, que estuda Arquitetura em Florianópolis (SC). “Ele conheceu esse modelo de bicicleta e disse que eu precisava ter uma para usar aqui. Nós compramos e hoje eu uso aqui e quando vou visitá-lo”, conta o florense. Com um pequeno motor na roda da frente, a bicicleta exige menos esforço na hora de pedalar. O pneu da frente pode ser impulsionado em diferentes cargas. A bateria é recarregável e a ‘magrela’ é dobrável.

Nas idas e vindas até o trabalho e nos passeios nos finais de tarde Finger aponta o descuido de muitos motoristas com os ciclistas. “Eu uso capacete para me proteger caso alguma coisa aconteça, mas é visível quantos motoristas falam ao telefone celular e não têm atenção no trânsito. Flores precisa de mais espaços para os ciclistas, assim como os bicicletários para deixarmos a bici. O município não incentiva o uso dela”, lamenta Finger, que convida os florenses a provar os benefícios de usar o antigo meio de transporte.

Passado e do futuro: adesão às duas rodas

Se o excesso de veículos torna difícil a tarefa de se deslocar nas cidades, a bicicleta, tão usada antigamente, volta a ser lembrada. Ela é um meio de transporte eficiente, barato, saudável e ambientalmente limpo. Não por acaso, a Política Nacional de Mobilidade Urbana estabelece, em suas diretrizes, que as cidades deem prioridade aos tipos de transporte não motorizados sobre os demais. Porém, nem sempre as políticas públicas contemplam isso na prática.

Poucas entre as grandes cidades brasileiras têm ciclovias que efetivamente permitem a mobilidade da população nas atividades diárias. De acordo com estatísticas da Organização Não Governamental (ONG) Mobilize Brasil, a campeã em quilômetros de ciclovia é o Rio de Janeiro (300km), seguida por Brasília (160km), Curitiba (120km) e São Paulo (70km). Outras capitais estão investindo, como Porto Alegre, Aracaju (SE), Salvador (BA), Cuiabá (MT) e Rio Branco (AC), mas o país ainda está distante das grandes cidades como Berlim (Alemanha, 750km), Nova Iorque (Estados Unidos, 675km), Amsterdã (Holanda, 400km) ou Paris (França, 394km).

Em Flores da Cunha o Acesso Norte conta com uma ciclovia de pouco menos de 2km. Segundo o Plano de Mobilidade, o Acesso Sul também deve ter um espaço especial, aumentando o trajeto para ciclistas, inclusive na área central. “A Avenida 25 de Julho é um local plano e que deve ser aproveitado para lazer e bem-estar, ou até incentivando que as pessoas vão ao trabalho ou para a aula caminhando ou de bicicleta, deixando o carro em casa”, aponta a secretária de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Ana Paula Ropke Cavagnoli.

O Brasil tem experimentado, em décadas recentes, um gradual abandono dos transportes públicos por uma parcela cada vez maior da população. Entre 1950 e 2005, o número de viagens diárias medido pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) caiu de 68% para 51%, enquanto que o uso do automóvel subiu de 32% para 49%. A queda é resultado não apenas dos constantes incentivos à compra de veículos e motos, mas principalmente, na avaliação dos especialistas, do descaso do poder público com o transporte coletivo de passageiros. No Brasil, trens e metrôs transportaram diariamente, em 2012, 9 milhões de passageiros, o que representa apenas 3,8% do total, muito atrás dos automóveis e motos (30%) e ônibus (26%).

Flores da Cunha, assim como o Brasil, tem muito para crescer e se desenvolver, seja no planejamento, como na educação e mudança de hábitos. “Temos muitas ações necessárias e que deveriam ser feitas no que diz respeito à mobilidade urbana, mas são investimentos altíssimos e que infelizmente não conseguirmos fazer em curto prazo. Para uma mobilidade urbana saudável, o essencial é incentivar que as pessoas andem mais, utilizem mais a bicicleta, usem o transporte público. Para isso é necessário dar alternativas e possibilidades, como ciclovias e transporte público acessíveis. Além de calçadas boas e com trafegabilidade. A mobilidade deve ser programada conforme a ampliação do perímetro urbano e o crescimento da cidade. Os locais que apresentam maior fluxo devem ser observados e, assim, naturalmente, a cidade cresce de forma ordenada”, contextualiza a secretária Ana Paula.

Ciclista há pelo menos 40 anos

Embora os usuários de bicicleta ainda sejam a minoria, Flores da Cunha conta com ciclistas fiéis à magrela de duas rodas. O operador de máquinas Valcir Scheffer da Silva, 64 anos, é um deles. A família tem carro e ele usa a bicicleta como meio de transporte, seja para fazer compras, pagar alguma conta ou até mesmo tomar um cafezinho com os amigos; seja qual for o destino, Scheffer sempre vai de bicicleta. De casa, no loteamento São Pedro, até o Centro, ele demora em média 20 minutos e, além do exercício físico, a bicicleta traz economia. “Meu médico já me falou para nunca parar de andar de bicicleta. Faz muito bem e não gasto com gasolina ou com mecânico. Gosto de andar de bicicleta. Tanto que pedalo há 40 anos. Na verdade, nasci pedalando”, brinca o florense que utiliza a ‘magrela’ inclusive para passeios aos finais de semana.

Nessas décadas em que utiliza a bicicleta Scheffer já teve alguns contratempos, infelizmente pela falta de infraestrutura para quem opta por outro transporte. Há dois anos ele sofreu um acidente na Avenida 25 de Julho, quando um caminhão invadiu o acostamento onde ele estava. Com quatro costelas quebradas ele teve de deixar a bicicleta por algumas semanas. “Infelizmente ainda falta conscientização por parte dos motoristas para haver mais cuidado com os ciclistas. Como gosto de andar, não vou mudar meu estilo”, garante o ciclista. E a bicicleta de cor azul não foi escolhida à toa: é para mostrar que a mesma paixão pela bicicleta ele tem também pelo Grêmio.

Foto/Camila Baggio

Seja qual for o destino, Scheffer sempre vai de bicicleta.

Deslocamentos urbanos em favor do crescimento

O desafio de crescer de forma saudável ganhou uma definição – mobilidade urbana. Ela é uma das principais questões das cidades de todo o mundo e interfere diretamente sobre o acesso a diferentes pontos das cidades, aos serviços públicos e ao meio ambiente. Durante o Século 20 o uso do automóvel foi uma resposta eficaz para se ter autonomia na mobilidade diária, entretanto, no início do Século 21 o aumento dos engarrafamentos nas grandes cidades tem gerado a necessidade de pensar em novas alternativas de transportes sustentáveis para o meio ambiente, para a economia e para a sociedade.

Hoje, com o crescimento da população, da maior oferta de carros e do inchaço urbano, ter um veículo não é mais sinônimo de autonomia e conforto. Ficar parado no trânsito se tornou uma perda de tempo e de qualidade de vida. Na última década a frota de veículos no Brasil aumentou 400%. Esse quadro tem exigido uma nova postura por parte dos gestores públicos – e da própria sociedade – para a busca de soluções.

Com isso, a mobilidade urbana tomou proporções que até pouco tempo sequer era pensada. Primeiramente, a principal preocupação girava em torno dos fluxos viários e questões relativas a basicamente o modal automotivo, quer seja o transporte coletivo de passageiros ou o transporte individual. “Com o advento de questões que incluíam a sustentabilidade nas cidades, a mobilidade urbana passou a ser tratada num aspecto mais amplo, ou seja, incorporando outros modais e, de modo definitivo, também o pedestre”, explica o arquiteto e professor na área de Planejamento Urbano e Regional da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Carlos Eduardo Mesquita Pedone.

De acordo com o professor, a mobilidade urbana não é somente projetar, mas também levar características fundamentais da cultura local – como a educação. “Dentro da mobilidade urbana temos ações de curto prazo, e elas estão ligadas exatamente à postura das pessoas, à educação no convívio social como, por exemplo, pela preferência da faixa de pedestres ou não trancar cruzamentos. São ações que podem ser resolvidas em curto prazo pela cultura da população”, complementa Pedone. Depois dessas ações, existem as de médio e longo período, que envolvem aspectos importantes de planejamento.

Para planejar uma cidade como Flores da Cunha, a cultura conta muito na hora de crescer. A presença de um transporte público, por exemplo, deve estar acima da qualidade. O serviço deve ser inserido no cotidiano da população. “Flores da Cunha é uma cidade de riquezas, com isso existe a possibilidade de deslocamento com automóveis. O transporte público deve trazer qualidade e comodidade e, assim, as pessoas podem migrar para esse serviço”, acrescenta Pedone.

Prioridade automotiva
Outro aspecto que é influenciado pela cultura local é o próprio tráfego de veículos. Fazer com que a população busque caminhos alternativos, evitando a área central do município – se esse não for o destino da pessoa –, assim como o uso da bicicleta e de outros meios de locomoção. “A questão cultural é realmente muito importante para que se criem alternativas de locomoção. Flores da Cunha deve se preocupar um pouco em entender melhor a cultura da população em relação a oportunidades de utilização de meios alternativos, deixando de trafegar sempre nas ruas centrais e sim buscar vias alternativas. Isso tudo cria a cultura de descentralização, um aspecto importante para uma mobilidade urbana eficiente”, destaca o professor de Planejamento Urbano.

Durante muito tempo as cidades contavam exclusivamente com transporte automotivo e coletivo por ônibus. Hoje existe a ideia ‘relativa’ ao modal de bicicleta, algumas até por motorização, e assim passou-se a enxergar a mobilidade urbana como um assunto mais amplo, incorporando calçadões, onde as cidades se movimentam para transformar algumas ruas que dão a preferência ao pedestre e são, inclusive, exclusivas ao pedestre. “O crescimento das cidades, com suas calçadas, passa a ser uma questão importante, sem excluir o pedestre nem o veículo. Em alguns municípios da região podemos ver o pedestre e o veículo convivendo em harmonia. Então, essa é uma questão de convivência pacífica entre as partes, sem necessariamente que isso seja intermediado por sinaleiras, mas sim como uma questão cultural”, valoriza. Entretanto, isso pode levar tempo.

Finger faz o trajeto diário de casa até o trabalho: um carro a menos nas ruas. - Camila Baggio
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário