Geral

Parreiras dão lugar a tomateiros após granizo histórico

Em Otávio Rocha, localidade atingida pela intempérie de dezembro, agricultores tentam reverter perdas apostando em outras culturas.

Passaram-se mais de três meses e pouca coisa mudou para parte dos agricultores de Otávio Rocha. Depois do granizo histórico do dia 14 de dezembro do ano passado, que atingiu 12 municípios da Serra e cerca de 1,7 mil hectares de área cultivada em Flores da Cunha, o que aumentou para muitos produtores foi o trabalho. Uma das 318 propriedades atingidas foi a do agricultor Natal Martini, 57 anos. Nos quatro hectares ocupados com videiras, a maioria com a variedade Bordô, nenhum cacho de uva foi colhido. “A previsão era colher 130 mil quilos, mas não deu um grão”, lamenta o colono natural do distrito caxiense de Santa Lúcia do Piaí e residente em Flores há mais de cinco décadas.

Para amenizar as perdas, Martini plantou cebolas em um pedaço de terra. Porém, depois do granizo, veio a seca. Resultado: em vez de 100 mil quilos do legume, acabou colhendo apenas 8 toneladas. Agora, a aposta é outra: 2,5 mil metros quadrados de parreiras foram arrancados para dar lugar a tomateiros – e a uma nova esperança ao agricultor. “Nunca vi uma chuva de pedra como aquela. Veio rápido e atingiu todas as parreiras”, recorda Martini, que estima em R$ 60 mil o prejuízo, contabilizados os recursos do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).

O agricultor revela que investiu em dois novos tratores, o que complicou as finanças. “Além do tomate, plantei vagem”, conta. Martini observa que usa a água de uma vertente para irrigar os tomates, com ajuda do declive do terreno, sem gastar luz com bombas. “Vamos ter de economizar em tudo”, pondera.

Longa espera
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua e coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, lamenta a falta de novas ações por parte dos governos para beneficiar a agricultura. Uma comissão para discutir os prejuízos no Estado chegou a reunir-se com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, em Porto Alegre, porém, não houve resultado efetivo. “Estou aguardando a segunda reunião”, questiona Schiavenin. Ele lembra que os representantes dos governos federal e estadual deixaram claro que os instrumentos para auxiliar o setor “são os que estão aí”.

Entre as reivindicações, nos aspectos financeiros, está a manutenção da renda do produtor, com salário de subsistência; renegociação de dívidas; apoio financeiro à família a fundo perdido; ampliação de financiamento para todo tipo de sinistro; e seguro do patrimônio (pomar) – existe o da produção –, além do acesso a um Fundo de Catástrofe. “Os programas existentes beneficiam quem tem financiamento. Fica difícil contrapor os argumentos. Nunca vi dinheiro público ser usado como crédito emergencial para famílias”, desabafa o líder sindical. Em resumo: quem não fez financiamento ou seguro, perdeu a safra. Não há política pública para essas pessoas, como é o caso de Martini e de tantos outros produtores de Otávio Rocha.





Prejuízo de Martini foi de R$ 60 mil. Agora, perdas são amenizadas com plantação de tomates. - Fabiano Provin
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário