Otávio Rocha: Um ambiente familiar
História do Hotel Dona Adélia se confunde com a trajetória da família fundadora, que ganha novos membros a cada visita
É impossível pensar em Otávio Rocha sem lembrar dele: o Hotel e Restaurante Dona Adélia que, inspirado pelo pioneirismo de sua fundadora, aconchega e delicia hóspedes há mais de 50 anos. A trajetória cinquentenária, contada através de fotos em um grande mural nas paredes do Hotel, se confunde com a da família – que agrega mais pessoas a cada visita, atraídas seja pela famosa sopa de agnolini, seja pela hospitalidade dos seus anfitriões.
Tudo começou quando Adélia Vailatti Slaviero saiu da colônia para trabalhar com o tio, dono de uma famosa cantina de vinhos que atraia visitantes do país inteiro. Por anos, Adélia e o marido, Cristiano, foram empregados do Hotel Otávio Rocha, o primeiro da localidade. “Um tempo depois, eles, principalmente minha mãe, que era mais empreendedora, pensaram em adquirir o negócio para si”, conta a filha Helena Slaviero Muterle, hoje proprietária.
O casal alugou o Hotel entre 1964 e 1966 quando, no dia 20 de setembro, por desavenças familiares, foi despejado do local. A família teve 24 horas para sair da casa e contou com a ajuda da comunidade para seguir em frente. “Meus pais foram morar de favor em uma casa que era um antigo grupo escolar. Eu e minha irmã comíamos e dormíamos na casa do Claudino Galiotto, junto com as filhas dele”, recorda Helena.
Diante da situação, o pai pensou em voltar para a colônia, mas o desejo de Dona Adélia em ter o próprio hotel seguia vivo. Tanto que, em menos de três meses, eles compraram o pedaço de terra onde hoje está o empreendimento. “É uma história interessante para mostrar como em cima de uma tristeza, de um desgosto, você acaba construindo uma história bonita”, diz a filha.
Assim, em 1968, Dona Adélia e o marido transformaram uma história de despejo em um local de acolhimento, inaugurando o Hotel Vinte de Setembro. “Era uma estrutura pequeninha: oito quartos, mas apenas seis eram para alugar, porque morava o casal e as duas irmãs. Tinha um banheiro só para todo mundo. Quando abriram o restaurante, não tinha nem piso, era brita embaixo”, diz Valdomiro Muterle, marido de Helena.
Com a morte de Adélia – em 1988, aos 52 anos, vítima de câncer –, coube a ele sucedê-la na administração do Hotel. Uma tarefa nada difícil, segundo Valdomiro, devido ao talento para o empreendedorismo legado pela sogra: “Eu fui aprendendo com ela a maneira de fazer as coisas, vendo o que ela pensava para o futuro do Hotel. Para mim, ficou fácil, fácil. Depois do falecimento dela, eu falava na Dona Adélia e as portas imediatamente se abriam”.
Um ano depois, a primeira reforma: a ampliação da cozinha, do restaurante e dos banheiros, além da construção de seis apartamentos novos, com espera para ar-condicionado – à época, um luxo, que chegou a ser notícia de jornal. Tudo como sonhado por Adélia, cujo nome passou a ser imortalizado nos letreiros do Hotel.
Hoje, o empreendimento tem capacidade para 130 pessoas em seus 47 apartamentos sala de jogos, sauna, academia, sala de eventos para 80 pessoas – além do restaurante com 150 lugares, sempre lotado em busca da inigualável sopa de agnolini, de responsabilidade da filha Helena. “Não tem segredo. Não tem receita, não tem peso, não tem medida, nós fizemos tudo no olho. Mas tudo que tu fizer com amor, é diferente”, revela a cozinheira.
Outra das especialidades do Hotel Dona Adélia é o seu bom atendimento, também uma herança da fundadora. “A minha mãe era uma pessoa alegre, cativava todo mundo. O ambiente familiar é o que cativa, gentileza gera gentileza. Esse tipo de tratamento que as pessoas procuram e não encontram mais em outros lugares. A família é pequena, mas todo mundo que vem aqui já faz parte da família”, diz Helena.
E são vários os filhos dessa família, que sempre se sentem à vontade para retornar à casa. Muitos são clientes há anos, visitaram o Hotel com os pais quando ainda eram crianças e hoje retornam com suas próprias famílias já formadas. “Eles olham as fotos no quadro e falam: “nossa, eu vim no Hotel com o meu pai e era assim, eu tinha oito anos, dez anos de idade”. Hoje estão com quarenta. É muito bom ouvir essas histórias”, conta Valdomiro.
E o intuito é seguir agregando ainda mais. Para o futuro, expansões estão sendo planejadas para gerar novas opções de lazer, como piscinas térmicas. E é bem possível que elas sejam concluídas pelas filhas, Carla e Caren, que pretendem seguir os passos dos pais. “Elas estudaram, estão preparadas. Mas a maior faculdade é o dia a dia: elas nasceram e cresceram aqui dentro, trabalharam aqui a vida toda”, se orgulha o pai Valdomiro.
Com o Hotel nas mãos da terceira geração da família, ele tem tudo para manter a tradição iniciada pela sua fundadora e, claro, acrescentar novas lembranças ao mural na parede do Hotel Dona Adélia.
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