Os planos do bispo dom Alessandro Ruffinoni
O Florense entrevistou o novo bispo da Diocese de Caxias do Sul. Ele conta que está preocupado com a evangelização dos jovens
Preocupado com a evangelização da juventude, dom Alessandro Ruffinoni, nomeado pelo papa Bento XVI em 6 de junho como novo bispo da Diocese de Caxias do Sul, terá como principal desafio congregar os jovens. Nascido na província de Bérgamo, na Itália, tornou-se religioso em 1961 e recebeu a ordenação sacerdotal nove anos depois. Em 1970, veio ao Brasil e passou a trabalhar nas cidades de Casca, Guaporé e Porto Alegre. No ano de 1988, deixou o país para iniciar uma experiência missionária no Paraguai. Retornou ao Brasil em 1999, assumindo a província de São Pedro, em Porto Alegre.
Em 2006 foi nomeado como bispo auxiliar de Porto Alegre, com o título episcopal de Fornos Maior e, em 8 de agosto de 2010, tomou posse como bispo coadjutor da Diocese de Caxias do Sul. Aos 67 anos – ele completa 68 anos em 26 de agosto –, assume como bispo, após o pedido de renúncia de dom Paulo Moretto. Dom Alessandro é o quarto bispo da diocese. Nesta entrevista concedida ao jornal O Florense, o religioso fala sobre os primeiros trabalhos realizados, os seus maiores desafios, as redes sociais e o papel da igreja na atualidade.
O Florense: O senhor é bispo há um mês. Qual é avaliação desse período e quais as principais atividades realizadas?
Dom Alessandro Ruffinoni: Não estou assumindo do zero porque estou aqui há um ano – em agosto do ano passado tomei posse como bispo coadjutor. Nesse período fui trabalhando e conhecendo, junto com o dom Paulo Moretto, as paróquias, as capelas, as celebrações das comunidades. Assim, quando assumi, tinha feito uma caminhada e agora estou me organizando um pouco, mudando de sede. O meu trabalho é continuar visitando os padres com mais responsabilidade, para que eles tenham mais liberdade de dizerem o que pensam, o que gostariam. Agora aparecem aspectos mais de críticas, de ver como vai ser o trabalho. Estou levando adiante esse trabalho de visita e tendo presente sempre o plano diocesano, que foi programado por uma equipe. Vamos levar adiante esse plano por meio de reuniões com equipes, padres e leigos. Estou participando para animar o plano diocesano da pastoral.
O Florense: Qual será o maior desafio?
Dom Alessandro: O que me propus, entre os projetos, foi dar uma atenção especial aos jovens. Um desafio muito grande é animar e entusiasmar os jovens a se reunirem e como participar da vida na igreja. Esse é um grande desafio meu e de todos. Vamos trabalhar isso aproveitando a Jornada dos Jovens com o Papa e, sobretudo, a Jornada Mundial que acontecerá no Brasil daqui dois anos. É um momento muito interessante para direcionar o nosso cuidado e atenção aos jovens para formar grupos juvenis que animam a sua paróquia e a sua comunidade. A finalidade da paróquia da juventude não é só reunir os jovens para um encontro, mas fazer com que eles sejam parte ativa na sua comunidade, na evangelização e, sobretudo, junto aos colegas que são jovens.
O Florense: Como o senhor pretende fazer esse trabalho de incentivo aos jovens?
Dom Alessandro: A Diocese já tem um projeto, por meio da Escola da Juventude, que são três encontros, sendo que um já ocorreu, para incentivar os jovens e animá-los a trabalhar nas bases onde eles vivem, por meio da Escola da Juventude e através de outros encontros, que vão acontecer nas paróquias. Também pela Jornada Mundial da Juventude queremos chegar ao ponto de fazer que todos os movimentos participem. Nós queremos unir um pouco mais toda essa riqueza, seguindo uma orientação da Diocese, para que todos os jovens, além de seguir o carisma do grupo que pertencem, possam sentir também um grupo só que trabalha na diocese para o bem dos outros jovens.
O Florense: Temos na Diocese de Caxias 71 paróquias que abrangem 30 municípios. Como trabalhar com essa geografia e quais metas o senhor pretende implementar?
Dom Alessandro: É um desafio porque a Diocese é extensa. Mas se olho o Amazonas não posso me queixar, porque a distância é muito maior. Aqui temos uma facilidade de viajar, tem asfalto em todas as comunidades, porém, tem quase um milhão de habitantes e mil comunidades. Então, temos tudo isso para acompanhar e animar. O trabalho é muito grande. Entre os jornalistas que pedem uma entrevista, entre outra pessoa que quer falar com o bispo, o dia fica curto para tudo isso. Tenho que me organizar para não correr muito e fazer pouco. O importante é estar presente, mas com calma e serenidade e levando sempre uma mensagem. É um desafio grande porque a Diocese é grande e também exigente. A presença e animação do bispo é muito requisitada para marcar presença.
O Florense: Como o senhor vê a Igreja no contexto histórico atual diante do crescimento do relativismo, do laicismo e outras questões que se apresentam?
Dom Alessandro: O individualismo, o laicismo, o relativismo, tudo o que é ‘ismo’ é meio assim. Mas vejo a Igreja com olhos muito positivos, porque olho sempre o bem que está sendo realizado. Os problemas precisam despertar a uma fé mais consistente, forte, participativa. É difícil levar adiante um projeto que nós temos de acolhida, um projeto de formação. É difícil obrigar as pessoas a participarem disso. A vida é muito agitada. Para nós, colocar o respeito à vida, à ecologia, exige muito trabalho e nem sempre todo mudo consegue acompanhar. Porém, eu vejo a Igreja com olhos muito serenos, porque ela está nas mãos de Deus. Se não fosse na mão de Deus e apenas nas mãos dos padres, a Igreja tinha terminado há muito tempo. A Igreja nos dá uma segurança porque ela é Deus e o Espírito Santo que ilumina. Mas nós, como padres e bispos, também temos a nossa parte e não podemos abandonar os fiéis e não dar uma assistência, uma presença amiga. O que é muito importante para nós é acolher bem as pessoas para não afastá-las. Às vezes num momento de nervosismo ou cansaço, o padre pode não atender bem a pessoa e ela se afasta e procura em outras religiões o que não encontrou na Igreja Católica.
O Florense: O senhor já disse que lê a bíblia no iPhone, posta textos no Twitter, utiliza o Youtube. Qual seria o papel dessas redes sociais diante da evangelização?
Dom Alessandro: Estamos num mundo moderno e a Igreja procura acompanhar esse mundo. Não é que resolvemos os problemas se temos um canal de televisão ou um iPhone, um Twitter ou um Facebook. A evangelização acontece primeiro com o testemunho e depois com esses meios de comunicação. Por que esses meios podem ser instrumentos de Deus que divulgam valores bons. Eles são uma grande oportunidade para evangelizar, para aproximar as pessoas da Igreja. Por exemplo, o Twitter, a cada dia você pode lançar uma frase positiva que 300 jovens podem ler e, quem sabe, faça bem a eles essa frase. Por isso, não podemos desprezar nada daquilo que podemos usar para evangelizar, mas o mais importante de tudo é o testemunho. Que venham os meios de comunicação, mas que junto venha uma vivência forte de amor a Deus e aos irmãos.
O Florense: Como o senhor vê o posicionamento da Igreja diante de temas polêmicos, como aborto e uso de camisinha?
Dom Alessandro: A Igreja tem uma linha, aquilo que ela ensina não é algo inventado numa reunião. Aquilo que ela procura ensinar é como viver o evangelho. Todos esses assuntos polêmicos nós partimos do evangelho. A partir da palavra de Deus, a Igreja tem o seu ensinamento. O evangelho defende a vida, então a Igreja defende a vida desde o começo. É natural que existam muitos problemas. Por exemplo, uma moça violentada que engravide ou um feto mal formado, é natural. Nos casos concretos, às vezes, os sentimentos nos levam a dar pareceres que não achamos que sejam conforme a lei de Deus, porque ele quer a vida. Não depende mais de nós decidir quando um pode viver ou quanto pode viver. A vida é um dom de Deus e parte dele. Só Deus é dono da vida e só ele sabe até quando nós podemos viver. Existem pontos polêmicos, a Igreja é um pouco criticada, aceitas as críticas e sempre está, por meio dos teólogos, dos estudos e de um aprofundamento, aberta para dar orientações àqueles que acreditam na palavra de Deus.
O Florense: O senhor viu a atual campanha da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea)? O que achou dela? (A partir do mês de julho, a entidade lançou outdoors com o objetivo de mostrar que os ateus são vítimas de preconceito. A primeira cidade a receber a campanha foi Porto Alegre. Em uma das publicidades há uma foto de Hitler dizendo que ele acreditava em Deus e uma imagem de Charles Chaplin apontando que ele era ateu e a seguinte frase: ‘Religião não define caráter’.)
Dom Alessandro: Sim, eu vi o cartaz. Não é porque uma pessoa foi batizada que vive o batismo. Como pode ter gente boa entre os ateus, assim também pode ter gente ruim entre os cristãos. Não é que o bem está somente de um lado, porque Deus expira coisas boas no coração de cada um. Mesmo se eu não aceito Deus, ele me ama e pode incrustar em mim sentimentos muito bons e não somente sentimentos humanos, mas também de valor cristão. Então, o bem não é um privilégio apenas dos cristãos, mas pode ser feito por qualquer pessoa. É natural que se uma pessoa está mais unida a Deus e procura mais por ele pensamos que ela poderá melhor difundir esses valores cristãos. Mas isso não impede que uma situação ou ideologia possa distorcer algumas pessoas do bom caminho. Não é fato que uma pessoa batizada é praticamente uma santa – é preciso viver a própria vida.
O Florense: O senhor conhece Flores da Cunha e Nova Pádua?
Dom Alessandro: Flores da Cunha conheço um pouco, já Nova Pádua conheço mais e estive diversas vezes. Fui em várias festas, como a Festa do Colono e Motorista, na qual participei recentemente no desfile e na missa. Também fui na Feprocol.
O Florense: Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal O Florense, Flores da Cunha tem uma população com mais de 80% de católicos. Entretanto, o número de igrejas evangélicas tem crescido. Como o senhor vê isso?
Dom Alessandro: Eu não me assusto, porque se são igrejas que difundem o bem, elas são bem-vindas. Essas igrejas também estão divulgando a palavra de Deus, a fraternidade. Se não conseguimos chegar a todos os rincões e campos da Diocese, e se têm outros que nos ajudam a divulgar a palavra de Deus, é muito bom. Mas é nosso dever que aquela pessoa que foi batizada como católico não se afaste por falta de testemunho ou por falta de acolhida, de atenção. Seria muito triste e lamentável que alguém se afaste da Igreja porque não se sinta acompanhado e não vê nos seus pastores o exemplo que ele deveria dar. Mas se alguém se afasta por motivos pessoais, que faça o bem e que viva bem.
O Florense: Em Flores, uma das principais causas é a beatificação do frei Salvador Pinzetta. O senhor pretende ajudar nesse processo de canonização?
Dom Alessandro: Estamos dando todo o apoio para o andamento do processo e para que frei Salvador seja bem aventurado. O processo foi aberto recentemente e agora o dom Ângelo Salvador está, com sua equipe, fazendo todo o dossiê para ser enviado a Roma para ser examinado e para comprovar o milagre. Devemos saber que santo é um modelo para ser seguido. Não é para ser adorado, mas para ajudar a amar a Deus e imitá-lo no amor ao próximo.
O Florense: Que livro o senhor indicaria para ler?
Dom Alessandro: O primeiro livro que indico é a Bíblia. Recomendo ler um pouco a cada dia, porque ela é a palavra de Deus e nós, católicos, temos que voltar a entender que esse livro é Jesus falando de Deus.
O Florense: E um filme?
Dom Alessandro: O filme Homens e Deuses (lançado em 2010) é muito interessante. Ele conta a história real de monges católicos que foram mortos pelo ódio à religião.
O Florense: Quando o senhor não está exercendo as funções de bispo, o que o senhor costuma fazer nas horas de lazer?
Dom Alessandro: Por enquanto não tenho muitas horas de folga, mas costumo escutar música para descansar, ler livros para formação, passear, visitar lugares. Quando era mais jovem gostava de futebol, mas hoje as pernas não ajudam mais (risos). Por enquanto, o meu tempo é todo dedicado à Diocese. Mais adiante poderei fazer mais as coisas que aprecio.
Em 2006 foi nomeado como bispo auxiliar de Porto Alegre, com o título episcopal de Fornos Maior e, em 8 de agosto de 2010, tomou posse como bispo coadjutor da Diocese de Caxias do Sul. Aos 67 anos – ele completa 68 anos em 26 de agosto –, assume como bispo, após o pedido de renúncia de dom Paulo Moretto. Dom Alessandro é o quarto bispo da diocese. Nesta entrevista concedida ao jornal O Florense, o religioso fala sobre os primeiros trabalhos realizados, os seus maiores desafios, as redes sociais e o papel da igreja na atualidade.
O Florense: O senhor é bispo há um mês. Qual é avaliação desse período e quais as principais atividades realizadas?
Dom Alessandro Ruffinoni: Não estou assumindo do zero porque estou aqui há um ano – em agosto do ano passado tomei posse como bispo coadjutor. Nesse período fui trabalhando e conhecendo, junto com o dom Paulo Moretto, as paróquias, as capelas, as celebrações das comunidades. Assim, quando assumi, tinha feito uma caminhada e agora estou me organizando um pouco, mudando de sede. O meu trabalho é continuar visitando os padres com mais responsabilidade, para que eles tenham mais liberdade de dizerem o que pensam, o que gostariam. Agora aparecem aspectos mais de críticas, de ver como vai ser o trabalho. Estou levando adiante esse trabalho de visita e tendo presente sempre o plano diocesano, que foi programado por uma equipe. Vamos levar adiante esse plano por meio de reuniões com equipes, padres e leigos. Estou participando para animar o plano diocesano da pastoral.
O Florense: Qual será o maior desafio?
Dom Alessandro: O que me propus, entre os projetos, foi dar uma atenção especial aos jovens. Um desafio muito grande é animar e entusiasmar os jovens a se reunirem e como participar da vida na igreja. Esse é um grande desafio meu e de todos. Vamos trabalhar isso aproveitando a Jornada dos Jovens com o Papa e, sobretudo, a Jornada Mundial que acontecerá no Brasil daqui dois anos. É um momento muito interessante para direcionar o nosso cuidado e atenção aos jovens para formar grupos juvenis que animam a sua paróquia e a sua comunidade. A finalidade da paróquia da juventude não é só reunir os jovens para um encontro, mas fazer com que eles sejam parte ativa na sua comunidade, na evangelização e, sobretudo, junto aos colegas que são jovens.
O Florense: Como o senhor pretende fazer esse trabalho de incentivo aos jovens?
Dom Alessandro: A Diocese já tem um projeto, por meio da Escola da Juventude, que são três encontros, sendo que um já ocorreu, para incentivar os jovens e animá-los a trabalhar nas bases onde eles vivem, por meio da Escola da Juventude e através de outros encontros, que vão acontecer nas paróquias. Também pela Jornada Mundial da Juventude queremos chegar ao ponto de fazer que todos os movimentos participem. Nós queremos unir um pouco mais toda essa riqueza, seguindo uma orientação da Diocese, para que todos os jovens, além de seguir o carisma do grupo que pertencem, possam sentir também um grupo só que trabalha na diocese para o bem dos outros jovens.
O Florense: Temos na Diocese de Caxias 71 paróquias que abrangem 30 municípios. Como trabalhar com essa geografia e quais metas o senhor pretende implementar?
Dom Alessandro: É um desafio porque a Diocese é extensa. Mas se olho o Amazonas não posso me queixar, porque a distância é muito maior. Aqui temos uma facilidade de viajar, tem asfalto em todas as comunidades, porém, tem quase um milhão de habitantes e mil comunidades. Então, temos tudo isso para acompanhar e animar. O trabalho é muito grande. Entre os jornalistas que pedem uma entrevista, entre outra pessoa que quer falar com o bispo, o dia fica curto para tudo isso. Tenho que me organizar para não correr muito e fazer pouco. O importante é estar presente, mas com calma e serenidade e levando sempre uma mensagem. É um desafio grande porque a Diocese é grande e também exigente. A presença e animação do bispo é muito requisitada para marcar presença.
O Florense: Como o senhor vê a Igreja no contexto histórico atual diante do crescimento do relativismo, do laicismo e outras questões que se apresentam?
Dom Alessandro: O individualismo, o laicismo, o relativismo, tudo o que é ‘ismo’ é meio assim. Mas vejo a Igreja com olhos muito positivos, porque olho sempre o bem que está sendo realizado. Os problemas precisam despertar a uma fé mais consistente, forte, participativa. É difícil levar adiante um projeto que nós temos de acolhida, um projeto de formação. É difícil obrigar as pessoas a participarem disso. A vida é muito agitada. Para nós, colocar o respeito à vida, à ecologia, exige muito trabalho e nem sempre todo mudo consegue acompanhar. Porém, eu vejo a Igreja com olhos muito serenos, porque ela está nas mãos de Deus. Se não fosse na mão de Deus e apenas nas mãos dos padres, a Igreja tinha terminado há muito tempo. A Igreja nos dá uma segurança porque ela é Deus e o Espírito Santo que ilumina. Mas nós, como padres e bispos, também temos a nossa parte e não podemos abandonar os fiéis e não dar uma assistência, uma presença amiga. O que é muito importante para nós é acolher bem as pessoas para não afastá-las. Às vezes num momento de nervosismo ou cansaço, o padre pode não atender bem a pessoa e ela se afasta e procura em outras religiões o que não encontrou na Igreja Católica.
O Florense: O senhor já disse que lê a bíblia no iPhone, posta textos no Twitter, utiliza o Youtube. Qual seria o papel dessas redes sociais diante da evangelização?
Dom Alessandro: Estamos num mundo moderno e a Igreja procura acompanhar esse mundo. Não é que resolvemos os problemas se temos um canal de televisão ou um iPhone, um Twitter ou um Facebook. A evangelização acontece primeiro com o testemunho e depois com esses meios de comunicação. Por que esses meios podem ser instrumentos de Deus que divulgam valores bons. Eles são uma grande oportunidade para evangelizar, para aproximar as pessoas da Igreja. Por exemplo, o Twitter, a cada dia você pode lançar uma frase positiva que 300 jovens podem ler e, quem sabe, faça bem a eles essa frase. Por isso, não podemos desprezar nada daquilo que podemos usar para evangelizar, mas o mais importante de tudo é o testemunho. Que venham os meios de comunicação, mas que junto venha uma vivência forte de amor a Deus e aos irmãos.
O Florense: Como o senhor vê o posicionamento da Igreja diante de temas polêmicos, como aborto e uso de camisinha?
Dom Alessandro: A Igreja tem uma linha, aquilo que ela ensina não é algo inventado numa reunião. Aquilo que ela procura ensinar é como viver o evangelho. Todos esses assuntos polêmicos nós partimos do evangelho. A partir da palavra de Deus, a Igreja tem o seu ensinamento. O evangelho defende a vida, então a Igreja defende a vida desde o começo. É natural que existam muitos problemas. Por exemplo, uma moça violentada que engravide ou um feto mal formado, é natural. Nos casos concretos, às vezes, os sentimentos nos levam a dar pareceres que não achamos que sejam conforme a lei de Deus, porque ele quer a vida. Não depende mais de nós decidir quando um pode viver ou quanto pode viver. A vida é um dom de Deus e parte dele. Só Deus é dono da vida e só ele sabe até quando nós podemos viver. Existem pontos polêmicos, a Igreja é um pouco criticada, aceitas as críticas e sempre está, por meio dos teólogos, dos estudos e de um aprofundamento, aberta para dar orientações àqueles que acreditam na palavra de Deus.
O Florense: O senhor viu a atual campanha da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea)? O que achou dela? (A partir do mês de julho, a entidade lançou outdoors com o objetivo de mostrar que os ateus são vítimas de preconceito. A primeira cidade a receber a campanha foi Porto Alegre. Em uma das publicidades há uma foto de Hitler dizendo que ele acreditava em Deus e uma imagem de Charles Chaplin apontando que ele era ateu e a seguinte frase: ‘Religião não define caráter’.)
Dom Alessandro: Sim, eu vi o cartaz. Não é porque uma pessoa foi batizada que vive o batismo. Como pode ter gente boa entre os ateus, assim também pode ter gente ruim entre os cristãos. Não é que o bem está somente de um lado, porque Deus expira coisas boas no coração de cada um. Mesmo se eu não aceito Deus, ele me ama e pode incrustar em mim sentimentos muito bons e não somente sentimentos humanos, mas também de valor cristão. Então, o bem não é um privilégio apenas dos cristãos, mas pode ser feito por qualquer pessoa. É natural que se uma pessoa está mais unida a Deus e procura mais por ele pensamos que ela poderá melhor difundir esses valores cristãos. Mas isso não impede que uma situação ou ideologia possa distorcer algumas pessoas do bom caminho. Não é fato que uma pessoa batizada é praticamente uma santa – é preciso viver a própria vida.
O Florense: O senhor conhece Flores da Cunha e Nova Pádua?
Dom Alessandro: Flores da Cunha conheço um pouco, já Nova Pádua conheço mais e estive diversas vezes. Fui em várias festas, como a Festa do Colono e Motorista, na qual participei recentemente no desfile e na missa. Também fui na Feprocol.
O Florense: Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal O Florense, Flores da Cunha tem uma população com mais de 80% de católicos. Entretanto, o número de igrejas evangélicas tem crescido. Como o senhor vê isso?
Dom Alessandro: Eu não me assusto, porque se são igrejas que difundem o bem, elas são bem-vindas. Essas igrejas também estão divulgando a palavra de Deus, a fraternidade. Se não conseguimos chegar a todos os rincões e campos da Diocese, e se têm outros que nos ajudam a divulgar a palavra de Deus, é muito bom. Mas é nosso dever que aquela pessoa que foi batizada como católico não se afaste por falta de testemunho ou por falta de acolhida, de atenção. Seria muito triste e lamentável que alguém se afaste da Igreja porque não se sinta acompanhado e não vê nos seus pastores o exemplo que ele deveria dar. Mas se alguém se afasta por motivos pessoais, que faça o bem e que viva bem.
O Florense: Em Flores, uma das principais causas é a beatificação do frei Salvador Pinzetta. O senhor pretende ajudar nesse processo de canonização?
Dom Alessandro: Estamos dando todo o apoio para o andamento do processo e para que frei Salvador seja bem aventurado. O processo foi aberto recentemente e agora o dom Ângelo Salvador está, com sua equipe, fazendo todo o dossiê para ser enviado a Roma para ser examinado e para comprovar o milagre. Devemos saber que santo é um modelo para ser seguido. Não é para ser adorado, mas para ajudar a amar a Deus e imitá-lo no amor ao próximo.
O Florense: Que livro o senhor indicaria para ler?
Dom Alessandro: O primeiro livro que indico é a Bíblia. Recomendo ler um pouco a cada dia, porque ela é a palavra de Deus e nós, católicos, temos que voltar a entender que esse livro é Jesus falando de Deus.
O Florense: E um filme?
Dom Alessandro: O filme Homens e Deuses (lançado em 2010) é muito interessante. Ele conta a história real de monges católicos que foram mortos pelo ódio à religião.
O Florense: Quando o senhor não está exercendo as funções de bispo, o que o senhor costuma fazer nas horas de lazer?
Dom Alessandro: Por enquanto não tenho muitas horas de folga, mas costumo escutar música para descansar, ler livros para formação, passear, visitar lugares. Quando era mais jovem gostava de futebol, mas hoje as pernas não ajudam mais (risos). Por enquanto, o meu tempo é todo dedicado à Diocese. Mais adiante poderei fazer mais as coisas que aprecio.
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