Geral

Alterações na grade curricular, áreas de conhecimento integradas, aumento no número de horas letivas anuais, inclusão de formações técnicas e disciplinas com foco na preparação para o mercado de trabalho. Essas são algumas das mudanças com as quais os alunos das escolas públicas e privadas de todo o país estão convivendo, desde o início deste ano letivo, com a implantação gradual do Novo Ensino Médio.
A proposta, aprovada pela Lei nº 13.415/2017, começou a ser inserida nas redes de ensino no início de 2022. Desde sua validação, o projeto tem dividido opiniões, mas, um semestre após o início das aulas, a avaliação de professores e alunos tem sido positiva. 
De acordo com a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael, Ana Paula Citolin Rigotto, este novo formato já estava sendo estruturado há alguns anos e as formações específicas das disciplinas estão acontecendo desde o momento da pandemia. “O modelo está sendo introduzido de maneira gradual, nós temos o 1º ano com o Novo Ensino Médio, e o 2º e o 3º ano com o ensino regular antigo. Então a gente tem que lidar com as duas formas e eu vejo que teve uma grande mudança, mas mudança positiva”, revela a diretora.
Ana Paula explica que, neste ano, os alunos estão tendo o acréscimo de três disciplinas, e que, para que elas pudessem ser inseridas, foram diminuídas algumas horas das matérias regulares: “Eles não têm Ensino Religioso, mas têm Projeto de Vida. Diminuiu um período de Português e um de Matemática para poder entrar as disciplinas Mundo do Trabalho e Cultura e Tecnologia Digital”, exemplifica, e acrescenta que essas alterações foram necessárias uma vez que, agora, os jovens precisam cumprir 1000 horas anuais e não mais 800, como anteriormente – um acréscimo de 200 horas, desmembradas em cinco por turno, e realizadas de forma remota no ensino noturno. 
Ainda conforme a diretora, por se tratar de uma mudança gradual, em 2023, os discentes do 1º e 2º ano terão as novas disciplinas e, por fim, em 2024, todos os anos do Ensino Médio serão contemplados: “Com o passar dos anos vão sendo acrescentadas matérias diferentes, algumas específicas de áreas que os estudantes possam escolher”. Ana Paula também destaca que as novidades visam estimular a reflexão e o autoconhecimento, em uma idade que gera muitas dúvidas sobre a escolha do futuro profissional, bem como os aproxima do mercado de trabalho. 
“Eu tinha uma certa resistência a esse novo modelo, porque a gente não sabia como era. Para os próximos anos só o tempo vai nos dizer, mas hoje eu estou vendo de forma positiva, até pela maneira que os professores estão conduzindo, na qual os alunos enxergam como uma coisa que eles vão ocupar, enxergam uma utilidade para aquilo que estão tendo”, confessa a diretora, que acredita que a maior dificuldade esteja sendo a dos docentes em planejar as aulas para essas novas disciplinas e que, muitos, começaram a se estruturar entre si, com base em uma ementa disponibilizada pelo estado. 
Ponto de vista confirmado pela professora da Escola São Rafael, Fabiane Mascarello, que leciona as disciplinas de Química e Cultura e Tecnologia Digital: “Quando a gente recebeu a ementa, uma semana antes de começar as aulas, eu já comecei a pensar no que poderia ser abordado. Conversando com outros profes, que também ministram de tarde e de noite, chegamos ao acordo de que o primeiro passo seria os alunos aprenderem a formatar e apresentar trabalhos, então partimos disso”, explica a educadora.
Nesse sentido, as aulas iniciais foram dedicadas a informar os estudantes acerca da história da evolução dos meios de comunicação, além de provocar uma reflexão sobre a forma que nos comunicamos hoje. Depois, segundo Fabiane, foi enfatizada a questão da apresentação: “Cada grupo sorteou um assunto sobre a tecnologia, eles tiveram que pesquisar e apresentar para os colegas, aí abordamos que é preciso saber falar os pontos mais importantes, que não pode ser só leitura, que não pode colocar um monte de texto nos slides e que tem que ter postura durante uma apresentação”, exemplificou a docente, acrescentando que, na disciplina Mundo do Trabalho, o foco também é a postura, mas, diante de uma entrevista de emprego, além de fornecer orientações para montar um currículo e noções de algumas leis trabalhistas. 
“Quando se fala em Cultura e Tecnologia Digital o pessoal pensa que tem que saber tudo sobre inovação, ferramentas, mas não. É saber usar o Word, formatar um texto nas normas da ABNT, e isso também é a tecnologia junto com a cultura, então foi uma das primeiras coisas que mostramos”, evidenciou Fabiane. 
Outro produto explanado pela professora e que é visto como de extrema importância, sobretudo dentro do universo acadêmico, é a produção de um artigo. Desafio que iniciou com a escolha do tema, estabelecido pela educadora, que variou desde problemáticas como gestação na adolescência, igualdade de gênero e depressão, até questões comportamentais como o uso do celular em sala de aula e a prática de atividades físicas.  
“Eles trabalharam um mês dentro da pesquisa, como vou pesquisar no site, o que é importante dentro desse assunto, qual é o meu problema, quais são as minhas hipóteses”, contextualiza, e destaca que forneceu modelos de artigos, de diversas universidades, para que as turmas pudessem perceber que a base é a mesma para todos eles. Depois de montarem o artigo, o próximo passo, conforme Fabiane, será apresentar o assunto aos colegas – sem usar slides – justamente para estimular a criatividade, que já tem aparecido por meio de teatros e dinâmicas. 
Com o passar do tempo e o início do curso preparatório para Cultura e Tecnologia Digital, em abril, – Mundo do Trabalho e Projeto de Vida foram abordados pelo estado no ano passado – a professora foi percebendo que estava no caminho certo, porque, por mais que a capacitação guie os docentes, cabe a eles pensar em alternativas de como o conteúdo será transmitido aos alunos e de uma forma que eles entendam. “O que mais me surpreendeu foi que, ministro aulas para quatro turmas na manhã e, em todas elas, surgiu a questão de que eles tinham que aprender a fazer trabalhos, então isso eu achei bacana, porque os alunos têm essa visão de que eles não sabem fazer e precisam apender”, comemora. 
O que dizem os alunos
João Victor Sgarioni, Luiza Sandi Firme e Grégory Menegat dos Santos, três jovens distintos que têm em comum o fato de cursarem o 1º ano na Escola São Rafael e avaliarem, até o momento, como positivo o Novo Ensino Médio, uma vez que acreditam que o modelo aproxima da realidade empregatícia. 
“Eu acho que essa ideia do Novo Ensino Médio é interessante e que os professores estão trabalhando de um jeito legal, principalmente Cultura e Tecnologia Digital, porque é o nosso futuro, não temos como fugir disso em qualquer área que a gente for. Mundo do Trabalho também é interessante para conseguir entrar no mercado, quando a gente sair da escola, ou, até antes. O Projeto de Vida também ajuda a gente a entender um pouco melhor o que queremos ser e fazer. São matérias importantes e que realmente vão agregar para o nosso futuro”, defende a estudante Luiza Sandi Firme, de 15 anos.
A jovem, que pretende se especializar na área da tecnologia, explica que essas mudanças estão sendo boas, apesar de algumas dificuldades com o aumento da carga horária: “Por ter mais três matérias diferentes é um pouco puxado, porque são mais tarefas, mais coisas para fazer, mais responsabilidades. Mas, ao mesmo tempo, é interessante, pois é um estudo diferente de uma coisa que a gente não achou que fosse ter”, esclarece Luiza, acrescentando que isso desperta o interesse dos alunos.
Mesmo ponto de vista de João Victor Sgarioni, também de 15 anos: “A matéria nova de Tecnologia Digital, que a gente está aprendendo sobre formatação e Word, eu acho que vai ser muito importante para as futuras tarefas da faculdade e, até mesmo, para a nossa profissão. No Mundo do Trabalho a gente também aprendeu algumas coisas que vão ser muito importantes no futuro”, destaca Sgarioni, que acredita que o novo formato ajudará a ter mais clareza na escolha da profissão. 
Apesar de confessar estar com muitas dúvidas em relação ao que pretende se especializar, Grégory Menegat dos Santos, de 16 anos, pensa que o novo modelo auxiliará bastante e afirma estar gostando. “São matérias que não envolvem somente humanas, podem abranger mais, e acho que vão ser muito utilizadas. Mundo do Trabalho, especificamente, conhecemos mais sobre o mercado e documentos, enquanto no Projeto de Vida podemos conhecer sobre nós mesmos, e Cultura e Tecnologia Digital nos permite aprender sobre as ferramentas que vamos precisar usar. Agregando essas matérias eu acho que vai ser muito mais importante do que somente com as outras”, evidencia dos Santos.