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Os desafios da inclusão escolar

Neste ano, 35 alunos portadores de deficiências são atendidos na rede municipal e 18 na rede estadual de ensino

Desde 2005, a Política Pública de Inclusão assegura e promove, em condições iguais, o exercício dos direitos e da liberdade da pessoa com deficiência, visando a inclusão social e cidadã, transformando a escola em um espaço para todos. Essa realidade está presente na Escola Municipal 1º de Maio, que possui cinco alunos matriculados com deficiência. Entre eles estão Esllen Bett, 14 anos, e Antonio Zanotto Zenatto, 12 anos, que frequentam o 7º ano do Ensino Fundamental. Esllen tem deficiência mental e dificuldade motora. Já Antonio possui distúrbios de atividade e de atenção. 
Conforme a diretora da escola, Silvana Leandra Deon Rigo, o trabalho da instituição é acolher, porém há uma falta de capacitação especializada dos professores. “Em sua grande maioria, o corpo docente não está preparado para receber pessoas com deficiências. Não há uma formação especializada nesta área. Por isso, muitas vezes, as professoras se assustam no início. O que tentamos mostrar é que os alunos com deficiência acabam aprendendo da forma deles. Os professores precisam entender que eles não vão atingir o nível dos outros estudantes, mas que cada avanço é uma vitória”, enfatiza Silvana. 
Dentro deste aspecto, as escolas ainda estão engatinhando, precisando melhorar em muitos quesitos e, principalmente, fazer um trabalho mais específico com os colegas de turmas, conscientizando os alunos sobre as deficiências, para que eles possam incluir os jovens da melhor forma possível. “Os colegas agem naturalmente, ajudam, conversam e brincam com eles. Sempre tentamos mostrar que eles são seres humanos iguais a todos”, afirma a diretora. 
Em sala de aula é realizado um trabalho diferenciado. Conforme a professora de Língua Portuguesa, Flávia Dalabeta, um planejamento adaptado é elaborado para os alunos deficientes. No caso do Esllen e do Antonio o conteúdo passado é de 2º ano. “É a fase de alfabetização e trabalhamos bastante as práticas do dia a dia e compreensão de texto”, explica. Todos os alunos possuem uma monitora que auxilia o professor. “É preciso se acostumar. Ao longo do ano vamos aprendendo junto com eles como trabalhar, porque não podemos ter tantas interferências nas explicações. Queremos desenvolver eles para a vida. Desde saber ir ao mercado, pegar um ônibus, amarrar o tênis e organizar a casa”, declara a diretora.  
O atendimento especializado é dever do município. Em Flores da Cunha, a prefeitura disponibiliza o Núcleo Interdisciplinar de Apoio Educacional (Niae), que oportuniza ao aluno com necessidades educacionais especiais diversas avaliações, com encaminhamentos médicos especializados e atendimentos nas áreas psicopedagógica, pedagógica, psicomotora, psicológica, fonoaudiológica e social.
 “Para que essa inclusão ocorra, é preciso que o aluno que tem necessidades especiais diagnosticadas tenha um atendimento educacional especializado com profissionais da educação com formação”, explica a secretária de Educação, Ana Paula Zamboni Weber. 
O Niae trabalha com alunos com todos os tipos de deficiência e necessidades e, em conjunto, com a escola regular. “No momento que o aluno está frequentando a escola, ele precisa ter uma adaptação curricular que está prevista em lei. E no atendimento educacional especializado se faz outro tipo de trabalho, para que se possam potencializar as habilidades dos estudantes”, esclarece Ana Paula. 
Atualmente, o Núcleo conta com 250 alunos com necessidades e dificuldades de aprendizagem. De acordo com dados da Secretaria de Educação, 35 crianças com deficiências estão matriculadas na rede municipal de ensino e participam do Niae.

Atendimento também no Estado

Além do município, o Estado também conta com apoio para alunos com deficiência. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) atua há quatro anos em Flores. A professora Marli Rizzotto Otobelli é uma das que trabalham no desenvolvimento de alunos portadores de deficiências. Atualmente, são 18 estudantes distribuídos nas escolas estaduais e atendidos no contra turno escolar – desde o 2ª ano até o ensino médio. O AEE possui uma sala na Escola Frei Caneca, com jogos didáticos, computador e uma infraestrutura adaptada para os alunos. “Nos casos que não há a disponibilidade do aluno se deslocar até a sala, vou para a escola onde ele estuda”, conta a professora. 
De acordo com Marli, em sala de aula nem todos os alunos possuem monitoras. O Estado destina o acompanhamento apenas para casos graves, como no caso do Leonardo Caldart Negri, 17 anos, que frequenta o 7º ano na Escola Frei Caneca. Uma vez por semana, no turno contrário, ele participa do atendimento no AEE. “Eu trabalho também com o professor, passando sugestões de como trabalhar com esse aluno. Na verdade sou uma professora que trabalha como psicóloga, assistente social e mediadora entre professores e pais”, enfatiza. 
Conforme Marli, pedagogicamente o AEE não atua com reforço escolar, mas em aspectos diários, como saber usar o dinheiro, atenção e motricidade. “A maioria dos atendimentos é individualizado, pois cada um é um”, finaliza. 

Apae: um apoio a mais

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Flores da Cunha e Nova Pádua vê positivamente a inclusão da pessoa com deficiência nas escolas. “Vejo que é bem importante as pessoas com deficiências estarem incluídas e conviverem junto com as pessoas sem deficiências. É um aprendizado conjunto: os que têm deficiências conseguem ver mais possibilidades, ter a socialização com as pessoas, e as pessoas sem deficiências acabam se colocando no lugar dele e conseguem ter novas experiências”, enfatiza a diretora da instituição, Maria Branchini. 
Um dos aspectos para essa socialização é o trabalho da escola regular em alinhamento com a instituição. “É importante ter esse acesso e essa troca. A Apae está sempre disposta a ajudar as escolas, dando todo o tipo de apoio, mesmo para alunos que não frequentam a associação”, diz Maria, que complementa sobre a importância do auxílio comunitário. “Quando há uma mudança, sabemos que gera alguns transtornos, mas essa situação está cada vez mais presente na nossa sociedade. Precisamos abrir os nossos corações, pois muitas vezes só enxergamos os problemas, mas por trás disso tem muitas coisas a se fazer”. 
Hoje a Apae atende 92 pessoas, desses 44 são alunos que estão incluídos em sala de aula.

Censo Escolar

De acordo com dados do Censo Escolar 2018, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Flores atende a 129 alunos na educação especial. Dentre eles, seis estão na Educação Infantil, 75 no Ensino Fundamental, 12 no Ensino Médio e 36 na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Conforme a secretária de Educação, Ana Paula Zamboni Weber, esse número é distinto da relação de alunos com deficiência nas escolas porque o Censo Escolar inclui outras necessidades especiais, além das deficiências. “Esses números englobam quatro quesitos: os alunos com necessidades educacionais especiais; o público com necessidades acentuadas de aprendizagem; as crianças que têm dificuldades de aprendizagem leve; e os estudantes pertencentes à lei de inclusão que possuem necessidades especiais diagnosticadas, como o autista, o deficiente auditivo e visual, deficiente mental, alunos com deficiência múltipla e altas habilidades”, explica. Por isso, no município de Flores da Cunha, apenas 53 alunos portadores de deficiências estão incluídos em classes comuns. 
 

Esllen e Antonio frequentam o 7º ano na Escola 1º de Maio e possuem aulas adaptadas.  - Gabriela Fiorio
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