Os alunos de São Roque
Seja municipal, seja estadual, comunidade sempre foi um centro de ensino que hoje abriga estudantes de seis capelas
Duas das principais preocupações dos imigrantes italianos eram a religião e a educação. São Roque, como boa terra de italianos, também valoriza as duas. E lá, elas andaram lado a lado durante muito tempo, sendo a antiga Escola Rural Travessão Rondelli vizinha da capela. Desde a abertura da primeira escola, junto ao Pouso dos Montanari, acima da Vinícola Muraro, sem data conhecida, o local sempre teve uma instituição de ensino, ora municipal, ora do estado, mas sempre e acima de tudo da comunidade.
Os amigos Bertinho Piccoli, Donato Piccoli, Fernandes Veadrigo e Nestor Piccoli estudaram todos ali, na terra natal. O mais velho deles, Donato, fez seus estudos completos na Escola Municipal Plácido de Castro, que desde 1933 ficava localizada ao lado da capela de São Roque. “Quando eu fui para a aula aqui, a Genoveva Ferrarini era professora. Ela morava lá em casa com a gente, ia para a casa dela só nos fins de semana. E era só uma sala de aula, primeira, segunda, terceira e quarta séries juntas”, lembra Donato.
Já Fernandes Veadrigo estudou apenas o primeiro ano na escola municipal. No ano seguinte, em 1962, a instituição virou a Escola Rural do Travessão Rondelli, se tornando uma autêntica brizoleta, como ficaram conhecidos os colégios inaugurados pelo governador Leonel Brizola, feitos de madeira – em São Roque, a escola chegou a ter duas salas de aula, no segundo piso do salão comunitário.
Assim como o amigo, Fernandes tem na ponta da língua o nome dos seus antigos professores. “Eram a Nilse Muraro, a Dalva Fontana e a Genoveva Ferrarini. Depois vieram professores de Caxias, quando a escola virou estadual. Tinha o Zeferino também, da fronteira, que ficava numa pensão onde hoje é o Vermelhão”, conta Veadrigo. Mais jovem, Nestor se lembra de outros nomes: “Tinha o Henrique Gelain, que foi meu professor. Ia de manhã, dava aula, comia bergamota de meio dia e de tarde dava aula de novo para três, quatro turmas”.
Em sua época de aluno, no final dos anos 60, Fernandes Veadrigo conta que a escola tinha em torno de 70 alunos, vindos também de comunidades como São Vitor, Carmo e Restinga. Diferente de outras instituições, que eram municipais e só tinham até a 4ª série, a Escola Rural do Travessão Rondelli também abrigava alunos do 5º ano até 1972, quando foi fechada por falta de condições de manutenção - e assim permaneceu por dois anos. Um pouco antes, como lembra Bertinho, um pequeno incêndio na cozinha do colégio danificou o prédio de madeira.
Cria da escola de São Roque, Veadrigo também viu as filhas estudarem lá: “Minha filha mais velha começou a estudar aqui, no ano seguinte a escola fechou. Demorou dois meses para conseguir vaga em Flores. Ela estudou no São Rafael, no Targa, mas chegou a voltar pra cá. Já a Fabi começou e terminou aqui”, diz, referindo-se à filha Fabiane Veadrigo, hoje secretária de Agricultura.
Passados vários anos, depois de muita negociação, a escola voltou a pertencer à prefeitura. Em 1991, os irmãos Bolsoni fizeram uma doação ao município de quase meio hectare da colônia onde hoje fica o colégio. Devido à boa localização, a prefeitura ampliou a área de ensino para atender comunidades próximas.
Com o nome de Benjamin Constant, a escola hoje atende seis capelas: São Roque, Carmo, Restinga, São Vitor, Sete de Setembro e São Liberal. “O agrupamento se deu pela falta de demanda de alunos. Também não tem como manter em todos os lugares professores de Matemática, Português, Ciência para dez, doze alunos. Na época, o prefeito Alberto de Oliveira pôs transporte no interior, em um único local ficou mais fácil”, explica Bertinho.
Com a transferência, o segundo piso do salão da comunidade ficou desocupado e passou a receber apenas festas. Porém, o local prejudicava a realização de refeições. Então, a comunidade se uniu e, após decisão da maioria, o antigo salão foi demolido. Em seu lugar, foi construído um novo, mais moderno e amplo, de apenas um piso.
Da escola Benjamin Constant, os amigos têm apenas uma reclamação: o nome. “Eu acho que não tem nada a ver Benjamin Constant. Eu até tentei que fosse colocado, na época, o nome de Angelo Giusti, que era daqui. Ele é o grande poeta de Flores, então nada melhor do que homenageá-lo”, diz Donato. O desejo dos amigos virou proposta de um deles na Câmara de Vereadores: atuando como suplente, Bertinho Piccoli (Progressistas) indicou, na sessão de segunda-feira, dia 17, a troca do nome atual pelo de Giusti, compositor da música “La Mèrica”.
Salão que abrigava a escola, igreja e campanário: todos
construídos com o apoio e dedicação da comunidade.
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