Os agricultores estão mais conscientes no uso de agrotóxicos?
Muitos produtores estão vendo a oportunidade de inovar e investir na área dos orgânicos, deixando de lado os produtos químicos
Os agrotóxicos são produtos químicos que alteram a composição da flora e da fauna com o objetivo de evitar que doenças, insetos ou plantas daninhas prejudiquem as plantações. Mas, o que vem se debatendo, são os efeitos prejudiciais à saúde das pessoas e a alteração da lei de 1989, que flexibilizará o uso do agrotóxico. Conforme os dados do Censo Agropecuário 2017, mais de 1,5 milhão de produtores no Brasil utilizam agrotóxicos, um aumento de 20,4% em relação a 2006.
Conforme a chefe da Emater de Flores da Cunha, Clarissa de Quadros, os agricultores florenses têm uma cultura de utilizar muitos agrotóxicos sem monitorar as plantações para ver se é realmente necessário, ou não, o uso do produto. “Os agricultores vem de uma cultura de prevenção, então acabam utilizando mais do que o necessário. Mas aos poucos está havendo uma consciência que os agrotóxicos em demasia faz tanto mal pra saúde e meio ambiente, quanto para o bolso também”, ressalta.
De acordo com os dados da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Flores da Cunha, a campanha de recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos, contabilizou mais de 12 mil quilos de embalagens arrecadadas, 46% a mais que o ano anterior. A engenheira agrônoma da Secretaria de Agricultura, Tainara Gilioli, salienta que, pelo número de embalagens devolvidas, não é possível afirmar se houve, ou não, um aumento no consumo de agrotóxicos, mas sim, um aumento na conscientização dos agricultores para devolverem as embalagens, até porque a quantidade de agrotóxicos utilizada é variável com o clima, infestação de doenças, pragas e plantas daninhas. Conforme a agrônoma, o comprovante de devolução das embalagens é necessário para o agricultor obter qualquer licenciamento ambiental - corte de vegetação, abertura de açude, movimentação de terra - assim como para qualquer financiamento que ele queira acessar. “Não é possível afirmar que a quantidade utilizada de defensivos seja alta ou baixa. Certamente ainda não atingimos a totalidade dos agricultores com o recolhimento, mas acreditamos que como o agricultor está mais consciente na devolução das embalagens vazias ele deve estar mais consciente quanto à utilização responsável do defensivo agrícola”, afirma Tainara.
Redução em Nova Pádua
No município vizinho, a campanha deste ano somou 59 mil embalagens vazias de agrotóxicos, de 248 famílias, menos que no ano de 2017, onde totalizou mais de 65 mil embalagens. Conforme o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Samoel Smiderle, a diminuição do número de embalagens se resume a vários fatores. “Com um registro menor de pluviosidade na safra 2017/2018 houve também a diminuição no uso de agrotóxicos, além da campanha ter coincidido na mesma época de poda das parreiras, o que ocasionou a queda do número de participantes”, ressalta. Ainda segundo o secretário, para o próximo ano a data da coleta será o mês de julho onde os produtores possuem uma maior disponibilidade de tempo.
Cestas de saúde
Desde fevereiro Flores e região podem desfrutar de cestas 100% recheadas com produtos orgânicos. A nutricionista Heloisa Berton Bulla, 22 anos, é a responsável por montar e entregar as cestas com produtos variados e orgânicos. Conforme a empreendedora, a ideia surgiu a partir de uma cadeira de faculdade com o objetivo de ajudar as pessoas a ter uma vida mais leve e saudável, mesmo na rotina corrida do dia a dia. “Aqui em Flores ainda é pouca a oferta de produtos orgânicos, o que se torna caro. A Verde Puro tem uma parceria bem forte com a Cooperativa Econativa de Ipê, onde há variedades de produtos e o preço é acessível”, conta Heloisa. Na cidade, a nutricionista tem parcerias com alguns agricultores de uvas e mirtilos orgânicos, mas apenas nas épocas de safra. Ela ressalta que tem dificuldade de encontrar outros produtos com a certificação orgânica.
Os produtos orgânicos são todos alimentos na sua forma mais pura, da maneira que a natureza nos oferece. Para um alimento ser considerado orgânico ele deve ser produzido sem o uso de agrotóxicos, sementes transgênicas e respeitando um sistema de produção que não agride o meio ambiente. Heloisa ressalta a importância do consumo do orgânico, que é riquíssimo em diversos nutrientes importantes. “Os orgânicos possuem mais antioxidantes que protegem as células sadias contra a ação oxidante dos radicais livres, como o envelhecimento precoce e até mesmo o câncer” enfatiza.
Para um futuro próximo, novidades como mix de folhas e vegetais limpos e cortados estão no planejamento da empreendedora que vê o mercado crescendo constantemente.
Objetivo de vida
“É muito difícil começar. Mas não tenho dúvidas que o cultivo orgânico é um futuro que prospecto para minha propriedade”. A opinião é do produtor de Nova Roma, Rudinei Antonio Giotto, 36 anos, que já colhe uvas produzidas no método orgânico há sete anos – contando com o período de conversão e certificação são mais de 10 anos de mudanças na rotina e no modo de trabalho. Rudinei tem nas raízes da família a viticultura, mas percebeu que o trabalho poderia ser diferente, agregando na renda da família e, especialmente, na saúde. “Comecei a investir em produção orgânica pela ideologia e também por causa dos malefícios dos agrotóxicos. Muita gente me chamou e ainda chama de louco, mas acredito neste sistema e tenho planos futuros que envolvem certamente o orgânico. Podemos mudar as variedades de uvas, e até as culturas, mas não abrimos mais mão do nosso método de trabalho”, conta o jovem.
Começou aos poucos, com 0,3 hectare de parreirais na variedade Bordô. Com o passar dos anos, foi ampliando as áreas de forma controlada e conforme a disponibilidade da família. Hoje são quase 5 hectares nas uvas Bordô, Isabel e Niágara, que neste ano produziram mais de 76 mil quilos de uvas destinadas para a elaboração de suco em uma cooperativa a qual a família é associada. “Vendemos nossa uva com um valor cerca de 60% maior do que as uvas produzidas da forma convencional, então sim, o orgânico é lucrativo, mas, sobretudo, a qualidade do trabalho, eliminando insumos químicos e entendendo melhor como funciona o solo, a planta, e o clima, torna a agricultura muito melhor. Não temos como comparar nossa qualidade de vida antes e depois do orgânico”, valoriza o produtor.
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