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O transporte intermunicipal pede passagem

Mais horários de ônibus entre Flores da Cunha e Nova Pádua e que o ponto de embarque e desembarque continue funcionando como tal, são as principais reivindicações dos passageiros à Expresso Caxiense

Se lá fora cidades como Copenhague, Paris, Hong Kong, Seul, Nova York e Berlim são consideradas exemplos de investimento em mobilidade urbana, uma vez que conseguiram oferecer alternativas tanto para quem reside nas áreas centrais quanto para moradores dos bairros mais afastados; seja por meio de ciclovias que interligam o munícipio, metrôs ou trens que atravessam a cidade, e linhas de ônibus que aproximam as pessoas de seus destinos; aqui o cenário é bem diferente. 
Mesmo que o ônibus continue sendo o meio de transporte público mais utilizado pelos brasileiros, o aumento consecutivo dos combustíveis, do valor das passagens, dos pneus e das peças de manutenção, além do surgimento dos aplicativos de transporte, tem ocasionado uma queda no número de usuários do transporte coletivo e agravado o setor, o que é notório, também, entre os passageiros que fazem o itinerário Flores da Cunha x Nova Pádua e Nova Pádua x Flores da Cunha, principalmente após a Expresso Caxiense ter diminuído a oferta de horários à comunidade. 
Conforme o site da empresa, atualmente as linhas disponíveis para Flores da Cunha x Nova Pádua são às 11h40min e às 17h25min, de segunda a sexta-feira, aos sábados existe apenas um horário, às 11h55min. Já o itinerário Nova Pádua x Flores da Cunha é percorrido às 6h30min e às 12h30min, também de segunda a sexta-feira. Aos sábados, o único horário é às 7h e, aos domingos, não há linhas disponíveis. 
Essa restrição de horários tem gerado transtornos para quem precisa utilizar o ‘transporte carinhoso’ diariamente. Este é o caso da cuidadora de idosos Osane da Silva, de 44 anos: “Hoje eu cuido de uma senhora, mas eu pretendo trabalhar em uma fábrica e já perdi quatro oportunidades de emprego em empresas boas por causa dos horários da Caxiense. Como o ônibus sai às 17h25min daqui de Flores da Cunha, nessa hora nós estamos sendo liberados das empresas e mesmo elas tendo ônibus que levam até o Centro, não dá tempo. O ideal seria que tivesse um às 18h e outro por volta das 16h30min, porque antes tinha, aí ninguém reclamava. Tem gente que trabalha como doméstica e sai mais cedo; o comércio e as empresas saem mais tarde”, revela.
A moradora do Travessão Alfredo Chaves explica que a pouca disponibilidade de horários no fim do dia também dificulta o deslocamento de sua filha, Camily Vitória, de 16 anos, que estuda pela manhã e trabalha à tarde: “Para ela é bem complicado fim da tarde, tenho que pedir para o meu marido sair mais cedo para dar carona para ela, é um transtorno e ela também perdeu um trabalho de menor aprendiz em uma empresa grande daqui, com chance de crescimento, por causa do horário de ônibus. É difícil porque a gente precisa trabalhar e dependemos da Caxiense”. 
Por outro lado, a alteração do horário da manhã para às 6h30min foi vista com bons olhos por Osane: “Para mim ficou ótimo porque eu tenho que chegar no trabalho antes das 7h30min e até se trabalhasse em uma empresa seria bom, porque daria tempo de chegar no início do horário de trabalho deles ou de pegar o ônibus da empresa no Centro”, afirma, acrescentando que muitos não gostaram dessa mudança, mas que, então, poderiam ser mantidos os dois horários (6h30min e 7h) ou, quem sabe, criado um mais na metade da manhã. 
Essa segunda opção seria a ideal para a aposentada Eni Stuani Bresinski, de 64 anos, também moradora do Travessão Alfredo Chaves. Para ela a solução seria o retorno  dos antigos horários ou a criação de novos, mais espaçados: “Está péssimo! Tinha dois horários de manhã, dois de meio dia, um perto das 16h, um às 18h, tiraram tudo. Agora tem só um de manhã e trocaram das 7h para às 6h30min; é ruim porque é muito cedo, tanto de manhã quanto no início da tarde. Eu evito vir de ônibus, só mesmo se precisa, não tem condições. Seria bom que voltasse a ter mais opções, por volta das 16h para mim era ótimo. O pessoal que trabalha aqui tem que vir de carro, não dá para vir de ônibus por causa do horário, 17h25min sai daqui e o pessoal trabalha até às 19h, 18h30min”, destaca, acrescentando que alguns professores que residem em Alfredo Chaves e no Travessão Martins também dependem desse ônibus e acabam sendo prejudicados. 
Outro aspecto levantado pela aposentada foi o fato de os veículos não pararem em frente ao ponto de embarque e desembarque em Flores da Cunha – desde janeiro deste ano o local de informações e venda de passagens passou a ser na Casa do Pano, junto à na Rua Júlio de Castilhos (próximo à Praça do Hospital) – e sim em frente ao Bazar da Upeva, distante mais de meia quadra. “O ônibus para lá na esquina e não aqui na frente. Em dias de chuva, de frio, no inverno, onde é que a gente vai ‘se salvar’? Ali embaixo não tem muito coberto onde para o ônibus, é complicado. Isso é péssimo!”, ressalta. 
As entrevistas foram realizadas pelo Jornal O Florense nos dias 12 e 14 de junho. Nas datas ainda era possível observar a situação, conforme abordado pelos amigos Felipe Augusto Leal Czekalski e Ariel Zenatto Zanatta, ambos de 15 anos, que também relataram acreditar que seria melhor se os ônibus parassem mais próximos à loja: “Às vezes esperamos aqui dentro da Casa do Pano, outras não, depende se tem lugar. Os ônibus costumam parar ali na esquina, mesmo em dias de chuva e frio”, revelam os paduenses que vem a Flores da Cunha, no mínimo, uma vez por semana. 
Por aqui, os jovens fazem cursos de Design Gráfico e Informática Básica, respectivamente, mas após serem liberados da aula precisam ficar esperando mais de duas horas para voltar a Nova Pádua: “A gente vem para Flores da Cunha com o ônibus das 12h30min, chegamos por volta das 13h. O curso acaba às 15h, é cedo, então se tivesse como voltar antes seria melhor, não precisaria ficar esperando”, relatam os estudantes. 

Qual é o ponto de embarque e desembarque?

Desde janeiro deste ano a Casa do Pano funciona – ou deveria funcionar – como ponto de embarque e desembarque de passageiros da Expresso Caxiense, bem como sala de espera, informações e venda de passagens. De acordo com a proprietária do empreendimento, Elaine Ferreira, de 36 anos, por vezes é possível ouvir reclamações de passageiros em relação aos poucos horários disponíveis para os itinerários Flores da Cunha x Nova Pádua e Nova Pádua x Flores da Cunha. 
“No meu ponto de vista também acho que seria importante ter mais horários. Mas também vejo pela visão da Caxiense: não tem tantos usuários. Os que relatam o problema são dois, três, uma semana usam o serviço, outra não, então eu também entendo o que está impedindo de colocar mais horários. Isso acaba fazendo com que não seja viável para a Caxiense disponibilizar um ônibus para, daqui a pouco, estar levando duas ou três pessoas, mas, claro, a gente sempre busca melhorias”, declara Elaine, mostrando-se preocupada com os usuários do transporte intermunicipal.  
A proprietária também aborda a questão da mudança de local da sala da Expresso Caxiense, de acordo com ela, os retornos em relação ao novo espaço estão sendo positivos: “A gente atende muitas pessoas que vem fazer visita ou pernoitar no hospital para cuidar dos doentes, eles valorizaram essa mudança, afinal, muitos passam a noite, se desgastam, e aqui ficou mais próximo. É um local de fácil acesso, não ficou distante do Centro, quem não sabe onde é a gente indica que é perto da praça do Hospital e a pessoa acha, a gente também colocou – com a ajuda da Caxiense – a placa, que está bem visível para auxiliar na identificação”, enfatiza Elaine, acrescentando que a questão de localização também ficou estratégica para os ônibus fazerem a nova rota (devido às alterações após a implantação do sistema binário de trânsito no município). Além disso, a Casa do Pano conta com os mesmos serviços que a Expresso Caxiense disponibilizava no antigo endereço e, ainda, estimula novos clientes no comércio de itens de cama, mesa, banho e produtos de limpeza. 
Se por um lado o novo ponto está tendo boa aceitação, por outro, um problema vem se arrastando há quase seis meses, desde a instalação da sala: a parada do ônibus. Os dias quentes e secos faziam com que a situação passasse quase que despercebida aos olhos da maioria. Agora, com a chegada do frio rigoroso e chuvas abundantes, o fato de os ônibus não pararem em frente à loja – onde deveria ser o ponto de embarque e desembarque –  ganhou uma proporção maior. 
“Os usuários, que são os que mais necessitam, são os mais prejudicados, e a gente sempre deve estar buscando melhorias para eles. A parada está sendo distante do ponto de venda de passagens, seria mais seguro se os ônibus parassem aqui na frente, dava para as pessoas se abrigaram da chuva e do frio”, explicou a empresária ao Jornal O Florense, em entrevista realizada nos dias 12 e 14 de junho, completando que essa situação estaria acontecendo devido ao fato de alguns vizinhos serem contrários aos ônibus pararem nas proximidades.  
Diariamente cerca de 200 pessoas circulam pela Casa do Pano para utilizar os serviços da Expresso Caxiense. Conforme Elaine são 26 horários de ônibus e, em média, de 8 a 10 pessoas por horário, mas ‘nos que se cruzam’ (chega o carro de Antônio Prado e sai o de Caxias do Sul, por exemplo) o número dobra. “São 20 pessoas naquele horário para embarque e desembarque, aí no dia que está chovendo, se as pessoas estão aqui dentro elas conseguem se abrigar, agora ali na calçada, perto da esquina, acabam se molhando. Está horrível a situação”, enfatiza, acrescentando que há poucos dias havia tido uma uma reunião com a administração municipal para definir o futuro do ponto de embarque e desembarque.
Em contato com a proprietária nesta segunda-feira, dia 19, fomos informados que: “O prefeito, sempre pensando no melhor para os passageiros e munícipes, optou em mudar para a frente da loja o local de embarque e desembarque, tornando mais protegida e segura a espera”, pontuou Elaine, acrescentando que, desde então, o feedback dos usuários tem sido positivo e que segue empenhada, junto à administração, para buscar o melhor aos clientes. 
Desde o último sábado, dia 17, a Casa do Pano ampliou o horário de atendimento:  de segunda a sexta-feira, das 6h à 19h, sem fechar ao meio dia. E aos sábados, das 7h às 17h.

O que cabe à administração?

A fim de verificar o que cabe à administração municipal no sentido de intervir junto à Expresso Caxiense para a criação de novos horários de ônibus que contemplem os itinerários Flores da Cunha x Nova Pádua e Nova Pádua x Flores da Cunha, bem como no que diz respeito a utilização da Casa do Pano para ponto de parada de ônibus, a prefeitura de Flores da Cunha informou ao Jornal O Florense, no dia 16: “Em que pese, a responsabilidade direta sobre o transporte intermunicipal não ser de competência da administração municipal, uma vez que é administrada e controlada por órgão estadual, a prefeitura de Flores da Cunha, através da Secretaria Municipal de Segurança, Transportes e Mobilidade, preocupada com o cidadão florense que usa o serviço vem, nos últimos dias, debatendo com a empresa Caxiense sobre o assunto, no intuito de encontrar alternativas de melhorias para o usuário em todos os sentidos. A pauta sobre o local de venda de passagens e parada de ônibus está sendo discutida e deverá ter um desfecho nos próximos dias. As demais demandas trazidas e destacadas serão colocadas na pauta de debates e discussões contínuas que estamos tendo com as partes interessadas. Importante destacar que a Expresso Caxiense tem se mostrado parceira e solítica nas solicitações feitas por nossa prefeitura, e junto com a empresa e o poder legislativo municipal estamos procurando as melhores soluções para os problemas que se apresentam, pensando primeiramente no bem-estar do usuário do transporte intermunicipal, que é nosso cidadão”, declarou o secretário de Segurança Pública, Transportes e Mobilidade, Emerson Ubirajara de Souza. 
Na última terça-feira, dia 20, em contato com a administração municipal sobre o ponto de embarque e desembarque fomos informados que: “Em razão dos dias de frio e chuva, ainda de forma provisória, desde sábado passado, dia 17, foi feita a devida sinalização (pintura do meio-fio e colocação de placa) para que os ônibus façam sua parada em frente ao local de venda das passagens. Foi realizada ampliação do espaço interno e aumento de cadeiras no interior do ponto para as pessoas esperarem com mais conforto o transporte. Banheiro disponível para os usuários e disponibilidade de itens para lanches rápidos no interior do estabelecimento”, além das medidas emergenciais de ampliação do horário de atendimento. 
O prefeito de Nova Pádua, Danrlei Pilatti, se manifestou a respeito da necessidade de criação de novos horários de ônibus para os itinerários Flores da Cunha x Nova Pádua e Nova Pádua x Flores da Cunha: “Essa demanda não chegou até o conhecimento do Poder Público de Nova Pádua. Por hora, a empresa Expresso Caxiense presta um bom serviço de transporte aos munícipes paduenses”, pontuou o chefe do Executivo.

A Caxiense

Em contato com a Expresso Caxiense pelo (54) 3211 8300, com Guilherme, o Jornal O Florense foi orientado a acionar o SAC pelo 0800 881 0144. Ao ligarmos para o SAC fomos atendidos por Danila, por meio do protocolo número 387732, que nos informou que deveríamos entrar em contato com o setor de ‘Garagem’ para dúvidas referentes a matéria, utilizando o mesmo telefone anterior. Em relação a reclamações ou sugestões de horários, sua orientação foi que as mesmas fossem registradas pelos próprios passageiros junto à Central de Atendimento, para que assim fosse verificado o que poderia ser feito a respeito. Na sequência entramos em contato novamente com a empresa pelo (54) 3211 8300 e conversamos com Benet, explicando a situação, o mesmo afirmou que verificaria com seu supervisor. Conforme combinado retornamos a ligação e, após conversa com seu superior, Eduardo nos atendeu e relatou “o que foi passado para mim é que a gente não dá declaração para a imprensa”, completando que hoje não há ninguém dentro da empresa que possa responder aos meios de comunicação e desculpando-se por não poder auxiliar.

Até a última sexta-feira, dia 16, os ônibus da Expresso Caxiense estavam parando na esquina, próximo ao Bazar da Upeva. - Karine Bergozza
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